Marques’Almeida: “Estamos interessados em realismo, em fazer um desfile com o que se vê na rua”

Marta Marques e Paulo Almeida são os nomes que fundaram a Marques’Almeida, em 2011. Hoje, são os criadores portugueses com marca própria mais conhecidos do mundo e mais adorados pelas principais editoras e influencers nesta indústria. Depois de anos a desfilar na semana de moda londrina, a Marques’Almeida fez esta ano, pela primeira vez, parte do calendário da moda parisiense. Mas provavelmente o desfile mais especial para a dupla foi o deste sábado, 20 de outubro, à beira do Rio Douro, no âmbito do Portugal Fashion.

Regressar a casa é sempre especial, e o sorriso dos designers no final do desfile denunciou uma ternura e conforto, típicos de quem está na sua terra. O desfile inaugurou o último dia de Portugal Fashion, às 11h30. Um horário vespertino que permitiu um desfile na rua, com o Cais de Gaia como pano de fundo e uma luz natural que trouxe qualquer coisa de mágico ao momento.

Os designers não quiseram os bastidores escondidos e antes do desfile qualquer um podia entrar na sala com um portão enorme aberto para ver de perto a roupa de que tanto se fala lá fora. Os lugares sentados estavam na rua com poucos bancos corridos mas espaço para quem quisesse assistir de pé. A primeira fila, ao contrário do que é habitual, não tinha um único lugar reservado, porque para Marques’Almeida todo o público é importante. Uma simplicidade e pés no chão que confirmámos quando falámos com os criadores no final do desfile.

Marta Marques a abraçar modelo no final do desfile da Marques’ Almeida. ( Igor Martins / Global Imagens )

Como é voltar a apresentar em Portugal?

Marta: É uma sensação maravilhosa, sobretudo neste sítio tão especial.

Paulo: Eu e a Marta estudámos aqui no Porto. E ter a oportunidade depois de estar fora a apresentar coleções, é muito bom puder voltar a casa e estar um bocadinho perto da família.

É muito diferente preparar um desfile em Londres e Paris, e preparar um em Portugal?

M: Sinceramente não. Acho que é a mesma coisa. Temos a sorte de ter equipas ótimas e cheias de boa vontade à nossa volta. As nossas M’A girls que vêm de todo o lado para fazer o desfile connosco, porque é uma experiência e oportunidade boa para elas.

Desde o início que juntam no desfile modelos mas também as vossas embaixadoras, as M’A Girls. Porque é que apostam neste casting tão diverso e com pessoas que realmente compram e usam a marca?

M: Nós estamos interessados em realismo, em fazer um desfile com o que se veria na rua. Não estamos interessados em criar uma imagem irrealista.

P: Nunca nos interessou uma imagem apenas de uma rapariga de 2 m, quando nem toda a gente tem 2 m de altura. Gostamos dessa variedade de pessoas e de maneira de ser.

M: A outra razão é porque achamos que as raparigas que fazem este desfile e mostram moda, não têm valor apenas pela imagem, mas também pela sua atitude, postura, numa aura que têm ou qualquer coisa. E isso não se encontra só em modelos de agência, encontra-se em todo lado. Para nós isso é que é interessante, encontrar essas raparigas e perceber o que elas fazem e quão especiais são todas e depois trazê-las para o desfile.

P: Elas têm sido uma inspiração para a forma como trabalhamos, e é muito bom contar com a personalidade diferente delas.

Esta coleção tem muito de Portugal. Não só o fado que pautou o desfile mas também os bordados de Guimarães e as franjas inspiradas nos xailes fadista. Porquê trazer uma coleção tão portuguesa neste regresso a casa?

M: Acho que nós nunca sabemos muito bem porque é que fazemos as coisas. Mas diria que numa altura de tantas mudanças na marca e em Londres, é instintivo olhar para as nossas raízes e sentir que isso é que nos segura em qualquer mudança que possamos fazer.

P: Na verdade foi uma grande coincidência porque ainda antes do Portugal fashion ter falado connosco esta coleção já estava pronta. Foi um timing perfeito.

Estão com saudades de casa?

M e P: Imensas sempre, desde o primeiro dia.

Esperam voltar para Portugal e centrar mais a marca cá do que em Londres?

M: Nós já temos uma pequena sede da Marques’Almeida em Portugal sobretudo na parte de produção e ligação à indústria. A ideia é que isso cresça também. Nós vivemos com um pé cá e um pé lá.

Imagem destaque: Igor Martins/Global Imagens

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