Marta Wahnon: “Quem foi bulímica e diga que já passou… é mentira”

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Marta Wahnon, 44 anos, foi relações públicas durante 15 anos, mas há cerca de dois decidiu mudar completamente de vida, trocou o computador pelos tachos e lançou a Be Well. Hoje, Marta dedica o seu tempo à cozinha, elabora planos Detox e menus saudáveis personalizados.

Apesar de não ser nutricionista, é uma apaixonada por cozinha e conhece cada alimento como a palma das suas mãos. O Delas.pt falou com a empresária para saber mais sobre alimentação saudável, mas também sobre a sua mudança brusca de carreira e sobre a bulimia, uma doença que lhe bateu à porta no final adolescência.

Como é que começou a Be Well?

Começou há cerca de três anos, quando precisava, após um verão de trabalho, de desintoxicar-me. Fiz um programa de sopas, achei que não ia aguentar e a verdade é que, ao fim de três dias, tive mesmo que jantar na terceira noite. Achei que ia estragar tudo, mas não. Acordei com a sensação de querer fazer mais e melhor e desafiei-me novamente. Repeti. A minha pele estava melhor, estava a dormir melhor e foi quando comecei a investigar mais sobre o tema. Aprendi mais sobre a composição e complementaridade da alimentação e a sua relação com o nosso dia-a-dia e com o nosso funcionamento. Para criar a Be Well, aliei a esta aprendizagem ao meu gosto pelas saladas. Quis juntar todos os componentes e benefícios da alimentação em prol de um bom prato, desde que este fosse sempre com cor e sabor. Ao contrário do que se pensa, comer bem não tem que ser necessariamente sinónimo de uma comida enfadonha, aquela comida sem graça, como eu costumo dizer “a comida de hospital”.

E quanto a esse primeiro Detox, a Marta fez alguma pesquisa para saber que sopas devia fazer?

Sim. Na altura eu até falei com uma autora do livro da Sopas e Descanso, Elina Fuhrman. Ela contou-me a sua história. É romena, mas já vive na Califórnia, creio que há 40 anos, e fiquei bastante intrigada com o que li. Depois falei com ela e percebi a veracidade da informação. Foi a partir daqui que tentei perceber qual a razão da ordem das sopas, em função do nosso metabolismo. Depois, aliado a isto, também tive uns anjinhos da guarda que me acolheram, como a doutora Paula Mota, especialista em epigenética, que me ajudou muito. Por fim, também procuro estar presente em simpósios sobre nutrição, ou medicina quântica, tudo isto são ferramentas para complementar o meu trabalho. Jamais, longe de mim, querer ser ou parecer uma nutricionista.

“A minha pele estava melhor, estava a dormir melhor e foi quando comecei a investigar mais sobre o tema”

Então como é que a Marta se define?

Uma apaixonada por alimentação saudável que procura perceber o que está a fazer. Não junto apenas o peru com os grelos porque sim, mas porque o que estou a fazer é mais juntar a proteína animal com o cálcio. Quando u faço um menu detox Be Well procuro sempre a ajuda da Dr. Paula Mota para saber o que estou a recomendar. Acima de tudo, isto é uma partilha de experiências que me fazem bem a mim e, pelo feedback que tenho, às pessoas que as consomem. Quando alguém me pede: “Marta, preciso de perder x quilos, diga-me uma maneira…” Respondo que posso recomendar um nutricionista. Agora, se a pessoa quiser fazer uma experiência de eliminar toxinas, perder peso por consequência, experimentar outros sabores e fazer a experiência de durante três dias ou mais, variar a sua alimentação e encaminhar os seus hábitos alimentares por uma forma mais saudável, então, aí sim, chame pela Be Well. São dois conceitos que, embora distintos, complementam-se, mas faço questão de os manter bem separados.

Porque é que é tão importante, de vez em quando, desintoxicarmos o nosso corpo?
Não sou nada fundamentalista. Todos estamos cá para aproveitarmos os prazeres da vida, experimentarmos um bocadinho de tudo. Mas temos que encontrar um ponto de equilíbrio, devemos saber o que é excessivo. Agora, dentro do equilíbrio, que é onde nós podemos encontrar a harmonia dentro do nosso próprio corpo, também temos que cometer excessos. Com o detox sentimos que eliminamos esses exageros. E a verdade é que, ao fazermos isso, sentimos logo o corpo a responder. Não é por termos 50 anos que devemos pensar que o corpo não vai responder a nada. Claro que vai, o corpo responde sempre.

