Mães e filhos de conflitos são vítimas de estigma durante décadas

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Fotografia: REUTERS/Afolabi Sotunde

As mães e filhos são vítimas de estigma décadas depois de os conflitos terminarem. O alerta foi dado pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, esta terça-feira, 19 de junho, a propósito do Dia Internacional para Eliminação da Violência Sexual em Conflito.

A data é assinalada desde 2016, mas esta questão concreta continua, segundo as Nações Unidas, a estar ausente do quadro internacional dos direitos humanos.

Num dia que serve para “ampliar as vozes destas vítimas esquecidas da guerra”, Guterres lembra que depois da violência que sofrem nos conflitos, muitas vezes de natureza sexual, “as mães podem ser marginalizadas e afastadas pelas suas próprias famílias e comunidades”. Já as crianças, afirma, “lidam com questões de identidade e pertença, décadas depois de as armas se calarem”, refere, citado pelo site de notícias da ONU.

Muitas delas são fruto de violações e acabam, por isso marginalizadas pelas famílias e comunidades de origem das suas mães.

Outro dos problemas assinalados pelas Nações Unidas, decorrente da violência sexual de que as mulheres são objeto, em contextos de guerra, é o aborto clandestino, realizado em condições precárias e inseguras, que continua a ser uma das principais causas de mortalidade materna em lugares afetados por conflito.

Muitas mulheres e os seus respetivos filhos são ainda vistos como membros dos grupos extremistas que os mantém em cativeiro, e não como vítimas, o que os torna mais vulneráveis ao recrutamento, radicalização, tráfico e exploração.

Apesar de todos estes dados, a ONU sublinha que “a questão das crianças nascidas da guerra tem estado ausente, tanto do quadro internacional dos direitos humanos como dos discursos sobre paz e segurança” e que é preciso reforçar o apoio à “reintegração socioeconómica”, nos “esforços de reconstrução e recuperação pós-conflito”, bem como reunir a colaboração dos líderes religiosos e comunitários na mudança das normas sociais acerca dos temas relacionados com a violência sexual, retirando o estigma das vítimas.

O secretário-geral da ONU também recordou que o número de países envolvidos em “conflitos violentos” é o mais alto dos últimos 30 anos e que o de pessoas mortas é dez vezes mais que há uma década.

 

Imagem de destaque: REUTERS/Afolabi Sotunde