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Mariana Mortágua eleita líder do BE. As lutas contra o “pântano”, a força da irmã e a herança do pai

Mariana Mortágua sucede a Catarina Martins na liderança do Blco de Esquerda [Fotografia; PAULO SPRANGER/ Global Imagens]

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A líder do BE, Mariana Mortágua, avisou “os adversários” do partido que “ainda não viram nada” e apontou que o Bloco “é e sempre será o lugar das causas e das convicções”. No discurso da consagração como coordenadora do partido, sucedendo a Catarina Martins, a nova líder deixou claro o que quer e ao que vai, neste domingo, 28 de maio.

“Aos nossos adversários, para quem a esquerda é sempre um projeto condenado, já nos conhecem mas ainda não viram nada da força que vamos saber criar, reinventar, construir, unir”, afirmou a nova líder, eleita neste domingo, na XIII Convenção Nacional do BE, em Lisboa.

No seu discurso de vitória, logo após o anúncio dos resultados – e em que foi eleita por larga maioria -, Mariana Mortágua garantiu também que as mais de duas décadas de história do partido, as 13 convenções até agora, “esta sala cheia, são só o começo do BE”. A líder eleita considerou que atualmente se assiste “à degradação da vida pública” e que “é precisamente quando a vida pública se degrada que é mais preciso mostrar que no BE a política é e sempre será o lugar das causas e das convicções”.

“Não deixamos a política entregue ao calculismo nem a esse pântano em que verdade e mentira se confundem. A nossa política é uma paixão maior do que qualquer circunstância, é uma forma de impaciência, é uma vontade que ninguém pode domar”, salientou.

Depois de agradecer “a confiança do voto da Convenção”, Mariana Mortágua fez questão de deixar “algumas palavras pessoais”. “São sobre o que aqui me traz, sobre o compromisso militante que aprendi com a garra alentejana e sobre a sorte que tive de partilhar um percurso político com a minha irmã”.

Recordando que foi a sua irmã gémea, Joana Mortágua, que a convenceu que “no Bloco encontraria gente” como ela, Mariana Mortágua referiu-se ao pai, Camilo Mortágua, num momento que levou a sala a levantar-se, numa ovação de pé: “Herdámos do nosso pai uma memória de resistência contra a ditadura”.

“Bem sei que vemos hoje alguns vampiros que querem resgatar o ódio salazarento e que, para isso, tentam enxovalhar essa geração que os derrubou no passado”, disse, reiterando o orgulho em pessoas como o seu pai e deixando-lhes um agradecimento “por encontrar a beleza da luta pela liberdade” que permitiu a “democracia e a honra de nascer num país sem tirania nem colonialismo”.

Com uma promessa que os bloquistas não esquecerão o 25 de abril porque são “feitos da mesma fibra desses homens e dessas mulheres” farão “o que for necessário para que o nosso povo seja livre e soberano“, a nova líder voltou à sua irmã e arrancou risos aos presentes: “sei disso porque foi essa fibra que encontrei ao entrar no Bloco. A Joana nem sempre tem razão, desta vez tem razão”.

“Percebi como o Bloco comprova que se consegue o mais difícil: dizia-se que era impossível juntar tanta esquerda numa nova força com tanto impacto popular e superar a maldição do sectarismo e da divisão, que era impossível ganhar o referendo do aborto, era impossível obrigar o PS a desistir do congelamento das pensões e fazer um acordo em 2015 para afastar Passos Coelho. Diziam que era impossível, mas vencemos todas essas provas e em cada uma Portugal ficou melhor”, enalteceu.

“Celebrámos contigo, Catarina, sofremos contigo, vibrámos sempre contigo”

É neste momento que surgiu a palavra de agradecimento e reconhecimento à mulher a quem sucede na liderança do BE. “Nestes anos, vi de muito perto a força imparável da Catarina Martins, que desde o primeiro dia dos seus mandatos provou ser a melhor de todas nós. Celebrámos contigo, Catarina, sofremos contigo, vibrámos sempre contigo. Fizemos o que muitos achavam inviável: revertemos cortes salariais e de pensões impostos pela direita, baixamos o valor das propinas e dos passes sociais, tributámos os patrimónios milionários para proteger a segurança social, não cedemos na luta pelo SNS. E, com a força simbólica de concluir uma luta de 14 anos, uma luta que tem a marca do João Semedo, conseguimos o direito à escolha pela morte assistida”, agradeceu, garantindo que continua a contar com Catarina Martins.

A moção A, intitulada Uma força, muitas lutas“, de Mariana Mortágua, foi a mais votada na XIII Convenção Nacional do Bloco de Esquerda, com 439 votos, enquanto a moção E, de Pedro Soares conseguiu 78 votos.

O projeto vencedor é subscrito por diferentes nomes da atual direção, incluindo a líder cessante, Catarina Martins, e conseguiu eleger 81% dos delegados. Como a contagem dos votos demorou alguns minutos, o dirigente e eurodeputado José Gusmão, que estava a conduzir os trabalhos, foi dando palavras de incentivo para que os delegados mantivessem a credencial no ar e pediu “vigor”.

CB com Lusa