” Só acontece aos outros” foi o título escolhido por Maria Antónia Palla em 1970 e em 2017 não o alterou. Também não alterou o subtítulo “Histórias de violência”, que nos esclarece a que se dedicam as 240 do livro reeditado em novembro deste ano, 37 anos depois da sua estreia nas livrarias.
Mas o mais estranho de tudo é que as histórias escritas há quase quatro décadas também não foram alteradas. A autora apenas lhes acrescentou mais duas histórias de violência sobre mulheres, tema central de outras histórias que conta. Um destes novos relatos data a 1983 e o outro aconteceu este ano, 2017. Esta é a prova acabada que o tema se mantém atual há quarenta anos e que, apesar deste ano o número de mulheres assassinadas pelos companheiros ter baixado para 18 casos, ainda há muito para fazer nesta matéria. Só nos últimos 13 anos morreram 472 mulheres vítimas de violência doméstica.
Homicídio, violação, infanticídio e violência doméstica são alguns dos temas abordados em 14 histórias reais. Maria Antónia Palla foi a primeira mulher inscrita no sindicato dos jornalistas, uma das feministas portuguesas mais emblemáticas tendo-se destacado na luta pela despenalização do aborto – uma causa que a levou a sentar-se no banco dos réus em 1976 -foi ainda chefe de redação da Revista Máxima e é a mãe de António Costa, Primeiro Ministro de Portugal.
Aos 84 anos, esta mulher com uma vida recheada por causas, três casamentos e dois filhos (a mais velha morreu num acidente de viação), promete continuar a ser uma voz ativa na defesa do direito das mulheres, e no dia em que a voz lhe faltar ficam as muitas palavras que dedicou ao tema.
O livro foi reeditado pela Sibila Publicações e tem PVP de €15,90.
Imagem de destaque: Paulo Spranger /Global Imagens
Número de mulheres assassinadas em Portugal desceu, mas ainda são demais
