Maria Feist: prémios, teatro e um novo filme em Hollywood

Na nova geração de artistas portugueses que está a florescer em Hollywood, Maria Feist é um caso à parte. Aos 23 anos, a atriz portuguesa vai protagonizar um filme independente e acaba de assinar contrato com uma das companhias de teatro mais conceituadas da Califórnia, South Coast Repertory Theater. São dois projetos de rajada que se seguem à conquista do seu primeiro prémio como atriz principal, que recebeu pela peça “Memoriam”, dirigida por Amir Korangy.

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“Não estava à espera”, confessou a atriz ao Delas.pt, reconhecendo que receber o prémio foi um momento especial. Na peça premiada, Maria Feist interpretou Diana, uma mulher que perde a memória do que aconteceu na noite anterior. É o seu género preferido: enredos misteriosos, que põem os espectadores a saltar das cadeiras e estimulam conversas interessantes no final. “A moral da história é que podes inventar as desculpas todas para as pessoas que gostas e levar isso a extremos”, explica. “Às vezes, o amor é demasiado cego e tem de se ter cuidado e sair das situações. Não vale a pena defender uma pessoa que não vai mudar.”

Neste momento, Maria Feist está entre o início das filmagens de uma longa metragem com a Validus Productions, em Malibu, e os ensaios com a nova companhia para a peça “Really, really”, que estreia a 13 de julho. “Gosto muito de peças que fazem pensar e põem as pessoas a falar sobre o assunto”, reitera, sublinhando que tem tido a sorte de atuar sempre em salas esgotadas.

Los Angeles, a capital do cinema e das produções artísticas, é um mercado que valoriza muito as atuações ao vivo – teatro, bailado, musicais, magia e outro tipo de performances. “É pelo facto de ainda haver palcos com boa reputação, há pessoas que ainda gostam de ver ao vivo. Muita gente gosta de ir ao teatro”, refere. Exemplo disso é o sucesso estrondoso da peça “Hamilton”, criada por Lin-Manuel Miranda sobre um dos “pais” fundadores dos Estados Unidos da América, Alexander Hamilton. Os bilhetes para a estreia em Los Angeles, no Pantages Theater, foram postos à venda no final de abril e a fila começou a formar-se mais de 24 horas antes. Para alguns lugares, os preços vão até aos 1600 dólares.

Uma emigrante nas artes

Maria Feist chegou à Califórnia há três anos, com uma bolsa de estudo para a American Academy of Dramatic Arts. Desde então, entrou em inúmeras peças de teatro, ganhou o prémio de melhor atriz, protagoniza a série para web “Life as a Mermaid” e recebeu a proposta para integrar o South Coast Repertory Theater. Conseguiu um papel para uma série da Netflix que vai estrear em janeiro, mas o tipo de visto que tinha não lhe permitiu avançar com o projeto. Ainda assim, não tem parado. O novo filme que está a fazer é a cereja no topo do bolo.

“Tenho estado a conseguir trabalho e estou bem para continuar”, analisa. No entanto, não deixa de referir que o ambiente mudou bastante desde que Donald Trump venceu as eleições presidenciais e entrou em funções. “Já não sinto aquela segurança que tinha quando vim para cá”, nota. “Agora sei que, sendo emigrante, qualquer coisa que eu faça pode ser isso que me manda para casa.” Apesar de afirmar que é grande a diversidade em Los Angeles, refere que “há muito medo e raiva” na comunidade artística. “Há muita gente que se quer erguer, o pessoal está zangado.”

Sabe que o alvo maior da retórica extremista é a comunidade hispânica e islâmica, e já viu consequência disso à sua volta. “Muitos amigos mexicanos, do Chile, Argentina, voltaram para casa. Dois do Médio Oriente desistiram. Como amiga e como artista, dói.”

Quando chegou, em 2014, o ambiente era completamente aberto. Agora? “Dizem-me que não sou branca”, comenta. “Não me importo que me digam, não acho que seja uma ofensa”, ressalva. Normalmente assenta na definição de “mediterrânea” e isso cai-lhe bem.

No entanto, sabe que a sua situação é frágil. “Sou emigrante e estou nas artes”, resume. Uma das intenções da administração Trump é acabar com o financiamento público de arte, através do cancelamento do National Endowment for the Arts. “Não tenho medo de ser deportada, mas tenho medo que se fechem as portas”, confessa. “Está toda a gente a reagir por medo.”