Louvre já tem Josefa de Óbidos e espera ampliar coleção portuguesa

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Fotografia de Charles Platiau/Reuters

O quadro ‘Maria Madalena confortada pelos Anjos’, de Josefa de Óbidos (1630-1684), foi esta quinta-feira afixado numa das salas do Louvre e o museu espera que esta doação motive outras de telas portuguesas, disse à Lusa o conservador Guillaume Kientz.

A tela, doada pelo galerista português Philippe, foi afixada esta manhã ao lado de uma natureza morta de 1645 do pai da artista, Baltazar Gomes Figueira (1604-1674), e de um quadro do espanhol Francisco de Zurbarán, numa pequena sala onde também está uma obra de Diego Velasquez, junto à longa galeria de pintura espanhola.


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“Portugal é um dos eixos de desenvolvimento do Museu do Louvre e esperamos que esta doação motive, brevemente, outras doações e que cada vez mais possamos fazer reconhecer o grande interesse da pintura portuguesa no Museu do Louvre”, afirmou Guillaume Kientz à Lusa, no dia em que o quadro de Josefa de Óbidos foi transferido para uma das salas de exposições do museu e em que se ouviu português entre os trabalhadores encarregues de afixar a obra.

O conservador do Louvre encarregue da coleção de pintura espanhola, portuguesa e latino-americana sublinhou que “a coleção portuguesa do Louvre é ainda muito reduzida”.

“Com a chegada de Josefa de Óbidos é apenas o terceiro quadro que vem apresentar ao público vindo de todo o mundo a escola portuguesa no Museu do Louvre”, disse.

Antes de “Maria Madalena confortada pelos Anjos”, o Louvre expunha uma natureza morte de Baltazar Gomes Figueira e uma “Alegoria da Fundação da Casa Pia de Belém” de Domingos António Sequeira.

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Quadro “Maria Madalena confortada pelos Anjos”, de Josefa de Óbidos
“Para nós, é um evento extremamente importante porque permite desenvolver esta coleção, desenvolver a universalidade e o caráter enciclopédico do Museu do Louvre e desenvolvê-la de uma grande forma porque Josefa de Óbidos não apenas é a pintora mais importante do século XVII português como este quadro é uma das suas melhores produções, como foi reconhecido numa exposição recente organizada no Museu Nacional de Arte Antiga de Lisboa”, acrescentou Guillaume Kientz.

O conservador acrescentou que “o Louvre está habituado a receber doações de obras de arte regularmente” e que a doação de um quadro de Josefa de Óbidos foi “uma boa notícia e também uma surpresa porque é uma artista em França ainda muito pouco conhecida”, sublinhando que “não há nas coleções públicas francesas mais nenhum quadro de Josefa de Óbidos”.

A tela foi doada ao Louvre pelo galerista português Philippe Mendes, que arrematou, no ano passado, a pintura por 269 mil dólares (238.615 euros), num leilão da Sotheby’s, em Nova Iorque, sentindo hoje “orgulho e um certo entusiasmo” por “defender e divulgar a arte portuguesa”.

“É importante para Portugal, para a cultura portuguesa, para a sua divulgação a nível internacional e também tenho que acrescentar que é importante para o Museu do Louvre que fica hoje mais rico com uma pintura de grande qualidade e uma pintura portuguesa. Também é importante para a Josefa de Óbidos porque reencontra hoje aqui em Paris o seu pai, Baltazar Gomes Figueira”, disse o galerista à Lusa.

Philippe Mendes destacou que “a aventura vai continuar” e que há outros projetos em curso em que foram reunidas “várias forças portuguesas aqui em Paris”: “Acho que vamos com grande entusiasmo chegar um dia, quem sabe, a uma sala de pintura portuguesa no Louvre.”

Para “festejar” a entrada do quadro de Josefa de Óbidos no Louvre, o português expõe, a partir de hoje, na sua galeria de Paris, Galeria Mendes, uma mostra da faiança portuguesa do século XVII, que vai estar patente até 30 de janeiro e que se chama “Um século a branco e azul – As artes do fogo em Portugal no século XVII”, uma parceria com Mário Roque, da galeria São Roque, em Lisboa.

Philippe Mendes criou, em março, a associação Luso Património, empenhada em restaurar obras do património português, tendo angariado fundos para restaurar dez esculturas do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) e tendo estado na origem da oferta ao MNAA de uma escultura do século XVIII, “Coroação da Virgem”, de Joaquim José de Barros Laborão (1762-1820).