Maro estreia-se esta sexta-feira, 6 de julho, no palco do Capitólio, em Lisboa, para um concerto só dela. Domingo, dia 8, será a Casa da Música, no Porto, a receber o espetáculo da jovem cantora.

Tem 23 anos é portuguesa e está a viver nos Estados Unidos da América. No início deste ano, Rui Veloso considerou-a a promessa da música portuguesa para 2018 e Carolina Deslandes destaca a voz da jovem como uma das vozes mais bonitas que já ouviu. Falamos de Mariana Secca, mais conhecida por Maro no meio artístico e entre amigos.

Atualmente vive em Los Angeles, mas foi em Boston que a jornada começou, tendo sido a cidade escolhida pela jovem quando decidiu apostar na música. Este mês está de visita às origens e o Delas.pt não perdeu a oportunidade de conversar com Maro.

Além de ter tocado e cantado (como pode ver no vídeo acima), falou do percurso que tem feito a nível musical e do primeiro videoclipe oficial, lançado em maio deste ano. Revelou os sonhos de criança, como surgiu a alcunha Maro e deu a conhecer um pouco os novos projetos que aí vêm.

Irrequieta, desde que chegou a Lisboa, tem andado numa roda-viva. Marcou presença no Rock in Rio Lisboa 2018, a 23 de junho, onde subiu ao Palco Mundo com Carolina Deslandes e tem registado vários momentos com outros cantores portugueses no Instagram – Cuca Roseta, Luísa Sobral, Carolina Deslandes, António Zambujo e Rui Veloso são alguns deles.

Ainda antes de regressar aos Estados Unidos, Maro estreia-se em palco, tendo dois concertos agendados no início deste mês. A 6 de julho, esta sexta-feira, vai atuar no Teatro Capitólio, em Lisboa, pelas 22h. Dois dias depois, a 8 de julho, às 22h de domingo, estará na Casa da Música, no Porto.

Os espetáculos vão dar a conhecer o primeiro álbum da cantora. Organizado de forma cronológica, este trabalho pioneiro apresenta os temas que Maro compôs desde dos 12 anos até 2017, ano em que terminou os estudos na escola de música de Berklee, nos Estados Unidos.

Maro, cantora portuguesa [Fotografia: Gerardo Santos / Global Imagens]

Como é que a música entrou na vida da Maro?

A minha mãe sempre fez música, estudou e ensina música. E nós os três – eu tenho dois irmãos – começámos a estudar piano quando tínhamos quatro anos e eu acabei por seguir esse caminho… Piano clássico. Já guitarra aprendi sozinha. Sempre vi o meu pai tocar, porque apesar de não ser músico, sempre tocou. Foi um bocadinho ter as guitarras em casa e ver alguém a fazer algo e: “Ahh eu quero…”. Um dia tocou uma música tão bonita e eu: “É hoje. É hoje que eu vou aprender!”. Lembro-me de ir buscar a guitarra e começar às voltas naquilo. Gostei imenso. Apaixonei-me um bocadinho pelo instrumento.

E desde cedo percebeu que a música seria o caminho a seguir?

Nunca pensei ser ou ir pela música. Achei que ia ser veterinária a minha vida toda. Adorava animais e era um bocado aquilo de: “Adoro animais e vou para medicina veterinária”. Só no ano em que parei para fazer melhoria de exames é que tive tempo para pensar, e percebi: “Realmente acho que não vou ser tão feliz como quando ouço a música que gosto ou quando toco um instrumento de que gosto”. Acabou por haver assim uma volta de 180º. Não, afinal não vou para veterinária.

“Nunca pensei ser ou ir pela música. Achei que ia ser veterinária a minha vida toda”

Como foi apresentar essa decisão à família?

Não foi difícil porque já tenho músicos na família. Acabou por ser um bocadinho surpreendente o facto de querer, de repente, ir para a América. Porque não foi: “Ok, vamos estudar em Portugal”. Não. Há esta escola para a qual quero ir e é em Boston, do outro lado do oceano. Mas pronto, as coisas acabaram por correr bem e tive muito apoio da família e fui mesmo estudar para lá.

Sim, a Maro nasceu e cresceu em Lisboa. Como foi mudar-se para a América?

