Mais de 250 anos após a abolição da escravatura, ainda há muito por fazer

Em 1761 chegava uma decisão pioneira em matéria de abolição da escravatura, em Portugal, por parte do reino que tinha massificado e disseminado a prática pelo planeta. Desde sempre, porém, há investigadores que lembram e sublinham que aquela data – marcada por Marquês de Pombal – não ditou o fim do tráfico de seres humanos. Foi um primeiro passo tomado, mas ainda longe da decisão final.

Hoje em dia, mais de 256 anos volvidos sobre aquela data, a escravatura ainda é tema de relatórios e alvo de medidas a tomar um pouco por todo o mundo e Portugal não é exceção. Afinal, as mulheres e as crianças são, atualmente, os elos mais frágeis e o trabalho forçado e infantil e o sexo os principais setores a que se destinam.

Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e da fundação Walk Free, em associação com a Organização Internacional para as Migrações (OIM), são 40 milhões as pessoas vítimas de ‘escravatura moderna’, em 2016. Daquelas, 29 milhões são do sexo feminino. As mesmas entidades adiantaram, em setembro deste ano, que 25 milhões foram sujeitos a trabalho forçado e 15 milhões deveram-se a casamentos obrigados.


Leia mais aqui sobre os dados da “escravatura modrena”


No dia Internacional dedicado à Abolição da Escravatura, que se assinala este sábado, 2 de dezembro, mais do que olhar para o passado, é preciso encarar o presente e preparar o futuro (conheça os dados aqui).

É isso que o mais recente Relatório de Tráfico de Seres Humanos ( Trafficking In Persons Report), elaborado pelo Departamento do Estado dos Estados Unidos da América, datado de junho de 2017, quer definir.

Mesmo elogiando todos os esforços que Portugal tem empreendido no combate ao tráfico de seres humanos, aquela entidade deixa recomendações duras. Mesmo considerando que o país “tem cumprido largamente os requisitos mínimos exigidos nesta matéria” e sublinhando os “esforços sérios e sustentados no aumento de investigações em curso, processos, condenações e vítimas identificadas”. Na galeria acima fique a conhecer as indicações deixadas por aquela departamento norte-aemricano.

Obrigatório estar atento a sinais de tráfico e da escravatura

De acordo com o Observatório para o Tráfico de Seres Humanos (OTSH), há três níveis de sinais que habitualmente as vítimas dão e aos quais é importante estar atento, porque é possível estar-se perante um caso de tráfico ou mesmo escravatura.

De entre os indicadores físicos destacam-se a aparência de exaustão extrema – com círculos negros por baixo dos olhos ou olheiras profundas, cara abatida, movimentos de corpo lentos -, a descoloração da pele, o baixo peso, a aparência geral de saúde débil, as queixas de dores físicas relacionadas com o stress, a falta de higiene e, no caso das crianças, o uso de roupa inapropriado, ou seja, ou muito pequena ou de outra estação. Há depois outros sinais que devem fazer soar todas as campainhas: os sinais de abuso físico – nódoas negras, olhos pretos, cicatrizes, dentes partidos, sentar-se ou caminhar com sinais de dor -, as queixas de problemas ginecológicos ou de dificuldade em dormir adequadamente.

Ao nível emocional, o medo, a vergonha, a incerteza, o nervosismo, a ansiedade, a confusão, a sensação de culpa, apatia ou desapego, a baixa autoestima, a sensação de nojo de si próprio e até os pensamentos suicidas podem ser sinais de que algo grave se passa. Por fim, há também aspetos comportamentais a ter em consideração. A relutância em falar, o discurso incoerente, a alteração das histórias que se contam e a tendência para a submissão devem ser levados em conta.

Ainda na mesma página, que pode consultar aqui, estão disponíveis os contactos para denunciar ou para apresentar queixa de tráfico de seres humanos.

Imagem de destaque: Shutterstock

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