Mães levam mais tempo a refazer a vida amorosa do que os pais

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O estudo é francês e vem traçar uma estimativa sobre o tempo que as mulheres e homens levam a refazer as suas vidas em casal em contexto de monoparentalidade. E as respostas não são difíceis de adivinhar: as mulheres levam, em média, 6,1 anos a refazer a vida amorosa. Já eles precisam de 4,1 anos.

Quem o diz é o Instituto Nacional de Estatística e de Estudos Económicos (INSEE) francês, no estudo intitulado Quanto tempo duram as situações de monoparentalidade? Uma estimativa francesa e que pode ser consultado, no original, aqui.

Em Portugal, não existem análises desta natureza, mas Sofia Marinho, autora de trabalhos sociológicos em torno da monoparentalidade, e não só, não se diz surpreendida com estes resultados. “As mulheres e os homens em regime de monoparentalidade estão mais focados na articulação trabalho-família e nos cuidados aos filhos, o que lhes deixa pouco tempo para ter uma vida pessoal e social”. Ou seja, prossegue a mesma investigadora do Instituto de Ciências Sociais, em Lisboa, “quanto menos recursos tem, porque não pode fazer outsourcing, menos possibilidades têm de ter vida social que lhes permita entrar no ‘mercado amoroso‘”, refere Marinho.

links_criancas casadasIsto, claro, já para não falar das relações com filhos que terminam exatamente porque um dos cônjuges quer refazer a vida sentimental com outro companheiro.

Posto de outra forma, reitera a pesquisadora, “se a criança não tem contacto com o outro progenitor, maior sobrecarga tem o pai ou a mãe em situação monoparental. Ora o tempo que o primeiro por comparação ao segundo – que é maior – vai permitir-lhe ter uma vida pessoal e social. É nos períodos em que o filho está com o outro progenitor que há espaço para fomentar a vida pessoal e amorosa”.

Monoparentalidade em franco crescimento

De acordo com a análise do INSEE, em 2010, mais de 20% das famílias francesas – 1, 7 milhões – vivia em regime de monoparentalidade com filhos menores de idade, sendo que as mais comuns seriam compostas por uma mulher com um ou mais crianças a cargo. Em 1990 representavam 12%. Um aumento de mais de 70%.

Se em França, aquela tipologia familiar cresce, cá tal também se verifica semelhante fenómeno, embora existam ainda muitas perguntas em aberto e às quais os Censos não têm dado a possibilidade de resposta.

Ainda assim, olhando para o estudo Famílias monoparentais: linhas de continuidade e mudança (e que pode ler aqui) e levado a cabo por Sofia Marinho, também esse incremento é evidente e classifica-o de “considerável”.

Mais ao detalhe, as famílias portuguesas compostas por um pai ou uma mãe só com, pelo menos, um filho menor até aos 18 anos representavam 4,8% (130 850 agregados) face ao total, em 1991. Duas décadas depois, era possível perceber que o número tinha subido para os 6,8%, ou seja, 220 244 lares.

Os dados por género tornam tudo mais evidente: Em 2011, a monoparentalidade exercida por pais estava na ordem dos 10,8%, já a exercida por mães era de 89,2%.

Contas feitas, nove em cada dez lares monoparentais em Portugal, com filhos menores até aos 18 anos, estava nas mãos das mulheres. O Instituto Nacional de Estatística e a Pordata fazem uma atualização dos dados para 2016, reportando a existência de . Porém, Sofia Marinho sublinha que estes dados englobam muito mais do que apenas os lares com filhos menores e inclui todos os casos de um só pai ou mãe que viva com os filhos na mesma residência, independentemente das idades. Assim sendo, cabem aqui exemplos de filhos com 30,40 e 50 anos a partilharem o mesmo teto que a progenitora.

Filhos com dupla residência favorecem novas relações amorosas

Sofia Marinho acredita que a dupla residência do ou dos filhos do casal em regime de guarda partilhada podem encurtar o tempo de entrada dos progenitores no tal ‘mercado amoroso’: “Quando estamos a falar em situações que há dupla residência, aí está comprovado que tanto o pai, como a mãe têm um maior espaço para se dedicarem à carreira, e facilita na articulação do trabalho-família.”

