No mundo ideal uma mulher poderia vestir-se como quisesse e nunca ouviria um comentário na rua, mesmo se andasse de forma bamboleante, vestisse de um vestido vermelho brilhante muito curto e muito decotado. Cara Delevingne é essa mulher que anda nas ruas de Nova Iorque à noite e só ouve piropos aos sapatos. Sim, isto acontece mas apenas no novo anúncio da Jimmy Choo para a coleção cruzeiro 2018, que tem por título Shimmer in the Dark (Brilhos no escuro).

Nas redes sociais Snapchat e Youtube o anúncio está a receber tantos elogios como acusações de sexismo. Afinal a imagem hipersexualizada da mulher está lá – há quem refira que o filme a faz lembrar a prostituta de Pretty Woman – e o assédio (aos sapatos) está lá. Há ainda quem defenda, nos comentários, que este anúncio faz com que os piropos pareçam uma coisa normal e quem diga que o pequeno filme comercial mete nojo.

Coerência e timming

Cara Delevingne foi uma das estrelas que apoiou o movimento #metoo que acabaria por conseguir afastar Har vey Weinstein da produção de filme. Em outubro ela afirmou que o ex-produtor a tinha feito sentir desconfortável muitas vezes. O movimento veio chamar a atenção para um problema mundial, o assédio sexual, e quem quebrou o silêncio acabou por ser reconhecido como personalidade do ano da revista Time. Agora, com este anúncio a atriz e a marca de sapatos de luxo, estão a ser acusados de não terem percebido o que se passou neste ano de 2017.

Delevingne não é a primeira estrela a ser acusada de falta de coerência. Em março deste ano Emma Watson teve que responder “Não sei o que é que as minhas mamas têm a ver com isso“, quando foi acusada de ser uma falsa feminista por ter mostrado o peito numa produção da revista Vanity Fair. Para esta atriz e ativista dos direitos das mulheres feminismo é “liberdade”, “libertação” e “igualdade”, disse nessa declaração. Cara Delevingne ainda não reagiu.