
A Universidade do Luxemburgo vai lançar um estudo sobre a influência dos imigrantes portugueses no desenvolvimento da linguagem dos filhos, um fator que pode condicionar o seu sucesso antes mesmo de chegarem à escola.
O projeto, que conta com um financiamento de 440 mil euros, vai acompanhar 70 crianças entre os 02 e os 03 anos de idade, durante dois anos e meio, disse à Lusa Ariana Ferreira Loff, que lidera a equipa de investigadores.
“Estas idades são cruciais para o desenvolvimento da linguagem e complementam outros estudos que estamos a fazer com crianças mais velhas, para termos uma imagem global desta população”, explicou a investigadora portuguesa, doutorada em Psicologia.
De acordo com Ariana Loff, estudos anteriores realizados noutros países demonstraram que as crianças são condicionadas pela “educação dos pais” e pelos estímulos que recebem antes mesmo de chegarem à escola, fatores que podem determinar mais tarde o seu sucesso escolar.
“As práticas literárias – contar histórias, ter livros em casa – são um grande preditor do sucesso escolar”, explicou, frisando que estes estímulos dependem em grande parte do estatuto socioeconómico das famílias.
Para os filhos de portugueses no Luxemburgo – muitos dos quais de meios socioeconómicos mais baixos –, a situação agrava-se pelo facto de o sistema de ensino prever o uso de três línguas (alemão, francês e luxemburguês).
“Poucos estudos exploraram estes fatores de risco e as suas interações no caso de crianças que falam uma língua minoritária”, sintetiza o resumo do projeto.
O estudo, intitulado OLAP (“Oral Language Development in Portuguese”), vai ser realizado em colaboração com as Universidades de Oxford e Harvard e com a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD).
A equipa de investigadores vai acompanhar crianças que falem português em casa, podendo incluir também cabo-verdianos ou brasileiros, esclareceu Ariana Loff, que continua à procura de voluntários.
Estão previstas entrevistas e sessões de observação das famílias de dez em dez meses.
A investigadora faz parte de um outro estudo, o projeto Polilux, criado para reforçar a língua materna de crianças portuguesas no ensino pré-escolar luxemburguês, uma condição para mais tarde aprenderem outros idiomas, defendeu Ariana Loff.
O projeto consiste em intervenções de 20 minutos, uma a duas vezes por semana, envolvendo histórias ou jogos em português, e os resultados preliminares “são muito promissores”, disse a investigadora, mostrando que “é importante uma base forte da língua materna para a aprendizagem de outras línguas”.
Para a investigadora, estes estudos podem vir a influenciar “as políticas educativas do Luxemburgo”.
“Sabemos que as crianças portuguesas têm dificuldades quando vão para a escola e que os pais têm um papel importante, e queremos poder ajudá-los”, explicou.