Primeiro fui para Boston, onde estudei durante três anos. Acho que o choque de ir para a América aconteceu aí. Entrei na Berklee, em Boston, e fui para lá estudar. Los Angeles (LA) acabou por ser um bocadinho uma repercussão do percurso na escola. É diferente de Boston, mas ainda sabe um bocadinho a América.

E o nome Maro surgiu nessas andanças?

Sim… Quando fui estudar na Berklee, uma amiga minha, uma das minhas melhores amigas do Quénia, começou a chamar-me Maro como alcunha. E é engraçado, porque quando eu era mais miúda era assim um sonho ter uma alcunha. Achava giríssimo ter uma maneira de dizer o nome que não fosse só o nome formal e o nome que nós escrevíamos nos testes da escola. Então quando ela começou a chamar-me Maro: “Ah gosto disso… gosto mesmo!”. Além disso, numa escola com tanta gente e de todos os lados do mundo, Maro é muito mais fácil de dizer do que Mariana. Acabei por ganhar um carinho especial por esse nome, também porque foi a alcunha que a minha melhor amiga me deu. Depois, por ser mais fácil, passou também a nome artístico, e acho que fica no ouvido.

“Penso que há uma certa magia quando se canta na nossa língua materna”

Além do nome diferente, que característica a distingue na música?

Talvez o facto de tocar um bocadinho de tudo. De tudo… Claro que não de tudo, mas não ser só piano, ou só voz ou só guitarra. Arranjo maneira de me acompanhar com o que tiver. E se calhar também o tom da voz? É o que tenho ouvido dizer, mas não tenho noção, porque quando me ouço, para mim, é sempre um bocadinho estranho.

A Maro canta em inglês e em português. Tem preferência por alguma das línguas?

Cantar em inglês tornou-se bastante natural quando fui estudar para fora, porque acabei por começar a sonhar em inglês e não falava em português com ninguém de lá. Mas penso que há uma certa magia quando se canta na nossa língua materna. Quando canto em português há qualquer coisa que muda e já tive muita gente a dizer-me isso: “Ah quando cantas em português há qualquer coisa…” e de facto, também sinto isso. Acaba por ser um bocadinho mais especial nesse aspeto.

E quanto a ídolos na música?

Nacionais sempre o Rui Veloso. Sempre foi uma imagem muito grande na minha vida, mesmo quando não sabia que ia fazer música, cantava as músicas dele desde miúda. Sou muito fã também da Luísa Sobral e das composições dela. A Carolina Deslandes… tem sido um prazer enorme conhecê-la e fazer parte do trabalho dela, do qual sou grande fã. Sérgio Godinho também ouvia muito, Ornatos… Incríveis! Há muitos artistas nacionais que adoro. Depois lá de fora, sempre ouvi um bocadinho de tudo: Beatles; Rajery, que é um artista de Madagáscar que eu adoro e que me influenciou grandemente; artistas mais folk, como The Staves; Jazz, com Esperanza Spalding. Portanto há um bocadinho de todo o lado.

“Cantava às escondidas e, entretanto, acabei por começar a brincar no computador e a tentar gravar”

Falou de Rui Veloso que, no início deste ano, a considerou uma das promessas da música portuguesa. Como é ouvir alguém que idolatra falar bem do trabalho que tem apresentado?

É inacreditável mesmo. Eu lembro-me que quando o conheci foi… Lembro-me que durante os primeiros dez minutos não queria acreditar. “Não, isto não está acontecer. Não está a acontecer. O Rui Veloso”. Depois a parte bonita é conhecê-lo e perceber que é tão humano quanto nós! É uma pessoa com um talento enorme, mas muito generoso também, e acabou por me aceitar quase como família. É incrível.

A Maro começa a ter maior projeção agora, mas o seu trabalho já tem alguns anos. Em 2013 começou a partilhar a música que fazia no YouTube. Porquê nessa plataforma?

Começou um bocadinho como brincadeira, eu cantava às escondidas e, entretanto, acabei por começar a brincar no computador e a tentar gravar. Uma das minhas grandes amigas da altura era ótima em fotografia e filme, então acabámos por fazer uma parceria, completamente na desportiva. Fizemos uns vídeos e como estavam feitos partilhámos no YouTube. Ainda hoje é uma plataforma muito fácil de usar em termos de exposição de trabalho.

