A saudita que filmou ‘Mary Shelley’, sobre a vida da autora de ‘Frankenstein’

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Fotografia: Wikimedia Commons

A história da realizadora saudita Haifaa al-Mansour cruza-se com a de Mary Shelley, a autora de ‘Frankenstein’, cuja história chega esta quinta-feira a Portugal. Mais do que assinar o novo filme, sobre a escritora inglesa que há 200 anos escreveu a obra-prima da ficção científica e da literatura universal, al-Mansour é também ela pioneira nas artes do seu país, tal como Shelley o foi, no início do século XIX, ao assinar uma obra fora dos cânones da literatura reservada às escritoras.

As dificuldades e o preconceito que Mary Shelley enfrentou, à época, para publicar a sua obra são semelhantes às que Haifaa al-Mansour, nascida em 1974, teve de passar, dois séculos depois, para poder fazer filmes no país que só este mês permitiu que as mulheres conduzissem.

“Vindo de onde vim, sei o que significa ser discriminado. Mas [o filme] não é sobre isso, é sobre como podemos ter sucesso e ajudar as mulheres a avançar, e Mary Shelley realmente teve sucesso, apesar de tudo. Foi a isso que me agarrei, porque é o que eu acho que devemos fazer enquanto mulheres, romper com os estereótipos, com o que as pessoas esperam de nós”, disse em entrevista ao New York Times.

O filme ‘Mary Shelley’ é uma coprodução entre o Reino Unido, o Luxemburgo e os Estados Unidos da América e a atriz escolhida para representar a escritora é a americana Elle Fanning. À multiculturalidade da produção soma-se uma liberdade que Haifaa al-Mansour não tinha experimentado, nos filmes que rodou no seu país.

“Quando filmava em Riad, não podia estar na rua – tinha de ficar numa carrinha, com um walkie-talkie, e carregava sempre o fardo da censura”, afirmou na mesma entrevista.

A realizadora foi a primeira mulher na Arábia Saudita a dirigir uma longa-metragem, ‘O Sonho de Wadjda’ (2012), que conta a história de uma menina de Riad que quer comprar uma bicicleta para poder disputar uma corrida com o seu melhor amigo.

Haifaa al-Mansour, que estudou cinema na Universidade de Sydney, tem dedicado o seu percurso cinematográfico ao universo feminino. Antes de ‘O Sonho de Wadjda’ realizou o documentário, ‘Women Without Shadows’ (Mulheres Sem Sombras), sobre a condição social das mulheres na Arábia Saudita. O filme saiu em 2005 e desde então o país encetou reformas que concederam alguns direitos às mulheres.

Hoje já lhe é possível filmar na Arábia Saudita sem os constrangimentos de antes e é uma das cineastas apoiadas pelo programa do Ministério da Cultura do país, ao abrigo do qual se encontra a trabalhar num novo filme, ‘O Candidato Perfeito’. É “sobre uma jovem que abraça a carreira política e quer concorrer nas eleições municipais”, explicou na mesma entrevista. Ainda que com limitações, face a outros países, a cineasta não deixa de ser “surpreendente ver a Arábia Saudita a abrir-se como um lugar para as mulheres e as artes”.

 

Imagem de destaque: DR/IMDB

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