Maria do Céu Santo: “o sonho de qualquer pessoa é fazer amor e não ter só relações sexuais”

Fazer sexo demasiado cedo parece ser um dos maiores arrependimentos dos jovens, segundo um estudo britânico que pretendeu avaliar o comportamento sexual dos adolescentes. Mas em Portugal esta realidade está mais distante, até porque “já houve uma pressão maior do que há atualmente”, defende a ginecologista Maria do Céu Santo.

À boleia deste estudo britânico, que afirma que mais de um terço das mulheres e um quarto dos homens, desde a adolescência até ao início dos 20 anos, admitiram não ter perdido a virgindade “na altura certa”, o Delas.pt falou com a ginecologista e coordenadora do Núcleo de Medicina Sexual da Sociedade Portuguesa de Ginecologia, Maria do Céu Santo, para perceber a realidade dos adolescentes portugueses no que respeita ao início da sua vida sexual. Leia, em baixo, a entrevista:

Há ou não uma idade certa para perder a virgindade?
Não, de maneira nenhuma. Depende da maturidade do homem e da mulher, não é, porque é para os dois. E depende da relação que conseguiu construir com alguém. Porque o ideal é ser de facto uma relação com afeto e com amor e não só porque sim.

Sente que ainda existe pressão, quer do rapaz como da rapariga, para perder a virgindade?
Eu agora acho que menos. Acho que já houve uma pressão maior do que atualmente. Hoje, com a comunicação e tudo o que se tem falado sobre a sexualidade não há aquela vergonha de dizer que nunca teve relações, de maneira nenhuma.

Há algum sinal que nos mostre se estamos ou não prontos para perder a virgindade?
Não, sinal não. De facto é quando uma pessoa criou uma relação afetiva intensa e que tem maturidade. Mas não há um sinal. O problema é que às vezes é só aquela paixão momentânea que leva a isso. Mas o ideal, de facto, é quando a pessoa tem já alguma relação afetiva com o outro. Isto é muito melhor. Até porque o sonho de qualquer pessoa é fazer amor e não ter só relações [sexuais], não é? É o sonho de qualquer um, desde que haja uma relação afetiva com alguma duração e não ser só porque sim. Agora, a pessoa é que se tem que sentir confortável com isso. Não pode ser só porque sim. Até porque no mesmo grupo etário há mulheres que estão preparadas e homens que não. Tem a ver com as vivências e com várias outras coisas, com a maneira como a adolescente está consigo própria e com o seu corpo.

Sente que ainda há muitas pessoas que se arrependem da sua primeira vez?
Há, isso há. Porque a maior parte das vezes, a primeira vez não corresponde àquele sonho que as pessoas projetaram. Porque quando dizem a uma adolescente que fazer amor é ótimo, é como ir até à lua e ver estrelinhas, de facto aí cria-se um sonho. Outras vezes a informação que dão é que pode sangrar ou que dói e muitas vezes as adolescentes criam algum receio. Algumas pessoas arrependem-se porque acham que não correspondeu, de maneira nenhuma, àquilo que elas tinham idealizado e que não conseguiram o orgasmo. É extremamente frequente na primeira relação, mesmo que a pessoa goste do parceiro, não conseguir chegar ao orgasmo. É muito frequente. Mesmo na maioria das vezes.

Existe alguma média de idade, pelo que vê, para ser mais vulgar perder a virgindade?
Sinceramente lhe consigo dar essa informação atualizada. Eu sei que há estatísticas sobre isso, mas não lhe consigo dar essa informação. Acho que a comunicação social tem tido um aspeto muito positivo porque tem dado muito mais informação informada e que não é de maneira nenhuma para empurrar o início da sexualidade, antes pelo contrário. Informar é fazer prevenção das gravidezes não desejadas e das doenças de transmissão sexual e orientar os adolescentes, e não só, que a sexualidade com afeto tem outro sabor.

Pequenos testes para tirar eventuais dúvidas

Apesar de não existirem sinais concretos que provem se a pessoa está ou não preparada para começar a sua vida sexual, um estudo britânico desenvolveu um pequeno teste que promete ajudar os adolescentes a tomar essa decisão, pelo menos de forma um pouco mais informada. O objetivo é responder às questões apresentadas e, consoante as respostas, perceber até que ponto a pessoa está ou não preparada para perder a virgindade.

Na galeria de imagens acima pode ver os dois testes britânicos.

Sexualidade: existe uma idade certa para se perder a virgindade?