Mafalda Castro: “Há muitas pessoas que são mais influenciadas do que influencers”

Mafalda Castro abraça esta segunda-feira, 13 de maio, um novo desafio: as manhãs da Mega Hits. Aos 24 anos, a influencer e radialista portuguesa passa a acompanhar os ouvintes nas primeiras horas do dia, entre as 6h e as 10h da manhã. À paixão pela rádio, que a levou a ingressar no curso de Jornalismo, Mafalda junta uma outra: a moda. Atualmente com mais de 182 mil seguidores no Instagram, o Delas.pt conversou com a it girl sobre o trabalho em rádio e sobre como é, realmente, ser influencer.

Mafalda, vai passar a estar presente no prime time da Mega Hits. O que podemos esperar deste novo desafio?
É verdade, vou começar a fazer programa com a Maria [Correia] e com o Conguito. Basicamente estou muito entusiasmada, mas com muito medo ao mesmo tempo, porque nós somos literalmente melhores amigos. Nós já somos uma tripla, já somos um grupo antes de sermos um grupo nas manhãs. E isso deixa-me muito contente e muito entusiasmada, e eu acho que temos todos os ingredientes para aquilo ser uma bomba gigante. O horário que nós vamos fazer, das 6h às 10h da manhã, o Snooze, acompanha muitas pessoas a ir para o trabalho, para a faculdade, para a escola… Acho que acabamos por acompanhar as pessoas nas primeiras horas do dia, nós temos que por aquela pessoa que nos está a ouvir com boa disposição, num mood feliz, e vamos tentar, mesmo que esteja chuva lá fora nós trazemos o sol. Até agora é o desafio que mais me entusiasma a nível profissional e estou muito contente com isso.

A rádio sempre foi um objetivo ou foi algo que surgiu por acaso?
Não, não surgiu por acaso. Eu sempre quis fazer rádio, aliás eu fui para o curso de jornalismo para fazer rádio. Foi o meu objetivo sempre fazer rádio, a televisão é que depois surgiu por acaso. A minha tia sempre fez rádio, eu cresci com a minha tia a fazer rádio, a Maria João Simões, e ela parou durante um tempo e vamos começar as duas a fazer rádio agora, porque ela está noutra rádio e vai começar a fazer manhãs também. Acho que vai ser muito giro. Mas eu sempre a tive como role model, o modelo a seguir, e sempre fui muito “quero ser igual à minha tia”, e por isso é que sempre tive o bichinho da rádio. E é tudo aquilo que eu esperava e que esperei durante tantos anos, e é uma coisa que eu nunca vou querer largar, a rádio. Se me deixarem, fico sempre.

“Se gosto de uma coisa gosto, se toda a gente usa, ok, se ninguém usa e não se usa ok, desde que eu goste eu uso na mesma.”

Qual foi a situação mais caricata que já lhe aconteceu durante um programa de rádio?
O que mais me acontece são ataques de riso, principalmente nos festivais, em que a pressão de trabalhar é muito mais relaxada. Eu ando muitas vezes a fazer entrevistas aos miúdos nas primeiras filas, e acabo sempre por ter aquela pessoa que sabe que não pode dizer asneiras, mas diz, temos sempre muitos entrevistados de música que às vezes não dizem aquilo que nós queremos… Uma vez num festival, eu estava a fazer dupla com a Maria, e tivemos um ataque de riso gigante e não conseguimos falar durante um minuto. Houve um minuto de rádio em que era silêncio, só duas pessoas a rirem… Há muitos momentos assim que acontecem. E isso é que torna a coisa muito divertida.