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Quais são os sintomas imediatos sentidos quando uma pessoa começa a fazer o detox?

Desinchar e dormir. Dizem-me logo que sentem mais energia e desincham, que não é necessariamente perda de peso. Sentem que estão com o pensamento mais claro.

Qual é a principal diferença de preparar uma receita detox e uma receita normal?

Num plano alimentar, que seja um detox, procuramos a compensação das vitaminas, que não podemos encontrar nos vegetais ou na fruta, e procuramos integrar no plano alimentar alguns suplementos, sejam os superalimentos ou as proteínas, de forma a ter sempre tudo equilibrado. Ou seja, quando nós fazemos apenas um plano individual personalizado é, apenas, para pessoas que procuram uma alimentação equilibrada, saborosa e variada, mas que não têm tempo para cozinhar. Com o dito plano personalizado, já sabe que tem sempre algo para poder picar, que é sempre uma coisa mais gulosa. E aí sim, nesse caso “abusamos”, pomos uma quantidade normal. Num plano detox, as quantidades são um bocadinho mais reduzidas. É preciso saber equilibrar e encontrar as vitaminas e os superalimentos que fazem o equilíbrio para que a pessoa se sinta bem, para que, durante esses três dias, sinta que encontra tudo no kit, sem precisar de buscar extras.

Antes de criar a Be Well a Marta trabalhou durante 15 anos como relações publicas. O que é que levou a esta mudança de vida?

Foi uma experiência ótima e muito gratificante. No entanto, sentia que esta época já tinha chegado ao fim, mas que ainda tinha mais para dar, só ainda não tinha percebido no quê. Quando começou a aparecer este bichinho da alimentação saudável não quis ficar logo entusiasmada e deixei andar, pondo as duas coisas em dois planos diferentes. Por um lado, era apenas um hobbie que eu estava a adorar e a dedicar imenso tempo, mas por outro sentia que podia ser um caminho mais a sério.

Hoje em dia, cada vez, muitas pessoas mudam de vida depois de 15 ou 20 anos numa carreira, muitas delas com cargos de topo dentro de uma empresa. Nota que isso é uma tendência? O que é que é preciso para se ganhar coragem para virar a vida do avesso?

Há várias pessoas que vêm ter comigo precisamente por causa disso, e porque também estão tentadas a dar esse passo de mudança. Muitas vezes pessoas com currículos de fazer inveja. Mas não estão realizadas. Acima de tudo, chegamos a uma certa altura da vida em que percebemos que a ambição tem outro significado.

“Chegamos a uma certa altura da vida em que percebemos que a ambição tem outro significado”

O que é que mudou no mundo para as pessoas sentirem que é mais fácil mudar de vida nos dia de hoje?

Estamos muito mais sensíveis em relação à sustentabilidade. O bem-estar e cuidado, seja com o próprio, com a terra ou com o meio ambiente, tem cada vez maior importância. As pessoas estão a dar mais importância ao dia-a-dia e não àquela coisa do “juntar, juntar e amealhar”, com um pensamento quase ganancioso. Se calhar, há anos o meu objetivo era ser diretora de uma empresa. Hoje em dia não. Hoje, gostava de ser mais feliz com um projeto meu. Se me perguntar se eu ganho igual? Não ganho. Mas se estou mais feliz? Muito mais. Se calhar, agora tenho menos tempo para a minha filha, é verdade. Mas, sejamos realistas, em que início de projeto é que a pessoa consegue ter tempo para tudo? Impossível. Antes, era muito aquela coisa da segurança, as contas a prazo, os PPR, lá está, muito mais a parte material. Hoje em dia é muito mais o conforto, a realização pessoal. E, acima de tudo, quem faz estas viragens não as faz de um dia para o outro.

Hoje em dia temos uma sociedade que está dividida em dois. Continuamos a ter as pessoas que trabalham muito, sobretudo na área digital, e, depois, temos as que mudaram de vida e que têm um ritmo mais calmo. A Marta acha que fazer um detox é uma boa forma de as pessoas que estão muito aceleradas conseguirem abrandar um pouco?

Eu gostava, mas acho que não. O que acontece é que as ajuda a tomar consciência de que, de facto, andam muito aceleradas e é há que compensar. Ao fazer isto, ajuda-as também a ver benefícios de forma rápida. No entanto, infelizmente não vão desacelerar.

