Marlene Vieira e Laura Rocha: As duas mulheres que forçam a corrente no ‘Peixe em Lisboa’

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Marlene Vieira e Laura Rocha são as duas únicas chefs mulheres com representação permanente na edição deste ano do ‘Peixe em Lisboa’. O evento de gastronomia, que se realiza anualmente em Lisboa e que homenageia o peixe, o marisco e a cozinha de autor, está de volta até 14 de abril, novamente no Pavilhão Carlos Lopes.

Nesta 12ª edição do certame há algumas novidades na organização do espaço, sobretudo, como a esplanada ao ar livre e a reformulação do recinto, que passou a incluir o auditório. Outra das grandes novidades foi a transferência do mercado para a zona das galerias do Pavilhão, registando-se ainda “várias alterações na decoração e mobiliário, como, por exemplo, as zonas lounge”, explica ao Delas.pt Duarte Galvão, diretor do evento.

Entre apresentações no auditório e presenças nos restaurantes, são cerca de 25 os chefs que participam nesta edição, além dos jovens talentos. Marlene Vieira e Laura Rocha asseguram a representação feminina permanente (ainda escassa no evento) e ao mesmo tempo refletem diferentes gerações de chefs, com experiências e formações distintas.

Duas mulheres, duas gerações de chefs

Apesar de ser mais nova Marlene Vieira já soma, pelo menos, duas participações em nome próprio, no Peixe em Lisboa, além de já ter estado em mais duas edições com o marido, o também chefe de cozinha João Sá. “Gosto muito de desafios, de convívios e novas dinâmicas fora das nossa cozinha e da sair zona de conforto, também de a dar a conhecer a novos potenciais clientes”, diz ao Delas.pt, quando questionada sobre a a importância de integrar o lote de chefs convidados para um evento com estas características.

A chef de 38 anos, deu os primeiros passos nesta área aos 12 anos “nas férias de verão num restaurante de cozinha francesa”. Aos 15 estava a entrar numa escola profissional de cozinha em Santa Maria da Feira e fiz um percurso de trabalho por alguns hotéis de luxo, estive em Nova Iorque dois anos e voltei de seguida para Portugal. Trabalhei com o chefe Luis Baena que talvez tenha sido o chefe que me deu mais asas para voar e aos 32 anos assumi o primeiro restaurante a solo – o Avenue”, conta.

Marlene Vieira [Fotografia: Gonçalo Vilaverde / Global Imagens]

Atualmente, Marlene Vieira, que se tornou conhecida do grande público depois de ter sido jurada do concurso Chef’s Academy, da RTP, acumula um espaço com o seu nome no Time Out Market, no Mercado da Ribeira, em Lisboa, e o restaurante o “Panorâmico”, no Tagus Park , em Oeiras.

Um percurso diferente do de Laura Rocha, de 54 anos, que começou aos 18 na na cozinha do restaurante Beira-Mar, em Cascais. “Nessa cozinha evolui e aprendi. Mais tarde os donos do Beira-Mar abriram mais um restaurante, o Monte Mar e eu fui chefiar a equipa”, recorda.

Laura Rocha admite que não é fácil uma mulher impor-se num meio que ainda é predominantemente liderado pelo sexo masculino. “É preciso ter pulso, muitas vezes os homens não aceitam tão bem a autoridade da mulher”. Por outro lado, ressalva, “muitas vezes temos mais jeito e sensibilidade para saber levar a água ao nosso moinho”.

Marlene Vieira não vê grandes diferenças de género na liderança deste tipo de cozinha, atribuindo as que existem a características individuais. “Existem diferenças pessoais, cada chefe é um chefe e nada tem a ver com género”, afirma.

Como se explica então que haja tão poucas mulheres nesta área mais diretiva e estratégica, quando nas copas e noutros níveis de restauração a sua presença é significativa?