A investigadora ressalva, no que diz respeito ao estudo francês, que a realidade das famílias monoparentais em terras gaulesas é bem diferente da portuguesa porque há décadas que os franceses têm estabelecido, no seu ordenamento jurídico, a figura de residência partilhada. Algo que só começa a ganhar terreno em Portugal nos últimos anos.

No entanto, Sofia Marinho recorda que “em relação aos homens separados ou divorciados – e creio que há estudos em Portugal que já foram feitos nesse sentido –, sabe-se que se recompunham mais depressa do que as mulheres porque não ficavam com as crianças.”

A investigadora lamenta, contudo, os “poucos dados” que existem em Portugal neste domínio e exemplifica: “Nas estatísticas do divórcio nem sequer é colocada a pergunta se há ou não filhos e, nas oportunidades que tenho tido, tenho chamado à atenção para a questão de não se saber o que está verdadeiramente por trás da monoparentalidade feminina e masculina por via de separação ou divórcio, que são as principais causas. Há a da viuvez, e essa tem menos peso”.

Mulheres que tiveram filhos sozinhas ficam em situação monoparental mais tempo

De acordo com a análise francesa publicada agora, a maioria dos pais de famílias monoparentais põe termo a este modelo ao fim de três anos. Ao fim de oito anos ainda existem 30% dos casos nesta situação e apenas 4% permanecem a sós por mais de 18 anos.

Ainda na mesma investigação fica claro que as mulheres que assumiram uma monoparentalidade por via de uma separação são aquelas que passam menos tempo a sós a cuidar dos filhos, pondo termo a essa relação de exclusividade ao fim de 5,4 anos em média. Seguem-se-lhes as viúvas, registando uma média de 5,7 anos. Por fim, as mulheres que decidiram ter um filho fora do casal são as que mantém a monoparentalidade por mais anos: 9,1.

Sofia Marinho recorda que desde o estabelecimento da residência alternada em França, nos anos 70, “existe um vasto património de estudo e, na última década em particular, que tem incidido na avaliação dos benefícios para a criança e para o bem-estar dela, comparando com as crianças que vivem em casal, e os resultados mostram que as residências alternadas são melhores para as crianças, é um instrumento pacificador da conjugalidade”.

Monoparentalidade: precariedade e exclusão

De acordo com a análise feita pelo INSEE, as mulheres que têm um bacharelato ou nível educativo inferior são as que vivem menos tempo de situação de monoparentalidade (cerca de 5,5 anos). Seguem-se-lhes as que têm habilitações literárias superiores (6,4) e as que não têm qualquer diploma (7,6).

Em Portugal, o estudo de 2011 – embora não avaliasse o tempo entre a situação de monoparentalidade e constituição de uma nova família – já fazia a correlação entre as famílias monoparentais e a formação.

Neste caso, o número de progenitores a sós que apenas tinham o ensino básico era muito menor em 2011 do que em 2001 (de 32,2% para 12,2%), registando aumentos nos níveis de habilitações superiores, com o maior incremento assinalado para os que tinham curso superior (9,9% para 18,9% entre 2001 e 2011).


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Ainda de acordo com esta investigação, “as mães sozinhas são mais atingidas pelo desemprego (15,3%) do que os pais (13,5%) e há também mais mulheres inativas do que homens”, lê-se no documento. Esta análise vinha explicar também que, em Portugal, “em 2011, há mais desemprego nestas famílias [monoparentais] (15,1%) do que na população ativa em geral (12,7%)”.

Outros casos do passado

A forma de calcular estas médias está longe de ser absoluta. Tanto que o estudo francês agora divulgado apresenta – aquando da sua justificação – outras análises elaboradas no mesmo sentido, feitas noutros países. Longe de serem recentes, deixam, no entanto, olhares sobre as sociedades que apresentam.

No Reino Unido, o inquérito retrospetivo de 1994 – Survey of Family and Working Lives – que as mulheres permaneciam em média 5,4 anos em regime de monoparentalidade: 4,6 para as mães solteiras, 4,7 para as divorciadas, 6,8 para as separadas e 10,5 anos para as viúvas.
Já nos Estados Unidos da América, um estudo de 1987 veio dizer que as mulheres que tinham assumido a monoparentalidade entre 1970 e 1974 tinham permanecido, em média, 4,5 anos naquela situação. Ora, dez anos depois, esse rácio tinha descido para os 3,4 anos.

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