Tatiana Bongonga: a mulher que vai abrir as Festas de Lisboa a 35 metros de altura

O espetáculo que se segue pode não ser recomendável para quem sofre de vertigens. É meia hora de pura adrenalina que se espera no final de dia deste sábado, 1 de junho, pelas 19h30, na abertura oficial das Festas de Lisboa na Alameda. É a primeira vez que as festas preferidas dos lisboetas não abrem com um concerto, mas sim com funambulismo, a arte performativa que envolve caminhar a uma certa altura do chão, com apenas uma vara a auxiliar o equilíbrio.

Tatiana-Mosio Bongonga é a mulher que todos vão ver no ar, a caminhar sobre um cabo de 300 metros suspenso sobre a Fonte Luminosa, na Alameda. O percurso começa a 20 metros do chão e sobe até aos 35. Tatiana não tem rede de apoio, apenas 60 ajudantes a garantirem a estabilidade da corda, mas não está preocupada. Afinal, treina desde os oito anos.

Foi com esta idade que viu pela primeira vez uma mulher funambulista a caminhar a muitos metros de altura, num espetáculo da sua cidade-natal, na Normandia. “Perto de minha casa havia uma escola pequena em que se aprendia a caminhar na corda e a minha mãe incentivou-me a ir”, conta a artista. “Foi difícil ao longo dos anos os meus pais verem-me a escolher o funambulismo como profissão. Mas confiam em mim. Eu cresci a fazer isto”, explica.

Na sua família, ninguém tinha particular curiosidade por esta arte performativa, mas o pai parece ter sido uma boa influência musical. “O meu pai é apaixonado por música e produz, mas para ele”, revela. Talvez por isso, a música seja uma grande parte do espetáculo de Tatiana e da companhia Basinga, que fundou em 2014 com o belga Jan Naets.

Da companhia Basinga faz parte, não só a artista, mas também toda a equipa técnica e ainda três músicos, que tocam em todas as suas performances. “Para mim é a melhor parte porque eu sigo a música, que alterna entre jazz, gospel e outras influências. E quando estamos em diferentes cidades, convidamos outros grupos a juntarem-se a nós”, diz.

Em Lisboa, a funambulista será acompanhada por 20 elementos da Banda da Armada durante o espetáculo chamado Linhas Voadoras, que já executou em Paris, em Montmartre. Não é, no entanto, a primeira vez que a jovem atua em Portugal: o Festival Todos já a trouxe anteriormente à capital, assim como o Festa em Serralves a levou ao Porto. Este é o seu trabalho hoje em dia: viajar pelo mundo com a Basinga.

 

Na verdade, Tatiana podia hoje ser psicóloga. Foi este o curso que escolheu tirar, já depois de sair da Normandia para o sul de França, onde estudou funambulismo e aprendeu diferentes truques em cima da corda. “Na faculdade fiz uma pequena pausa no funambulismo, mas percebi que tinha de fazer desporto para manter uma mente sã. Acabei por voltar a estudar esta arte e integrei depois uma escola maior e mais especializada, a Ecole Supérieure de Arts du Cirque of Châlons-en-Champagne“.

Apesar de admitir que não existem muitas mulheres nem homens nesta difícil profissão, a artista recusa-se a ser posta num pedestal. “Eu não sou excecional, esta é a minha paixão e eu treinei muito para melhorar. Mas qualquer pessoa que consiga andar, consegue andar na corda. Quando somos bebés, aprender a andar é um desafio. É possível: Se conseguires andar no chão, consegues andar no cabo. O mais difícil é aprender os truques e procurar depois novos movimentos no cabo”, acrescenta.

Com 15 anos de experiência, a funambulista confessa não planear todos os movimentos que executa no ar, pois é apenas no momento que sente o que deve fazer. “Às vezes queremos fazer muitos truques, mas o corpo não consegue executá-los e se insistirmos podemos ter um acidente. Há dias em que és uma rainha e outros és só normal”, começa por contar Tatiana, prosseguindo: “No início, queria ser a melhor e depois percebi que isso não era importante. O importante era manter-me viva e aproveitar. Eu quero partilhar o show com o público e com a minha equipa, não quero estar ali em cima só no meu mundo”, diz a artista que já caminhou a 55 metros de altura. O céu é o limite.

 

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