“Acho que esta área de trabalho não agrada a muitas mulheres, talvez por ser uma área muito competitiva e de muita exposição social e possivelmente as mulheres gostam de estar em trabalhos mais reservadas”, pondera Marlene Vieira. No entanto, a chef ressalva que há “cada vez mais mulheres interessadas e já existem muitas mulheres na cozinha ao lados dos chefes. Talvez seja uma questão de tempo para as vermos mais expostas e assumir cargos de liderança”.

Laura Rocha [Fotografia: DR]
Laura Rocha é de outra geração e, apesar de concordar que “algumas mulheres chefes de cozinha, normalmente ficam mais escondidas”, resume a explicação para a sua pouca representatividade na liderança a uma realidade transversal a mulheres de vários setores de atividade: “talvez por ser difícil conciliar a vida familiar, especialmente se temos filhos”.

O festival lisboeta confirma um pouco esse cenário, que acaba por traduzir a realidade no setor da restauração de autor, um pouco por todo o mundo.

“O ‘Peixe em Lisboa’ reflete o que acontece na cozinha portuguesa (e um pouco na internacional) e a verdade é que na cozinha mais criativa, que é a mais presente no evento, ainda são poucas as mulheres chefes. Mesmo assim, temos Marlene Vieira e Laura Rocha (Monte Mar) nos restaurantes, e Justa Nobre nas apresentações”, refere Duarte Galvão, diretor do evento.

Duarte Galvão, diretor do ‘Peixe em Lisboa’ [DR]
Apesar dessa realidade, a organização tem feito um esforço para inverter esse cenário, segundo refere Duarte Galvão. “Na medida do possível, ao longo destes anos, temos procurado também convidar grandes chefes internacionais, como Elena Arzak e, no ano passado, Ana Ros, então eleita Melhor Chefe Feminina do Mundo”.

Este ano, diz o responsável, o ‘Peixe em Lisboa ‘tentou trazer a chef francesa, com duas estrelas Michelin, Hélène Darroze, “mas ela não podia vir”, lamenta o responsável, reiterando que “são ainda muito poucas”, as mulheres, “neste tipo de cozinha”. Mas, acredita, “até pelo exemplo que elas dão”, estarem a surgir cada vez mais, em Portugal e noutros países, “por isso é natural que a sua presença venha a aumentar”, em futuras edições do evento.

Os diferentes sabores do mar à mesa

A chef do Monte Mar faz a sua primeira participação no ‘Peixe em Lisboa’, uma estreia que a deixa “vaidosa” e que considera “importante” para poder mostrar aquilo que faz e dar a conhecer os pratos que confeciona àqueles que não conhecem o seu restaurante. Entre eles, estão a “famosa sapateira recheada, os filetes de pescada com arroz de berbigão (que é a especialidade do Monte Mar), peixe ao sal, Filetes de polvo entre outros”.

Já Marlene Vieira leva três pratos que estão presentes no food corner do Time Out Market – sapateira & abacate, camarão crocante, manjericão e maionese de caril, arroz cremoso de berbigão à Bulhão Pato com espadarte rosa – três novidades – vieiras e tupinambur, mexilhões e velouté, sanduíche quente de robalo, bacon e açafrão – ainda duas sobremesas – pataniscas doces e New York cheesecake.

O ‘Peixe em Lisboa’, que conta também com a presença de chefes internacionais, recebe este ano nomes como Gert de Mangeleer, Oriol Castro, Michel Van der Kroft, Marco Stabile e Evgeny Vikentev.

A entrada para o evento custa €15 por pessoa, que incluem diferentes valores de consumo consoante os dias. Segunda-feira (dia 8 de abril) é o “Dia Económico”, em que uma entrada dá direito a um consumo de €10 nos restaurantes ao longo de todo o dia. Durante os dias de semana, entre as 12h00 e as 15h00, a entrada no ‘Peixe em Lisboa’ dá direito a duas degustações de €5. Mais informações e toda programação neste link.