Má alimentação pode matar mais do que tabaco em Portugal, em sete anos

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[Fotografia: Pexels/Alex Green]

Em 2030 o número de mortes devido à alimentação inadequada deve ultrapassar as provocadas pelo tabaco em Portugal, que gasta 10% da despesa total destinada à saúde no tratamento das doenças derivadas do excesso de peso.

Os alertas constam do novo Programa Nacional de Promoção da Alimentação Saudável (PNPAS) 2022-2030 da Direção-Geral da Saúde apresentado esta sexta-feira, 3 de março, e que refere que o gasto da saúde com as doenças relacionadas com o excesso de peso equivale a 207 euros anuais por pessoa.

Segundo o documento, os 10% da despesa de saúde que o país dedica ao tratamento destas doenças é superior à média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (8,4%), valor que representa 3% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional.

As projeções para 2030 indicam também que, do total de mortes previstas, a percentagem atribuível a erros alimentares será de 13,8% e 12% ao excesso de peso e obesidade, “ultrapassando o tabagismo cuja percentagem projetada de óbitos atribuível será de 11,1%”.

O plano estima que entre 2020 e 2050 o excesso de peso e as doenças associadas possam vir a contribuir para uma diminuição da esperança média de vida em cerca de 2,2 anos.

“A alimentação inadequada é uma das principais causas evitáveis de doenças crónicas, perda de qualidade de vida e mortalidade prematura em Portugal. Estima-se que, nos próximos anos, a alimentação inadequada possa ultrapassar o tabaco no `ranking´ dos fatores de risco modificáveis que mais condicionam a carga da doença a nível nacional”, alerta ainda o documento.

A alimentação inadequada, uma das principais causas evitáveis das doenças crónicas não transmissíveis, como a obesidade, cancro, doenças cérebro-cardiovasculares e diabetes tipo 2, contribuiu para 7,3% dos anos de vida perdidos por incapacidade e para 11,4% da mortalidade em 2019.

Os dados agora divulgados sobre a alimentação dos portugueses indicam também que 76% da população portuguesa ingere sal acima do nível máximo tolerado e 24,3% tem um consumo de açúcares superior ao valor máximo recomendado pela Organização Mundial da Saúde, percentagem que é muito superior nas crianças (40,7%) e nos adolescentes (48,7%).

Além disso, 56% da população portuguesa não atinge o consumo diário recomendado de fruta e hortícolas, sendo a percentagem de “inadequação particularmente preocupante no grupo das crianças (72%) e dos adolescentes (78%)”.

De acordo com o documento, os alimentos ultra processados contribuem para cerca de 24% da ingestão energética diária total e 29% do consumo alimentar total diário é proveniente de um conjunto de alimentos que não estão incluídos na roda dos alimentos (bolos, doces, bolachas, snacks salgados, pizzas, refrigerantes, néctares e bebidas alcoólicas).

“A obesidade, enquanto doença crónica e simultaneamente fator de risco para o desenvolvimento de outras doenças, atinge 28,7% da população adulta portuguesa (cerca de dois milhões de pessoas), sendo que mais de metade da população apresenta excesso de peso (67,6%)”, sublinha ainda o documento da DGS.

O plano destaca também que a obesidade e outras doenças crónicas associadas à alimentação inadequada não atingem por igual todos os grupos da população, uma vez que dados disponíveis sugerem que a obesidade, diabetes e hipertensão arterial “afetam de forma desproporcionalmente as pessoas com maior vulnerabilidade socioeconómica”.

O PNPAS foi criado em 2012 como um programa de saúde prioritário e o documento agora divulgado integra as novas linhas de orientação estratégica desenvolvidas no contexto do novo Plano Nacional de Saúde 2021-2030.