“As músicas têm uma coisa incrível e muito mágica, que é o facto de nós conseguirmos pôr a nossa história no que o artista gravou e cantou e tocou”

Plataforma à qual recorre ainda hoje e onde apresentou, recentemente, o primeiro videoclip oficial que pertence à música O Que Será de Ti. Esse pequeno vídeo tem como protagonistas 13 mulheres, incluindo caras conhecidas como Iva Domingues e Sandra Cóias. Porquê só mulheres?

Escrevi essa música quando tinha 13 anos, depois de descobrir que uma amiga minha era adotada. Começou por aí, por conhecer a adoção, assuntos relacionados com a maternidade e a existência de mulheres que não ficavam com os seus bebés. Descobri que isso era algo muito real, apesar de eu não saber que existia, então para mim foi: ‘Como é que eu tenho 13 anos e nunca ouvi falar disto?!”. Nesse mesmo dia, pus-me um bocado na pele de uma mulher que mais tarde pensa nisso, pensa no que aconteceu e como é que se calhar a vida teria sido diferente e escrevi. O Que Será de Ti fala dessa situação, por isso achei que faria sentido escolher mulheres de idades diferentes e de raças diferentes, de feitios diferentes e que conseguissem sentir o que eu digo, que conseguissem pôr-se naquela pele. Quis fazer uma coisa que fosse minimamente discreta. Não quis nunca impingir este assunto, porque penso que as músicas têm uma coisa incrível e muito mágica, que é o facto de nós conseguirmos pôr a nossa história no que o artista gravou e cantou e tocou. Mesmo que não tenha escrito sobre um assunto amoroso, se há alguém que ouve e que se relaciona com a música nesse aspeto, então quero que seja isso que tira da música. Por isso, tentei que no vídeo não fosse: “Olhem isto é sobre… isto”. Se dá para tirar algo diferente, então quero que haja espaço para o fazer. Portanto, dei só uma dica, mais discreta, e o resto fica para como quiserem interpretar.

Essa música de que falava faz este ano dez anos. Compõe desde cedo, continua a compor?

Sim, sim. Escrevo sempre. Há uns temas que têm sido mesmo escritos para determinados projetos. O trabalho que vai sair em julho foi uma ideia: “Ok, quero fazer um EP”, então escrevi quatro músicas de propósito. Às vezes há esta maneira de abordar a música, que é escrever para um determinado projeto, como também pode acontecer o que aconteceu com os volumes deste primeiro álbum em que eu vou escrevendo ao longo do tempo e depois, um dia mais tarde, resolvo fazer uma compilação com todos.

[Fotografia: Gerardo Santos / Global Imagens]

É essa compilação que vai trazer aos concertos em Lisboa e no Porto. Quais as expectativas?

Estou um bocadinho nervosa, claro. Mas é muito bom poder tocar com uma banda incrível e eu vou tocar com o Carlos Miguel Antunes na bateria, Mário Franco no contrabaixo e Manuel Rocha na guitarra. A minha irmã também vai cantar comigo. O facto de ter uma banda musicalmente muito boa e grandes amigos acaba por dar um conforto. Ir tocar as minhas músicas no palco, com pessoas que eu adoro e ter pessoas que quererão ir ver, também entusiasma bastante. Portanto… nervosa, mas realmente contente por ter a oportunidade de tocar no Capitólio e na Casa da Música.

E novos projetos? O que é que aí vem?

Neste momento estou com vários projetos diferentes e de estilos diferentes a caminho. E essa é a parte boa de estar fora e com pessoas de todo o lado do mundo, é que dá para viver culturas diferentes e estilos diferentes de música. Tenho um projeto que vai sair em julho, mais música eletrónica barra Pop, barra nem sei… R&B se calhar, não sei muito bem. E depois, mais para o fim do ano, tenho um mais acústico, só com músicas portuguesas. Ainda não vou anunciar nada, porque não sei muito bem, mas tenho estado a tentar gravar o mais que consigo e a trabalhar. Se tudo correr bem hei de ter uns projetos a sair antes do fim do ano.

[Fotografias: Gerardo Santos / Global Imagens]

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