A Marta teve bulimia na adolescência, com 20 anos. Como é que ter uma doença relacionada com a alimentação mudou a sua vida? E depois, como é que, por ironia do destino, a sua vida veio parar à comida?

Ironia, não é? Aconteceu aos meus 17/18 anos. Era federada em ginástica rítmica e, portanto, tive um desenvolvimento muito tardio. Foi nessa altura que engordei muito. Simplesmente não aceitei o facto de ter engordado e foi quando tudo começou. Depois, quis perceber o que aconteceu e procurei ajuda. Quis aprender tudo o que tinha a ver com os superalimentos – com as sementes de chia, as bagas de góji -, em que é que eles me podiam beneficiar, como é que eu as podia usar na minha alimentação e de que forma podiam ser uma ferramenta e uma mais-valia para a doença que tinha.

Quanto tempo nesse processo?

Passados dois anos, percebi que era eu que tinha que me ajudar a mim própria. Tinha de aceitar que tinha que mudar. Enquanto eu visse a comida como uma forma de me manter viva e enquanto eu não tirasse isso da minha cabeça, jamais conseguiria ser feliz. Não valia a pena evitar jantares para ficar a comer sozinha ou esconder o que comia. A partir do momento em que comecei a aceitar, comecei a ser feliz. Hoje em dia, Quem foi bulímica e que diga que isso já passou… é mentira. É uma coisa que fica cá dentro, apenas vamos controlando e, hoje em dia, ao trabalhar com comida, não me faz mal nenhum, bem pelo contrário. Percebi que gosto de comida saudável e que adoro brincar com os sabores. Não vou dizer que às vezes não me apetece cair na tentação e comer mais do que o normal, mas não passa disso.

“Quem foi bulímica e que diga que isso já passou… é mentira. É uma coisa que fica cá dentro, apenas vamos controlando”

Como a Marta disse bulimia não se cura, não tem medo de ter uma recaída? Que conselho é que pode dar às pessoas que sofrem desse problema e têm de viver com ele agora?

Consegui perder peso e consegui ser uma miúda de 20 anos “normal”, aí morria de medo de ter uma nova recaída. Com o passar dos anos, e com a noção de que poderia acontecer, comecei a aceitar. Hoje em dia, simplesmente, não tenho medo porque sei que pode acontecer. Porque sei que vai acontecer. E, sei que quando acontecer, não vai ser a última vez. E sei, que vai haver um novo dia. E havendo um novo dia, há uma nova hipótese de nós fazermos melhor por nós. Porquê? Porque nós somos mortais. Nós cometemos pecados, cometemos erros e não há problema nenhum. Não tem mal. Da mesma forma que uma pessoa que é bulímica faz este erro, uma outra pessoa que é anorética, infelizmente, faz também esse erro. Deve é ter a consciência que o dia seguinte pode ser melhor. Agora, claro que, convém quando se comete esse erro, pensar duas vezes: “qual foi a última vez que eu fiz este erro? Foi há um mês? Foi há dois? Foi há uma semana?” Se foi há pouco tempo se calhar já não é propriamente um deslize. Não é a mesma coisa que estar a fazer uma dietazinha e comer uma tablete de chocolate, uma bulímica não come uma tablete de chocolate, come a tablete que está em casa e vai à rua buscar todas aquelas que encontra. E, pelo meio do caminho, se passar pelo meio de uma hamburgueria, come um hambúrguer, a pizza, etc, etc. É esse o problema.

O segredo não é evitar o erro, é saber que se tem armas para voltar a tratar o erro?

Exatamente, é assumir o problema que tem e, sobretudo, socialmente, não se refugiar em casa, porque isso só vai agravar a doença. Portanto, é tentar continuar a fazer a vida. Sobretudo, estar com amigos e estar com a família. Custa, às vezes, mas temos de tentar. Depois de estar com elas, ao voltar para casa, sentimo-nos muito melhor. Isto não faz o problema desaparecer, porque ele não desaparece, mas dá força para melhorar. O problema existe, mas é preciso menoriza-lo. Ao fazer isto, já é meio caminho andando.

Acha que, hoje se come muito melhor do que se comia antes?

Sem dúvida. Não só, a disponibilidade de produtos que nós temos hoje mas também disposição para os consumir. Hoje, também há muito mais informação sobre a alimentação. Só não está alerta e só não está atento, e não sabe quem não quer. Porque, hoje em dia, toda essa informação está ao dispor de qualquer pessoa.

Imagem de destaque: Salvador Colaço

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