A secretária de Estado francesa para a Economia Social e Vida Comunitária e antiga ministra para a Igualdade, Marlène Schiappa, protagonizou polémica e, consequente, recorde ao ter feito capa da edição de abril/junho da versão francesa da revista Playboy. Em apenas três horas, a revista – que habitualmente vende 30 mil exemplares – esgotou com 100 mil e prepara reedição para esta quinta-feira, 20 de abril.
Os números foram avançados pelo diretor da publicação Jean-Christophe Florentin antecipa a chegada de mais 60 mil já esta quinta-feira, 20 de abril.
Ter sido capa da revista Playboy, protagonizado um ensaio fotográfico com marcas de moda de renome e em lingerie e concedido uma longa entrevista de 12 páginas em torno dos direitos das mulheres tudo isto foi, para Marlène Schiappa, uma maneira de deixar bem clara a liberdade sobre o seu próprio corpo. A antiga ministra da igualdade vincou no Twitter que “defender o direito das mulheres de controlar seus corpos está em toda parte e o tempo todo”. “Em França, as mulheres são livres”, acrescentou.
As críticas à decisão foram audíveis, quer dentro do partido e da oposição, quer do governo, sobretudo por ter tido lugar numa altura em que o país está a ferro e fogo após a decisão de alargamento da idade da reforma dos 62 para os 64 anos aprovada pelo presidente Emmanuel Macron e para entrar em vigor em 2030. Foi também decretada o aumento da contribuição para 43 anos a partir de 2027 para o direito a uma reforma total. Duas medidas que têm levado franceses aos protestos e às ruas, há semanas.
Em conferência de imprensa o porta-voz do governo, Olivier Vérann, afirmou esta terça-feira, 4 de abril que “Marlène Schiappa está a travar uma luta em prol dos direitos das mulheres que ninguém pode retirar ou contestar, às vezes com digressão, mas com eficácia e acima de tudo com sinceridade”. Vários membros do governo já tinham manifestado apoio a Schiappa, como o ministro da Justiça, Eric Dupond-Moretti, ou o ministro do Interior, Gérald Darmanin.
No entanto, a primeira-ministra, Élisabeth Borne, terá telefonado, segundo fontes próximas avançadas pela agência France Presse, para Schiappa e ter-lhe-á dito que considerava a sua aparição na revista erótica “totalmente inadequada”, no atual contexto de tensão devido a uma impopular reforma da Segurança Social.
A oposição de esquerda criticou a estratégia de comunicação do governo, depois de o ministro do Trabalho, Olivier Dussopt, ter aparecido na revista LGBTQIA+ Têtu e de Macron ter dado uma entrevista à revista infantil Pif Gadget. “Estamos no meio de uma crise social (…) e tenho a impressão de que há uma cortina de fumo entre Têtu, Pif Gadget e Playboy”, lamentou a deputada ecofeminista Sandrine Rousseau na BFMTV. “A França está a sair dos trilhos”, de acordo com o líder de esquerda Jean-Luc Mélenchon.