Mafalda Castro começou a partilhar os seus looks em 2011, ano em que criou o blog “Last Time Around”. Imagem: Instagram @mafaldacastro

O facto de trabalhar em rádio, em que a voz impera em função da imagem, já fez com que alguma vez desleixasse a imagem? Mesmo por um dia?
Sim, e isso acontece não só comigo, mas também com os nossos convidados. Às vezes eles estão à espera “ah é rádio, posso ir de calças de fato de treino” e de calças de fato treino podem ir porque as calças nunca aparecem, mas de resto aparece tudo. Já tive lá convidados a aparecer sem maquilhagem, sem nada, e tínhamos vídeo. A rádio tem-se adaptado muito bem à evolução das coisas, nós temos imenso digital, imenso vídeo, e eu vou normalmente sempre preparada para isso. Mas sempre que posso, sempre que sei que não há vídeo, vou sem maquilhagem, vou tranquila… E a parte boa de fazer rádio é essa, é que não há essa pressão, só nos concentramos no microfone, em nós, no que estamos a dizer, no momento, e não estamos preocupadas com a pose, com nada.

Uma das primeiras áreas que explorou foi a moda. O que mudou no estilo da Mafalda do início do blog Last Time Around, em 2011, para a Mafalda de hoje?
O que mudou entre a Mafalda de 2011, do Last Time Around, que agora já não existe, agora é MafaldaCastro.com, e a Mafalda Castro de agora…. São idades completamente diferentes, eu tinha 17 anos, agora tenho 24. E com a idade as coisas mudam muito. Confiança, acima de tudo, mas também a preocupação. Era muito mais preocupada na altura do que sou agora. Antes preocupava-me… “Ai, estou vestida assim, toda a gente veste isto e eu não quero ser igual aos outros”. Hoje em dia, se gosto de uma coisa gosto, se toda a gente usa, ok, se ninguém usa e não se usa ok, desde que eu goste eu uso na mesma, e eu acho que é isso, sou muito menos preocupada e mais confiante, claro.

“Há muitas influencers cá em Portugal que são chamadas de influencers mas são mais influenciadas do que influencer.”
Imagem: Instagram @mafaldacastro

Qual é a tendência desta estação a que não consegue resistir?
Gosto muito de fatos completos: blazer e calças, blazer e calção, blazer e saia, tudo conjunto, coisa que eu odiava quando era pequena e que a minha mãe me obrigava a vestir, mas agora é super tendência e eu gosto mesmo. É muito giro. Gosto de tons pastel, apesar de eu achar que com a minha pele não fica muito bem, gostava de conseguir pull it off… Talvez consiga. São as tendências que eu mais gosto no momento.

E que tendência nunca a vamos ver usar?
Ganchos gigantes… Odeio. Eu sei que é super tendência usar ganchos gigantes no cabelo. Nunca me vão ver a usar ganchos no cabelo. Nunca. Não gosto nada, principalmente aqueles gigantes. E também meias com sandálias. Não vai acontecer. Não gosto.

Na sua opinião, o que a distingue de outras influencers portuguesas?
Que boa oportunidade para ser uma pessoa muito humilde! Eu acho que no fundo o que me distingue é mesmo o facto de eu ter começado em 2011. Eu fui das primeiras a ter Instagram e assisti à forma como foi entrando nas nossas vidas, a forma como as nossas vidas mudaram também por causa do Instagram, os nossos hábitos, tudo. E eu acho que é isso. É ter noção de como as coisas eram antes e como isto tudo evoluiu. Quando criei um blog nunca pensei que isto fosse o meu trabalho, nunca houve sequer essa perspetiva, e agora se calhar quando as pessoas começam a partilhar os looks no Instagram é porque querem ser influencers. Eu nunca quis ser influencer, aliás eu nem adoro esse termo, acho que ninguém adora. Mas eu não adoro mesmo. E, acho que também há muitas pessoas cá em Portugal que são chamadas de influencers mas são mais influenciadas do que influencer, porque influencer é um líder de opinião… Por isso é que eu também não adoro esse termo, porque não somos nós que temos que dizer que somos influencers, as outras pessoas é que têm de dizer se nós somos ou não. E eu acho que há muitas pessoas que são mais influenciadas do que influencers porque acabam por fazer aquilo que as influencers estão a fazer, por replicar aquilo que é feito. Eu não estou a dizer que inventei nada, obviamente que não inventei… Até agora… Mas acho que é isso que me distingue. O tempo a que já faço isto.

