Mandar calar uma mulher? “Era importante que Marco Paulo pudesse clarificar”

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[Fotografia: kristina Flour/Unsplash]

O momento marcou a semana. Ainda que a apresentadora da SIC Ana Marques tenha vindo a público vincar que o episódio em que Marco Paulo lhe pediu para ela se calar não tenha criado mal estar entre ambos apresentadores, certo é que o caso volta a por em evidência o facto de as mulheres serem mais interrompidas do que os homens ou mesmo alvo de silenciamentos em público.

O episódio teve lugar no sábado, 12 de junho, durante o programa vespertino Alô Marco Paulo, da SIC, com o cantor romântico a interromper e a lembrar Ana Marques que o programa era dele.

Se por um lado o auditório reagiu negativamente a este caso, certo é que tendo ocorrido em direto, na televisão nacional, sendo ou não intencional, arrisca perpetuar estereótipos.

Ao Delas.pt, a psicóloga especialista em Psicologia Clínica e da Saúde Rute Agulhas lembra que “as figuras públicas têm uma responsabilidade acrescida, por serem também modelos que muitos seguem e idealizam. Por esse motivo, devem ter especial cuidado na forma como se expressam e nas mensagens que transmitem, ainda que estas sejam transmitidas de uma forma não intencional”, justifica.

E acrescenta: “Mesmo que, como disse a Ana Marques posteriormente, não tenha havido qualquer mau ambiente após estes comentários, não podemos esquecer que, ao serem ditos em direto, têm naturalmente um impacto maior. Ao serem comentários por parte de um homem para uma mulher podem ainda, naturalmente, reforçar os tradicionais estereótipos de ‘homem que manda’ e ‘mulher que se cala’.”

Por isso, a especialista – que qualifica este tipo de comentário como “falta de educação, independentemente do género das pessoas envolvidas” – mereceria explicações.

“Uma vez que esta situação teve um forte impacto negativo no público em geral, penso que seria importante que o Marco Paulo pudesse abordar este assunto de forma a clarificar e desmontar ideias estereotipadas associadas aos papéis de género”, refere ainda a psicoterapeuta.