‘Lenços dos Namorados’ e Clara Não lutam contra a violência

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[Fotografia: Instagram clara.nao]

O canal televisivo Fox criou uma ação de sensibilização intitulada O São Valentim Que Nos Perdoe, cujo objetivo é alertar para a violência no namoro, especialmente no Dia dos Namorados.

A este projeto junta-se Clara Não. A jovem ilustradora, artista, designer e tantas outras coisas é uma ativista pela igualdade de género e aborda temáticas bastante sensíveis através da arte. Neste projeto, Clara fez um “Lenço dos Ex-Namorados”, uma alternativa aos famosos “Lenços dos Namorados”.

Os Lenços dos Namorados são uma peça de artesanato e vestuário típico da região do Minho, sendo usado por mulheres com idade de casar. A tradição diz que a rapariga apaixonada deve bordar o seu lenço e entregá-lo ao seu amado quando este se fosse ausentar.

Em entrevista ao Delas.pt, Clara explica que “a ideia é pegar em algo muito próximo dos portugueses, como os ‘Lenços dos Namorados’ e transformá-los através dessa proximidade, numa consciencialização”.

No âmbito desta iniciativa foram desenvolvidas 21 peças únicas com frases inéditas, bordadas à mão pela Associação a Avó Veio Trabalhar e que contam com a participação da artista como autora de um deles.

“Toda a gente sabe que o Dia de São Valentim é de muito do amor, mas o que as pessoas não falam é de quando o amor corre mal e afinal não era amor”, confessou.

Ao escolher a frase “ele/ela foi violento/a comigo, mas eu mereci” e uma segunda parte que diz “não, não mereceste!, Clara diz que se baseou nas conversas que ia tendo com as amigas e pessoas próximas.

“O que reparo muitas vezes é que as vítimas estão a mostrar que o namorado/a ou o ex-namorado/a foi mau/má para elas, mas o que elas fazem logo de seguida é dizer ‘mas eu…’, para se culpabilizarem de alguma coisa”, explicou ao Delas.pt, acrescentando que “nada justifica controlar a vida de outra pessoa ou levar uma chapada”.

O estudo publicado o ano passado intitulado Violência no Namoro 2019 e elaborado pela União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR) com o apoio da secretária de Estado para a Cidadania, Rosa Monteiro, revela que 58% dos jovens que namoram ou já namoraram reportam já ter sofrido de violência por parte do atual ou do ex-companheiro. Por outro lado, 67% dos jovens considera natural alguns dos comportamentos de violência.

Clara Não acha que “a violência, de certa forma, está tão normalizada especialmente os ciúmes, – tanto nos media e nas telenovelas – que acham que é normal uma das pessoas da relação querer saber a toda a hora onde está a outra e isso não está bem”.

Na opinião da jovem de 26 anos, “a polícia não está preparada para esses casos porque consideram que são casos menores”. Para a ilustradora, a falta de casos reportados às autoridades deve-se ao facto de que “as pessoas que estão em relações abusivas amam extremamente a pessoa com quem estão e então é um duelo psicológico muito grande e acabam por não fazer queixa porque não querem magoar alguém que amam”.

De forma a chamar a atenção dos portugueses para a crescente legitimação das relações abusivas entre os jovens, os “Lenços dos ex-namorados” vão estar em exposição na loja da Fnac, no Centro Comercial Colombo a desde 5 até 16 de fevereiro. Para além disto, vai decorrer ainda uma conversa esta quarta-feira, 5 de fevereiro, no mesmo local da exposição, e conta com a participação de Clara Não, Diogo Faro (humorista), Inês Lopes Gonçalves (humorista, locutora e apresentadora), Eduardo Sá (psicólogo), Daniel Cotrim (psicólogo da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima) e Paulo Farinha (moderador da conversa).

[Fotografia: DR]