Sim, as influencers acabam por ser uma espécie de inspiração. Quem é a sua maior inspiração?
Eu acho que é impossível falar sobre influencers sem olhar para o percurso que a Chiara Ferragni fez e teve. Eu já tive oportunidade de estar com ela, há muitos anos, num evento na Croácia, e realmente… Aquilo é um percurso de sonho. Ela chegou a um nível que nunca nenhuma chegou. Tenho muitas inspirações estrangeiras… A Camila Coelho, a Song of Style, mas acabo por nunca fazer nada do que elas fazem. São só inspirações em termos de carreira, de percurso e da forma como elas comunicam. Admiro muito as Youtubers cá em Portugal, mesmo muito, acho que trabalham muito bem… A Helena Coelho, A Maria Vaidosa… Todas elas fazem um trabalho incrível, porque conseguem ligar-se às pessoas de uma forma que muitas influencers não conseguem.

Acha que temos alguma influencer ou Youtuber que se consiga distinguir a nível mundial?
Não.

Por que é que acha que isso acontece?
Não… O nosso mercado é muito, muito pequeno. Eu acho que se alguma influencer portuguesa se conseguir destacar a nível mundial vai ter que fazer conteúdos para o Brasil, ou então para Espanha, porque já é um mercado bem mais apelativo para as marcas lá de fora, o mercado ibérico. Porque é um público completamente diferente. Nós somos muito poucos. Eu já trabalhei com marcas estrangeiras, americanas, gigantes, e eles gostam de trabalhar comigo, mas eu para eles sou microinfluencer. Ou seja, eles trabalham comigo cá para Portugal, mas podem não trabalhar, porque é um mercado tão pequeno, tão pequeno que acaba por não ter relevância nenhuma a nível mundial. Eu acho que cá em Portugal não há ninguém que se internacionalize dessa forma, não vejo ninguém a comunicar em inglês, ninguém a comunicar em português do Brasil. Há uns Youtubers, mas isso também já é outra liga completamente diferente da minha, que têm milhões cá em Portugal, que falam para o público brasileiro, acho que só aí é que consigo ver uma internacionalização, porque de resto não.

Imagem: Instagram @mafaldacastro

Como é a sua relação com os seus seguidores?
Vou ser cliché, mas acho que é mesmo próxima. Acabo por mostrar coisas minhas, se calhar até mostro mais no Instagram a pessoas que não me conhecem, do que, se calhar, a alguém com quem estou. Tenho mais à vontade nos stories. Eu tento sempre desconstruir a persona que tenho no Instagram nos stories, eu acho que os stories ajudam muito nisso. Nos stories sou muito mais eu e no Instagram sou aquela persona que está sempre bem na foto. Isso acaba por aproximar-me mais das pessoas que me seguem. Respondo sempre às mensagens, obviamente. E, nos festivais de verão as pessoas vêm imenso ter comigo e acho que é muito próximo e muito giro, e a rádio também veio ajudar muito nisso, na proximidade com as pessoas.

Alguma vez recebeu uma mensagem menos boa?
Ah, já, muitas vezes. As pessoas são más por tudo e por nada. Mas eu já não ligo, até me dá vontade de rir. Imagina: se eu estou sem maquilhagem nos stories, há de haver sempre alguém que me diga “não devias aparecer sem maquilhagem, essa não é a tua imagem”. Se eu partilho umas calças que já esgotaram, “não sei porque é que partilhas se já estão esgotadas”… Há sempre alguma coisa que as pessoas vão embirrar, e eu já aceitei isso e estou em paz com isso e não há problema. Podem continuar a mandar hate, que eu rio-me. Não tem problema nenhum.

