‘Macho Media’: quando as mulheres mudam as regras e são notícia

Uma das formas de compreender os significados de democracia e liberdade é olhar para as lutas pela emancipação feminina. Por isso, esta terça-feira, dia 25 de abril, o NewsMuseum, que comemora o seu primeiro aniversário na mesma data, inaugura a exposição ‘Macho Media’, uma mostra multimédia interativa em torno dos principais marcos e episódios mediáticos da luta contra o machismo e pela emancipação feminina.

Rodrigo Moita de Deus, diretor do museu situado em Sintra, referiu, aquando da apresentação pública da exposição, por que razão faz sentido hoje uma exposição com esta temática:

“Poucas pessoas saberão que Carolina Beatriz Ângelo foi a primeira mulher a votar em Portugal, em 1911. Mas foram precisos mais 63 anos para o voto se tornar universal, precisamente a partir do 25 de abril de 1974.”

A luta da médica e feminista portuguesa é um dos vários marcos históricos que a mostra abarca. Mas a emancipação da mulher não se faz apenas através da luta política e isso está bem patente na exposição:

“Os momentos de afirmação do corpo, de emancipação social, educacional e laboral” são outros dos temas incluídos na cronologia de acontecimentos retratados, como explica ao Delas.pt, Rodrigo Moita de Deus.

Entre eles estão, por exemplo, “a desmistificação do estereótipo das mulheres fumadoras e outras histórias relacionadas com campanhas de Public Relations; os rostos e os ícones da afirmação da mulher no mundo laboral como consequência da Segunda Guerra Mundial; as consequências sociais dos contracetivos”, enumera o responsável.

Os conteúdos da exposição seguem a linha do NewsMuseum, ou seja, são apresentados em plataformas multimédia interativas, sendo alguns deles exibidos num filme em 180º, como que num tablet gigante que reveste as paredes do lounge do Museu.

“Os visitantes são convidados a emergir nas ideias que lhes são apresentadas”, refere Rodrigo Moita de Deus.


Na fotogaleria pode ver alguns dos momentos destacados na “Macho Media”


Quão machistas (ainda) somos?
Nas restantes salas, são lançados dados e perguntas que procuram desafiar estereótipos e levar os visitantes a confrontarem-se com os seus próprios preconceitos.

“A exposição explica quão machista é cada um de nós, numa espécie de teste psicológico”, diz Rita Ferro Rodrigues, membro da associação feminista Capazes, que ajudou a equipa do museu a recolher e a trabalhar a informação para a exposição.

Se é certo que a ‘Macho Media’ mostra várias conquistas das mulheres na sua emancipação e na afirmação dos seus direitos, também revela, segundo a apresentadora e ativista, que “ainda há muito a fazer, apesar de estarmos a caminhar na direção certa”.

Talvez por isso, a par do simbolismo histórico de Carolina Beatriz Ângelo, Rita Ferro Rodrigues destaque as lutas do presente, de que a exposição também faz eco, como exemplo de que o combate por direitos iguais está longe do fim e que não chega a todos os lugares ao mesmo tempo:

“O impacto e leitura de significados do biquíni e do burkini em culturas diferentes” ou “os percursos das mulheres que são líderes.”

Em Portugal, um caso como o “processo das Três Marias – a história de Maria Teresa Horta, Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa que desafiaram o poder do Estado Novo com a publicação do livro Novas Cartas Portuguesas”, que Rita Ferro Rodrigues recorda, é, 43 anos depois do 25 de abril, parte do passado histórico do país. Mas noutros locais do mundo, o cercear da liberdade de expressão das mulheres é uma realidade do presente, que é dada a conhecer, muitas vezes, pelos meios de comunicação.

É essa atualidade que sustenta a realização desta exposição num museu dedicado às notícias.

“A luta das mulheres pela afirmação dos seus direitos e pela igualdade de género está na ordem do dia devido aos vários episódios a que temos assistido nos Media”, sublinha Rodrigo Moita de Deus.

Por isso, para o diretor do NewsMuseum faz todo o sentido dar a conhecer a quem visita o espaço, as lutas e os obstáculos, mas também as conquistas e o progresso “que as mulheres protagonizaram em mais de um século de episódios mediáticos”.

“O desconhecimento do que é ser mulher é um fenómeno social que se verifica em todas as áreas, incluindo a Comunicação e o Jornalismo. Inaugurar esta exposição no dia em que se celebra não só o primeiro aniversário do News Museum, mas também o dia da Liberdade em Portugal releva a importância do tema.”

Para a inauguração da exposição, que está marcada para as 15h30, foi convidada mais de uma centena de personalidades femininas com destaque na vida pública nacional, da política ao desporto, passando pelas áreas da ciência, educação, saúde, cultura e liderança de empresas.

O momento servirá também para fazer uma homenagem a Manuela de Azevedo, a primeira mulher jornalista a obter a carteira profissional em Portugal.

A exposição fica patente no museu até ao final deste ano.