Mais tristes e medicados, jovens mutilam-se mais. Metade mudou de hábitos pelo ambiente

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[Fotografia: Pexels/Cottonbro]

A perceção de infelicidade dos adolescentes portugueses mais do que duplicou em quatro anos, escalando dos 13,3% em 2018 para os 27,7% em 2022, sendo atualmente uma realidade para 1/4 dos jovens. Esta é uma das conclusões do estudo que analisa os hábitos e estilos de vida dos jovens em idade escolar e nos seus contextos de vida.

Os resultados nacionais do Estudo Health Behaviour in School-aged Children / Organização Mundial de Saúde (HBSC/OMS) traça um cenário mais negro para a juventude no pós-pandemia: 11,6% dos quase seis mil inquiridos, em 40 agrupamentos escolares portugueses, revela que se sente triste quase todos os dias, subindo mais de dois pontos percentuais face a 2018. Variações semelhantes que se registam em comportamentos como o nervosismo, a irritação e o mau humor.

“Quase um quinto (18,8%) dos adolescentes refere ter uma doença prolongada, problema de saúde ou incapacidade diagnosticada por um médico, dos quais 54,5% diz ter necessidade de tomar medicação”, refere o comunicado enviado pela Direção-Geral da Saúde.

A toma de comprimidos é frequente, com os jovens a referirem que no último mês, pelo menos uma vez, tomaram medicamentos – na sua maioria prescritos – para as dores de cabeça (53,9%), para as dores de estômago (25,3%), vitaminas ou suplementos alimentares (22,2%), dores de costas (18,3%), para uma infeção (17,2%), para o nervosismo (16%), para as dificuldades de adormecer (14,6%), para a tristeza (10%), e para o défice de atenção/hiperatividade (7,4%).

Tentar escapar à tristeza e a sentimentos negativos é um dos temas do relatório, que conclui que quase 1/4 (24,6%) dos inquiridos teve “comportamentos auto-lesivos pelo menos uma vez no último ano”, sobretudo nos braços, o que configura um aumento de incidência face a 2018 (19,6%).

A internet emerge como uma quase ‘salvação’ para o sofrimento e para perto metade dos inquiridos (47,6%), quase o dobro face a 2018 (26%). “Relativamente ao tempo gasto em frente ao ecrã, cerca de 43% dos jovens compartilha ou consulta conteúdo do TikTok, cerca de 39% refere trocar mensagens no WhatsApp e cerca de 37% dos jovens inquiridos refere utilizar o Instagram, duas ou mais horas por dia, durante a semana. Durante o fim de semana, cerca de 45% dos jovens refere assistir a séries online, cerca de 43% utiliza o TikTok e joga jogos online ou offline (40%), duas ou mais horas por dia”, refere o documento.

O peso corporal também está a subir, uma questão reportada por 31,8% dos alunos, mais três pontos percentuais face a 2018. “A percentagem que refere que não está a fazer dieta, mas precisava, subiu em quatro anos para 25,3%”, lê-se na análise.

Mais exercício, menos tabaco e álcool e mais ambiente

Porém, nem todas são más notícias. “Comparando com o estudo realizado em 2018, verifica-se um aumento da prática de atividade física – mais de 3 dias por semana – entre os jovens: de 43,1% para 55,7%. No entanto, dois em cada dez jovens dizem nunca ter praticado qualquer desporto”, destaca o comunicado que acompanha o estudo – que olhou para a realidade de 51 países – e que é apresentado esta quarta-feira, 14 de dezembro.

Sobre substâncias e dependências, os adolescentes dizem estar mais livres de tabaco e álcool, numa evolução positiva face a 2018. “Regista-se um aumento na frequência de não fumadores, de 93,7% em 2018 para 95,1% em 2022. O consumo de bebidas alcoólicas também diminuiu em todos os tipos”, lê-se no documento.

Ainda que menos envolvidos em atividades e grupos paralelos à escola, a luta pelo ambiente e o desenvolvimento sustentável movem a maioria, com quase nove em cada dez a quererem focar-se na diversidade biológica e sete em dez a pugnarem pela redução do consumo de água. Mais de metade (56,8%) refere que procura ativamente formas de reduzir os problemas ambientais.