Bullying em tempo de guerra. Cinco passos para travar agressões a alunos

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[Fotografia: Mikhail Nilov/Pexels]

O alerta tem vindo a ser dado, mas na quarta-feira, 2 de março, ganhou renovada força com uma carta aberta de três associações da comunidade eslava em Portugal e um grupo de pais a denunciarem o aumento de casos de ‘bullying’ nas escolas contra crianças que falam russo.

As entidades pediram, aliás, especial atenção a diretores e professores. “Este conflito internacional gerou maior desenvolvimento local de uma discriminação de origem nacional”, lê-se no documento subscrito por pais e pelas associações Sempre, Espaço Vivo e MIR.

De acordo com a carta, os casos discriminação intensificaram-se também nas escolas na sequência da invasão das forças russas à Ucrânia.”Um número de crianças que falam russo agora são recebidos com vergonha e ameaças de agressão de alguns de seus colegas de escola ou da turma. Obviamente, esse bullying foi desencadeado pelas ações que estão a desenvolver-se na Ucrânia”, referem.

O documento surge dias depois de a embaixada da Rússia ter instado os seus cidadãos em Portugal a contactarem as autoridades portuguesas e o serviço consular em caso de ameaças à sua segurança.

Para lá das recomendações e dos apelos, a psicóloga clínica especializada em situações de crise humanitária, Maria Palha, elenca ao Delas.pt ferramentas que pais, educadores e profissionais identifiquem e saibam lidar com eventuais casos de bullying em tempo de guerra e contra alunos das nacionalidades beligerantes.

Maria Palha, psicóloga clínica especializada em situações de crise humanitária [Fotografia: DR]
Maria Palha, psicóloga clínica especializada em situações de crise humanitária [Fotografia: DR]
Desde as explicações até ao tipo de atividades a desenvolver, esta especialista e fundadora da associação sem fins lucrativos Be Human – e que lida com casos de saúde mental em contexto de conflito – detalha o que deve ser dito e feito e o que importa evitar.

Abrir o diálogo sobre o que se está a passar

“Se para os adultos é difícil entender o que se passa, o que originou e quais os possíveis desfechos desta guerra, para crianças e jovens pode ser ainda mais difícil. A proposta é que se fale do que se está a passar, explicando o que pode gerar uma guerra e o que podemos sentir, mesmo que seja longe do nosso país. As guerras acontecem quando diferentes países ou grupos de pessoas lutam por algo que consideram importante, mas não estão de acordo e por isso usam violência para atingir o seu fim. Há muitas formas de discordar e muitas formas de negociar com as quais não concordamos, mas podemos ficar confusos quando assistimos a uma guerra entre dois lados. ”

Validar as emoções

“Falar do que podemos sentir quando presenciamos uma guerra: confusão, medo de podermos estar inseguros, de poder perder pessoas que gostamos. Ansiedade, alterações de apetite, de sono, falta de esperança no futuro e nas pessoas que nos rodeiam, zanga e revolta são algumas das emoções que podemos sentir e não entender. Há até pessoas que ficam muito agressivas com os outros e usam a violência como forma de expressão, nestas situações. É essencial falar sobre tudo isto e ajudar os mais novos a expressar estas emoções para que haja construção de paz e união e não distanciamento e discórdia. Há muitas formas de regular a zanga, mas uma delas pode ser criar uma “caixa mágica” onde o zangado desenha/descreve ou simplesmente amachuque uma folha de papel para que a Caixa mágica a recicle e transforme.”

Focar a humanidade

“Todas as guerras têm um lado muito desumano, mas trazem também um lado humano. Neste caso, todos os dias podemos ver pessoas a ajudarem os mais afetados por este conflito: doando, disponibilizando os seus recursos, manifestando o seu apoio em manifestações, etc.”

Evitar discursos polarizados

Quando presenciamos uma guerra, tendemos a defender os “bons” e os “maus” e acabamos por polarizar e estereotipar grupos, culturas, países e em último caso, pessoas. Relembrar que, em guerras entre países, há muitas pessoas que sofrem sem serem culpadas, e cabe-nos a nós cuidar de quem está ao nosso redor para construir a paz, ter empatia, compaixão, amor e respeito, neste caso, tanto por ucranianos, como russos que possam viver em Portugal. Por falar nisto, o que fez hoje para melhorar o dia de algum russo ou ucraniano?”

Encorajar atividades sociais de apoio

“É uma forma de trazer um significado e contributo ao que se está a passar, permitindo uma assimilação e não explosão de emoções difíceis.”