Há muito tempo que a Igreja dizia que ela não era prostituta, mas recentemente veio reconhecer que era apóstola. Agora, no filme que estreia na próxima semana, Maria Madalena surge com um novo poder: o de referência espiritual. Empoderamento feminino na Bíblia? Sim. E – ironia das ironias – num dos últimos filmes produzidos por Harvey Weinstein.

A data de estreia em Portugal está marcada para dia 22, quinta-feira da próxima semana, mas este Maria Madalena realizado por Garth Davis (Lion, a Longa Estrada para Casa, 2016) já está a dar que falar. Principal motivo: foi produzido por Harvey Weinstein, entretanto caído em desgraça pelas acusações de assédio sexual, e, por isso mesmo, não tem ainda estreia marcada nos EUA. E isso, sendo uma má notícia para o realizador, não deixa de ser irónico também: o homem que é apontado como abusador de mulheres produziu um filme que dá poder a uma das mais marcantes da história da religião católica, Maria Madalena.

Maria Madalena é referida na Bíblia como mulher adúltera que conhece Jesus quando este salva de apedrejamento. Desde esse episódio, Maria Madalena segue Jesus tornado-se parte do grupo que o segue. Não há, no entanto, referência a que ela seja parte daqueles que aprendiam os ensinamentos de Cristo, os discípulos. Na Bíblia, Madalena aparece depois como a mulher que limpa o rosto de Jesus a caminho do Calvário e é a primeira a quem Jesus aparece em primeiro lugar depois da ressurreição, mas a tradição católica nunca deu a esta personagem dos Evangelhos um lugar de protagonismo.

A releitura que o filme de Garth Davis apresenta agora é a de uma mulher que é empoderada por Jesus para batizar mulheres e a partir dessa altura se torna também agente de evangelização. Como, à época, às mulheres é destinado um lugar secundário mesmo entre os apóstolos há quem se oponha ao protagonismo que Maria Madalena passa a ter na disseminação da Boa Nova. Aos que não a querem como apóstola, ela responde: “Não ficarei calada. Eu serei ouvida.”