A escritora norte-americana Louise Gluck distinguida esta quinta-feira, 8 de outubro, com o Nobel da Literatura, pela “inconfundível voz poética”, tem 77 anos e uma obra repartida entre a poesia e o ensaio, inédita em Portugal.
Nascida em 1943 em Nova Iorque, Louise Gluck fez a estreia literária em 1968, pouco depois dos vinte anos, com “Firstborn”, o primeiro de doze livros de poesia, aos quais se juntam alguns ensaios sobre poesia. Em 2016, foi condecorada pelo então presidente Barack Obama.
De Louise Gluck existe um poema traduzido para português, “O Poder de Circe”, incluído na coletânea Rosa do Mundo – 2001 Poemas para o futuro, editado pela Assírio & Alvim (2001).
É considerada pela Academia Sueca “uma das mais relevantes poetas da literatura norte-americana contemporânea”, que recorre a mitos e figuras clássicas para escrever sobre a infância, a família e a morte. A academia aponta ainda uma proximidade literária a Emily Dickinson e elogia-lhe a capacidade de chegar ao individual a partir de temas universais.
Na poesia de Louise Gluck é-lhe ainda reconhecida sensibilidade, expressividade, uma linguagem poética precisa e uma vontade em ser compreendida pelo leitor.
Atualmente a viver em Cambridge, Massachussetts (EUA), Louise Gluck é professora de língua inglesa na Universidade de Yale e soma vários prémios literários, entre os quais o Pulitzer, conquistado em 1993 com a obra The Wild Iris.
Tem ainda publicados, entre outros, “The Garden” (1976), “Vita nova” (1999), “Averno” (2006) e “Faithful and Virtuous Night”, a mais recente obra poética, de 2014 e que lhe valeu o prémio National Book Award, nos Estados Unidos.
No poema “O Poder de Circe”, traduzido por José Alberto Oliveira para a “Rosa do Mundo”, coletânea organizada pelo editor Manuel Hermínio Monteiro, Gluck escreve: “Nunca transformei ninguém em porco. Algumas pessoas são porcos; faço-os parecerem-se a porcos. Estou farta do vosso mundo que permite que o exterior disfarce o interior”.
Gluck alude à deusa da ilha de Eana e aos seus poderes, que conhece venenos e encantamentos, dons de transformação, a feiticeira que, na Odisseia, aprisiona os soldados de Ulisses, no corpo de porcos: “Pensas que algumas lágrimas me perturbam? Meu amigo, toda a feiticeira tem um coração pragmático; ninguém vê o essencial que não possa enfrentar os limites”.
Em 2019, a Academia Sueca anunciou a atribuição de prémios Nobel da Literatura à escritora polaca Olga Tokarczuk [de quem a editora Fábula está a editar o livro A Alma Perdida], e ao austríaco Peter Handke, referentes a 2018 e 2019, respetivamente, depois de um ano de pausa na sequência de um escândalo sexual e crimes financeiros dentro da academia.
Este ano a atribuição do Prémio Nobel fica marcada pelo cancelamento da tradicional cerimónia presencial de entrega dos galardões, agendada para 10 de dezembro em Estocolmo (capital sueca), pela primeira vez desde 1944 (durante a Segunda Guerra Mundial).
Por causa da pandemia causada pelo novo coronavírus, a solução encontrada foi a realização de uma cerimónia quase inteiramente ‘online’, à exceção de uma reduzida plateia que estará no edifício da câmara de Estocolmo.
Atribuído pela primeira vez em 1901, o Nobel da Literatura só distinguido uma única vez um autor em língua portuguesa, quando o escritor português José Saramago recebeu o prémio em 1998.
Lusa