Acha que é possível escolher como profissão ser influencer ou criador de conteúdos digitais? É possível viver apenas destes rendimentos?
Eu acho que em termos de rendimentos é possível, mas a longo prazo não posso dizer nada, porque tudo isto é novo, nós não sabemos como é que isto vai evoluir. Ninguém sabe. Tanto pode desaparecer tudo amanhã como não, como continuar para sempre. Eu acho que o facto de haver influencers, de pessoas que influenciam, isto é uma coisa que vai evoluir, não vai desaparecer, não há como desaparecer, é o futuro, o futuro é digital. Mas o que eu acho, e isto da minha experiência, é que tens que viver em mais do que uma plataforma. Não podes viver só no Youtube ou só no Instagram, tens que viver fora da plataforma e os influencers estão a perceber isso também. Os youtubers estão a começar a ter marcas e a começar a ter o seu próprio negócio fora também do Youtube, porque não podes viver dependente de uma empresa, que é o Youtube, que pode acabar amanhã, tal como o Instagram pode acabar amanhã, tal como o server do meu blog pode desaparecer amanhã. É inconsciente se achares que podes viver só da plataforma. Acho que a parte boa desse trabalho é que tu és o teu próprio patrão e isso é a maior sorte do mundo. Tu crias conteúdo para ti e isso é incrível. Mas com o tempo vais tendo sempre mais ambição e vais conseguindo sempre… “Ok, já consegui fazer isto, já consegui fazer isto, agora quero fazer outra coisa” e essa outra coisa é sempre fora da plataforma.

Imagem: Instagram @mafaldacastro

Qual é o maior mito que existe em relação a influencers?
Eu acho que os mitos são todos verdade… Sobre as influencers acho que sim. O maior mito é que estão sempre todas arranjadas e não, claro que não, mas eu acho que as pessoas já sabem isso, porque os stories vieram mesmo desconstruir isto. As pessoas acham que as influencers estão sempre… Não sei, não sei. O que é que as pessoas acham das influencers? Gostava de saber! Ah, há aquelas pessoas que acham que as influencers estão sempre de robe em casa a responder a e-mails, mas é verdade. Portanto, não sei… Olha uma das coisas que se calhar posso dizer sobre as influencers é que é um trabalho que não tem férias, e isso é verdade. São 24 horas sob 24 horas, não há um momento de férias. Mesmo de férias estamos a criar conteúdo. Mas pronto, é bom. É um bom trabalho de se ter.

Nunca faz essa separação? Nunca desliga?
Nunca fiz. Tenho momentos em que faço isso… Quando estou com os meus pais ou com os meus amigos, não quero saber do telemóvel. É bom também ter esse equilíbrio. Mesmo as pessoas que fazem vlogs semanais, weekly vlogs, nós temos que nos lembrar, quem vê, que essa pessoa filma cinco minutos por dia, de um dia que tem 24 horas, portanto nós só mostramos mesmo o que queremos. Apesar de ser uma coisa verdadeira, obviamente, é só mesmo o que queremos, é uma parte muito pequena da nossa vida. Neste momento, gosto do equilíbrio que eu arranjei, consigo viver bem com ele, não preciso desses dias de detox porque é tudo muito equilibrado no meu dia-a-dia, não é uma coisa que afete mesmo.

Que conselho daria a alguém que estivesse ou quisesse começar agora?
Acho que fazem bem, pode ser giro e muito divertido, e é mesmo, é uma coisa super divertida de se fazer. E se o objetivo for ser diferente e inspirar, pode ser mesmo muito, muito giro. Mas, nunca se esqueçam de ter sempre um plano B, de tirarem um curso ou não, mas de trabalharem, de fazerem outras coisas, porque isso é que vos vai tornar interessantes para serem uma influencer. Eu acho que sim, que isso é que nos torna interessantes, é quando temos outras dimensões.

[Imagem de destaque: Pedro Rocha/ Global Imagens]

O Delas.pt agradece ao Hotel Selina a cedência do espaço.

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