Marcelo Rebelo de Sousa: quando o voto delas é decisivo

Orlando Almeida
Marcelo Rebelo de Sousa

Marcelo Rebelo de Sousa começou o seu discurso da vitória por “Portuguesas”. Durante todo o discurso as mulheres ocuparam o primeiro lugar nos vocativos e nas intenções. Tocando todos os quadrantes da sociedade (chegou a usar a frase muito cara à esquerda “O povo é quem mais ordena”) referiu-se sempre às “mulheres e homens”, às “candidatas e candidatos”. Mas esta não foi a primeira vez que o Presidente da República agora eleito colocou as mulheres em primeiro lugar no seu discurso.

“Ganham-se ou perdem-se as legislativas, e ganham-se ou perdem-se as presidenciais de acordo com o voto das mulheres”. A frase, dita por Marcelo Rebelo de Sousa no jantar de comemoração da fundação do núcleo de Mulheres Sociais Democratas (MSD) de Oeiras, ainda não tem um ano, mas surgiu largos meses antes de anunciar a sua candidatura. Marcelo defendia, então, a importância dos votos femininos. “Se houver intuição e empatia [junto das mulheres] ganham-se as eleições”.

A três dias do sufrágio e olhando para as candidatas a Belém, Marcelo reconhecia que as mulheres na política, em particular as da Esquerda [e onde se inclui Marisa Matias], traziam mexidas na política portuguesa. «Haverá efeitos no sistema de partidos, ligados com o papel de jovens, mulheres e de certa área política. Mais do que isso se verá», declarou numa entrevista à Caras.

Agora, numa altura de olhar para o futuro, o professor conta chegar a Belém sem uma primeira-dama. “Entendo que numa República, diversamente de uma monarquia, a família do Presidente da República não tem um papel a desempenhar em termos políticos. Pode ter acontecido e eu reconheço que possa até ter havido méritos nisso, com um contributo social dos cônjuges dos anteriores presidentes”, afirmou ao Expresso, reiterando que a discreta relação que mantém há anos com a professora de Direito Rita Amaral Cabral não terá uma projeção nas atividades políticas e que isso não constituiu um “handicap”.

Aos 67 anos, o professor, que até há menos de seis meses dava notas aos políticos e comentava a atualidade nacional aos domingos, na TVI, vai ocupar o cargo mais importante da nação. Militante há mais de 40 anos, foi líder do Partido Social Democrata há 20, tendo ocupado o cargo durante três anos.

Filho de um médico – que desempenhou o cargo de ministro as Corporações e do Ultramar – e uma assistente social, cedo Marcelo Rebelo de Sousa deu nas vistas como aluno brilhante nas várias escolas da capital por onde passou e isso foi também evidente quando concluiu o curso de Direito, com 19 valores. Foi também jornalista, nos anos da fundação do semanário Expresso, propriedade de Francisco Pinto Balsemão.

Em 1989, o mergulho no Tejo sob o olhar atento das câmaras de televisão deu-lhe a notoriedade que precisava para disputar a Câmara de Lisboa. Perdeu. Mas sete anos depois, era líder do partido. Pelo meio, nunca perdeu de vista o mundo do poder. Foi deputado à Assembleia Constituinte, foi ministro dos Assuntos Parlamentares no executivo de Balsemão (1981-1983) e, na última década, foi membro do Conselho de Estado. Tudo isto acumulado com uma carreira de professor catedrático, exercida na Faculdade de Direito de Lisboa e na Universidade Católica. Tem dois filhos – Sofia e Nuno – e cinco netos.