Má divisão de tarefas domésticas puxa portuguesas para fim da tabela da Igualdade na Europa

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Portugal aparece em 16.º lugar no Índice da Igualdade de Género 2020, abaixo da média da União Europeia (UE), tendo evoluído 1,7 pontos percentuais desde 2017. Desde 2010, quando o Índice – iniciativa do Instituto Europeu para a Igualdade de Género (EIGE), agência da UE com sede em Vílnius, capital da Lituânia, e que pode ser consultado no original aqui – começou a ser publicado, Portugal subiu quatro posições na tabela, atualmente liderada por Suécia, Dinamarca e França.

Os melhores desempenhos de Portugal estão nas esferas da saúde (ainda que se situe apenas na 20.ª posição entre os Estados-membros) e do trabalho (na 15.ª posição).

As maiores desigualdades de género revelam-se em matéria de tempo (partilha de tarefas domésticas e de assistência à família), onde Portugal é mesmo o terceiro país a contar do fim da tabela.

Também em matéria de poder as desigualdades são grandes, mas, como o são na generalidade dos Estados-membros, aqui Portugal aparece em 13.º lugar. Ainda assim, o tempo e o poder são as esferas em que Portugal mais evoluiu desde 2010.

No que respeita à esfera de poder, Portugal é um dos seis países com legislação vinculativa sobre a igualdade de género nas empresas, mas ainda está abaixo da meta. Em 2017, Portugal adotou quotas para mulheres nas empresas públicas e cotadas em bolsa, e, num ano, a representação feminina nos conselhos de administração e órgãos de fiscalização subiu de 16,2% para 24,8%.

“A vontade política tem impacto. A política da igualdade nas administrações das empresas teve impacto nas decisões económicas”, analisa a lituana Jolanta Reingarde, investigadora e coordenadora de projetos no EIGE, em entrevista à Lusa via Skype.

A França é o único país da UE a ter mais de 40 por cento de mulheres nos conselhos de administração das empresas. Bélgica, Dinamarca, Alemanha, Itália, Holanda, Finlândia e Suécia rondam um terço de presença feminina.

Pandemia “ameaça” igualdade de género

Em entrevista à Lusa, a holandesa Carlien Scheele, diretora do EIGE desde fevereiro, reconhece que “a evolução tem sido muito lenta” na concretização da igualdade de género e o plano de recuperação para responder à pandemia “falha” nessa perspetiva. “Uma das razões para a evolução lenta é que muitas vezes é difícil integrar completamente a perspetiva de género nas políticas”, observa.

Sublinhando que a atual pandemia representa “uma ameaça” à igualdade de género, a responsável assinala a “falha” do plano de recuperação europeu em integrar a perspetiva de género na resposta ao impacto da covid-19.

“Já olhámos para o plano de recuperação [da UE] e vemos a igualdade de género aqui e ali, mas teria sido importante se aparecesse mais proeminente. Basicamente, o plano falha [nesse sentido]”, sentencia Carlien Scheele.

“O plano de recuperação económica foi negociado muito rápido – e eu percebo que a UE tivesse de reagir rápido à pandemia –, mas não olhou de forma sólida para a realidade da igualdade de género nos Estados-membros”, realça.

Ora, a pandemia de covid-19 representa “uma ameaça” para a igualdade de género, frisa, apontando a violência contra as mulheres e as funções de cuidado e assistência como as áreas mais afetadas.

Lusa