Marcelo: “Não se pode aceitar a violência contra a mulher porque é mulher”

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Marcelo Rebelo de Sousa [Fotografia: Tiago Petinga/Lusa]

“Não entender o papel da mulher na construção da paz, da justiça, do desenvolvimento local, nacional, continental é não entender nada da promoção da dignidade da pessoa humana no futuro”, afirma Marcelo Rebelo de Sousa. O Presidente da República está a fazer o discurso de abertura da conferência e do estudo pioneiro As Mulheres em Portugal, Hoje e que traça o retrato sobre as várias dimensões da vida do sexo feminino: o emprego, as horas de trabalho dedicado à casa, a situação económica, a relação com a pessoa parceira, o assédio no trabalho, a violência doméstica e de género.

Numa mensagem em que a violência doméstica foi um dos focos centrais do discurso (com o registo de nove mulheres mortas em janeiro), o chefe de Estado declarou, diante de uma plateia esgotada da Aula Magna, da Universidade de Lisboa, que se trata de “um problema em que importa arrepiar caminho e inverter a trajetória recentíssima, através do combate no plano da cultura cívica, antes mesmo da atuação institucional a nível do Parlamento, governo e tribunais. Atuação essa que a cultura cívica condiciona depois os tribunais”.

A violência doméstica é “um problema em que importa arrepiar caminho”, diz Marcelo

Não se pode aceitar ou legitimar “a violência contra a mulher porque é mulher, o abuso da mulher porque é mulher, a menorização da mulher porque é mulher, a exploração da mulher porque é mulher, a discriminação negativa da mulher porque é mulher”, vincou Marcelo.

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O Chefe de Estado quer “um combate sem preconceitos nem estereótipos” e critica que quem aplique a lei “acabe por agir no sentido discriminatório e violador do princípio constitucional da pessoa humana”.

Um discurso que não esqueceu a violência no namoro, cujas dados têm vindo a revelar preocupação e em vésperas de assinalar o dia que lhe está dedicado: o dia dos Namorados, a 14 de fevereiro. Um “problema de cultura cívica que tem de ser enfrentado nas gerações mais novas”, pediu o Presidente da República.

A mulher, hoje é o primeiro passo num ciclo de conversas que estão a ser promovidos pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, e que vão decorrer ao longo de todo o ano de 2019. Intitulado Ao encontro dos portugueses, esta conferência assinala, ao mesmo tempo, a primeira década de existência da Fundação, que se cumpre esta terça-feira, 12 de fevereiro, e pretende também estabelecer as bases para uma internacionalização dos trabalhos da entidade no sentido de chegarem a uma audiência mais vasta.

Nas palavras de Marcelo, “hoje, as mulheres estão em maioria na sociedade portuguesa, na escolaridade obrigatória, no ensino superior, no mercado de trabalho”. No entanto, prossegue o presidente, “a promoção de uma cultura de partilha de responsabilidades entre homens e mulheres e conciliação trabalho e vida familiar para homens e mulheres continuam a ser, juntamente com as chocantes diferenças salariais, preocupações que não podemos ignorar ou esquecer“.

Para o chefe de Estado, “enquanto sociedade precisamos urgentemente de corrigir estes desequilíbrios, pois deles dependerão o drama do envelhecimento e a criação de condições de verdadeiro desenvolvimento sustentável“.

2,7 milhões de portuguesas inquiridas

O estudo que vai ser apresentado esta tarde reflete o que pensam e o que sentem as mulheres em Portugal. Com perto de 2,7 milhões de mulheres entre os 18 anos e os 64 anos entrevistadas, uma a mostra única em Portugal, a investigação quer por a nu as condições e os objetivos das mulheres em território nacional.

Coordenado por Laura Sagnier, economista e especialista em Market Intelligence, a análise vai ainda ser debatida esta tarde pelas sociólogas Anália Torres e Ana Nunes de Almeida e pela presidente da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, Teresa Fragoso.

A tarde contará ainda com um segundo debate que irá pôr em perspetiva as condições das mulheres no mundo. Com a moderação da jornalista política e colunista do jornal Huffinghton Post, Ghida Falry, a conversa contará com a presença de Samantha Power, antiga embaixadora dos Estados Unidos da América nas Nações Unidas, e Freida Pinto, atriz indiana que se destacou no filme Quem Quer ser Milionário e veio a terreiro afirmar recentemente que não trabalharia com Woody Allen, na sequência das acusações de agressão sexual feitas contra o realizador pela filha adotiva, Dylan Farrow.

AT e CB

Imagem de destaque: Tiago Petinga/Lusa

Estudo revela hoje “o que são, o que pensam e o que sentem as mulheres portuguesas”