Lucy Dacus: “A música não foi algo que alguém me deu. Encontrei-a”

Filha de uma pianista, Lucy Dacus, de 24 anos, começou a estudar música e a compor as suas canções quando desistiu de estudar cinema. Sempre acompanhada pela viola, abraçou o estilo indie e em 2016 lançou o primeiro álbum, No Burden. No ano passado seguiu-se Historian, também muito aclamado pela crítica.

No sábado, último dia de NOS Primavera Sound, regressou a Portugal, depois de no ano passado ter atuado no Vodafone Paredes de Coura. Com o concerto a acontecer ao mesmo tempo que os espetáculos de uma banda e de uma cantora que admira, a norte-americana natural de Richmond, na Virginia, receava que ninguém aparecesse para o seu espetáculo. Ainda assim teve uma audiência composta e com muita gente a cantar as suas músicas na primeira fila.

Começou por estudar cinema. Por que acabou por decidir seguir uma carreira na música?

Estudar na universidade de cinema era muito caro, então arranjei um emprego numa loja de fotografia e estudava música apenas como um hobbie. Comecei a compor, as pessoas começaram a ouvir e depois surgiram as tournées. Na verdade surgiu tudo de forma acidental.

Tem alguém na sua família ligado a esta área?

A minha mãe é pianista e professora de música no ensino básico. O meu pai não toca nada, mas adora música também. Eles nunca quiseram que seguisse música porque sabem que é difícil, que o sucesso é algo surreal e é mesmo assim. Não sei como cheguei até aqui, mas eles sempre me apoiaram.

Então foi através da família que nasceu a sua ligação com a música.

Sim, eles sempre me incentivaram a ouvir música enquanto crescia, mas não muita variedade, sinceramente. A minha mãe, por exemplo, ouvia muito Prince e o meu pai muito Bruce Springsteen. Costumava ir ao YouTube ou iTunes, pesquisar por apenas uma palavra e passar horas a ouvir todas as músicas que apareciam com essa palavra no nome. Descobri os Coldplay quando pesquisei pela palavra “yellow” [amarelo, em inglês]. Ou seja, a música não foi algo que alguém me deu. Encontrei-a.

Tem dois álbuns, todos eles com ótimas críticas. Qual é o segredo para fazer um bom disco?

Não sei, as pessoas têm gostos diferentes, mas para mim importa corresponder às minhas expectativas e não às dos outros.

Qual é a principal mensagem que pretende passar com as suas músicas?

Sinto que quero ser muito honesta com as pessoas. Muitas vezes a verdade pode ser destruidora, mas sinto que é o melhor. Temos de ser destruídos para que seja possível construir algo real.

Em que se costuma inspirar para fazer canções?

Ao início inspirava-me muito nas minhas viagens, na pessoa em que me tinha tornado e nas minhas paixões. Coisas simples. Depois comecei a inspirar-me na ideia de mortalidade e perda. É obscuro, mas é importante fazer músicas com base nisto mantendo a ideia de esperança.

Não é a sua primeira vez em Portugal. No ano passado esteve no festival Paredes de Coura. O que podemos esperar deste concerto no NOS Primavera Sound?

Vou estar a atuar ao mesmo tempo que os Big Thief e Tomberlin, por isso estou à espera que todos os vão ver e ninguém veja o meu concerto, mas é claro que fico feliz se ficarem para me ouvir. É um festival muito bom, com muita possibilidade de escolha.

O que mais gosta no público português?

Os festivais podem ser muito stressantes, mas já reparei que os portugueses são muito calmos, deixam as coisas fluir. Não costumo fazer generalizações de um país em que conheço tão pouca gente, mas acho que são muito generosos e fico sempre feliz quando isso acontece.

Lucy Dacus

O que conhece do Porto?

Ontem tive a oportunidade de comer muito bom peixe. Nunca toquei em Lisboa, mas é um dos locais mais bonitos que já vi. Gosto muito de Portugal.

Tem algumas peças de roupa da designer portuguesa Susana Bettencourt. A moda é importante para si?

Às vezes. Há dias em que só quero estar confortável com os meus pijamas, noutros preocupo-me imenso. Adoro vestir peças com as quais me identifico, mas estou longe de ser uma pessoa que se preocupa muito com aquilo que veste. Hoje estou a vestir uma t-shirt muito velha do meu pai. Neste caso não importa o design, mas sim a memória que está ligada àquilo que visto. Tento estar rodeada de coisas com significado, incluindo na roupa. Procuro que tudo na minha vida tenha uma história.

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