Luta climática. Mulheres devem ter mais poder de decisão, pede entidade

pexels-edmond-dantès-7103038
[Fotografia: Edmond Dantès/Pexels]

A organização intergovernamental União para o Mediterrâneo defende que as mulheres são dos grupos mais afetados pelas alterações climáticas e pede uma maior representação feminina nas mesas de decisão das próximas reuniões da ONU do clima, conhecidas como COP.

“As mulheres são, especialmente nos países em desenvolvimento, um dos grupos mais afetados pelas alterações climáticas”, disse, em declarações à Lusa, Anna Dorangricchia, perita em género e igualdade na União para o Mediterrâneo (UpM).

“Infelizmente, quando olhamos para painéis de discussão, as mulheres estão lá, mas quando olhamos para os países, que tomam as decisões finais na COP27, as mulheres são uma percentagem muito pequena. E isto é algo que eu gostaria de ver mudado nas próximas edições da COP”, acrescentou, numa conversa por videoconferência a partir do Egito, onde marcou presença na conferência da ONU do clima deste ano (COP27), cujas negociações para o documento final do encontro foram prolongadas até hoje.

Anna Dorangricchia sublinhou que seria importante, nestes fóruns, introduzir o tema do género e da situação das mulheres em todos os debates relacionados com as alterações climáticas, “mas para fazer isto há ainda um passo em falta, que é o do papel das mulheres nos cargos de decisão”.

As mulheres são dos grupos mais afetados, e dos primeiros afetados, pelas alterações climáticas e esta questão devia ser levada em conta quando se definem estratégias de mitigação dos efeitos das mudanças no clima, segundo defendeu Anna Dorangricchia.

A perita em género e igualdade da UpM chamou a atenção para o caso das mulheres que vivem em países em desenvolvimento e, sobretudo, em zonas rurais, para as quais a organização pede “esforços adicionais”.

“Quando falamos de mulheres em áreas rurais falamos de um contexto em que ir, simplesmente, de um local para outro é um desafio diário”, explicou, dizendo que está em causa, por exemplo, o acesso a mercados para vender produtos agrícolas.

Em países em desenvolvimento, como é o caso, na região euro-mediterrânica, de estados no norte de África e Médio Oriente, o cultivo de produtos agrícolas é assumido, em boa parte, pelas mulheres.

“Há elementos culturais, estruturais, de infraestruturas críticos” e, a par disto, as mulheres são nestes países e nestas regiões rurais quem lida com a segurança alimentar, com a biodiversidade, com os efeitos da desertificação, sendo “as primeiras afetadas pelas alterações climáticas” e, por isso, “é uma prioridade para a UpM”, disse Anna Dorangricchia.

A UpM é uma organização intergovernamental de 42 países da Europa e da bacia do Mediterrâneo: os 27 Estados-membros da União Europeia e 15 países parceiros mediterrânicos do norte de África, do Médio Oriente e do sudeste da Europa.

A organização foi criada em 2008, com vista a reforçar a Parceria Euro-Mediterrânica (Euromed) estabelecida em 1995 e conhecida como o Processo de Barcelona.

Os ministros responsáveis pela igualdade de género aprovaram no passado dia 26 de outubro em Madrid uma declaração para acelerar o reforço do papel da mulher na região euro-mediterrânica, aumentado a participação na vida política e empresarial.

A Conferência Regional de Alto Nível Sobre Mulheres para o Mediterrâneo, que se realiza de dois em dois anos e reuniu mais de 100 representantes e peritos internacionais, incluindo os ministros dos 42 Estados-Membros da UpM, acordou em melhorar os quadros jurídicos, o acesso das mulheres à liderança na vida pública e na tomada de decisões, aumentar a participação das mulheres na vida económica e combater e prevenir a violência contra as mulheres e raparigas.

A UpM assumiu compromissos que promovem a transição para o emprego formal das trabalhadoras, apoiam o empreendedorismo das mulheres, promovem a igualdade de género e modelos inclusivos de liderança, expandem o financiamento para ações ambientais que cheguem às organizações e empresas, e a adoção de leis que definem e criminalizam todas as formas de violência contra mulheres e raparigas, incluindo a ciberviolência.

Os ministros reconheceram que a igualdade de género na região euro-mediterrânica percorreu um longo caminho desde 2015.

De acordo com o primeiro Relatório de Progresso da UpM sobre igualdade de género, publicado em março de 2022, muitos países reforçaram quadros legais e desenvolveram novos programas e políticas a fim de aumentar a participação das mulheres nas esferas política, económica e social e de proteger as mulheres de todas as formas de discriminação e violência baseada no género.

LUSA