Máscaras e calor: Veja os efeitos provocados na cara e como os controlar

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[Fotografia: Istock]

Subam ou desçam as temperaturas, não há mais desculpa para não usar proteção facial para impedir a propagação do vírus Covid-19. Com as novas recomendações – devido ao levantamento do confinamento – para o uso de máscaras sociais, sobretudo nos transportes públicos e em todos os espaços fechados ou, mesmo abertos, sobrelotados, é mesmo necessário passar a usar esta proteção.

Depois dos óculos embaciados com o frio e devido ao uso de máscaras de proteção, chega agora a sudação provocada pelo calor. Ao Delas.pt, o dermatologista João Maia Silva explica quais os cuidados necessários a ter com a pele nos tempos que se avizinham e como conciliar os cuidados dermatológicos com idas à praia e saídas comuns à rua. O especialista no Hospital CUF Descobertas e na Clínica CUF Alvalade revela ainda quais os riscos e quais as melhores recomendações em caso de desenvolvimento de problemas dermatológicos decorrentes do uso da máscara.

Quais os efeitos na pele do rosto com o uso de máscara em tempo quente, de temperaturas altas?

Vivemos um período excecional em que o contributo de todos é essencial para o controlo da pandemia COVID19. Uma das medidas preconizadas é a utilização de máscara que, mais do que uma proteção individual, é uma manifestação de responsabilidade social para com os outros. Mas avizinha-se um período quente em que aos poucos vamos procurar retomar os nossos hábitos.

E que efeitos se podem esperar?

Resultado do aumento de temperatura, as máscaras podem vir a ser mais difíceis de tolerar. Vão sobretudo alterar o “ambiente” à superfície na nossa pele, a vascularização da pele (rede de vasos da pele) e a penetração de substâncias alérgicas através da pele. Variações na quantidade e qualidade do sebo produzido vão modificar o microbioma da nossa pele, podendo desencadear ou agravar doenças como a acne e a dermatite seborreica. Aumento da temperatura e da sudação associadas ao contacto com materiais por vezes irritativos podem desencadear ou agravar eczemas de contacto irritativos ou alérgicos. O aumento da temperatura pode provocar ou agravar a rosácea. Só para enumerar algumas alterações e suas consequências.

Esse uso deve ser alterado com mais máscaras por dia ou menos horas por máscara ou outros cuidados?

Existe um valor mais alto que justifica a utilização de máscaras: a responsabilidade social. Devemos sim perceber se as máscaras estão a ter um efeito negativo na nossa pele. Nesse caso, não devemos deixar de as usar mas sim procurar minimizar esses efeitos negativos e, sempre que necessário, tentar tratá-los.

Quais os cuidados a ter com a pele nestas circunstâncias?

Antes de colocar a máscara, a higiene da face deve ser feita com produtos suaves, preferencialmente de pH neutro e sem perfume. A Direção Geral de Saúde, a Organização Mundial de Saúde e o Centros de Controle e Prevenção de Doenças não deram indicação para uso de cremes barreira ou dispositivos como pensos de silicone por baixo da máscara para proteger a pele do traumatismo causado pela máscara. A sua utilização pode comprometer do isolamento proporcionado pela máscara, especialmente no caso das máscaras FFP2. No entanto, no caso das máscaras cirurgias e máscaras comunitárias, os cremes barreira e os pensos de silicone podem ser úteis para minimizar a lesão em áreas de maior traumatismo, como o dorso do nariz. Se aplicar creme barreira, deve aguardar uma hora antes da utilização da máscara.

E que cuidados devem existir após o uso de máscaras?

Após a utilização do Equipamento de Proteção Individual (EPI) recomenda-se a lavagem e hidratação da face e pescoço. Nos períodos de repouso, deve-se aproveitar para reforçar a hidratação da pele com emoliente, creme hidratante. Deve ser evitada, nesta altura, aplicação de cremes com potencial irritativo na face, nomeadamente cremes anti-envelhecimento (com retinoides, alfa-hidroxiacidos, realização de limpezas de pele, esfoliações ou peelings) que possam, não só comprometer o efeito barreira cutâneo, como facilitar o desenvolvimento de eczema de contacto irritativo. Muito importante: As pessoas que tenham dermatose prévia, devem manter a aplicação do tratamento de manutenção e utilização de terapêutica SOS de acordo com a necessidade e prescrição do dermatologista.

E para atividades ao ar livre?

Se vai estar exposto ao Sol, na praia, no campo ou durante a sua atividade profissional, deve manter os cuidados de proteção solar. Deve sempre aplicar protetor solar na face 15 minutos antes de colocar a máscara. E deve reaplicar o protetor solar durante o dia. Deve usar chapéu de abas largas que faça sombra em toda a face e orelhas. Porque está a usar uma máscara num dia quente de Verão, deve privilegiar locais frescos, sombras e locais arejados. Este cuidado vai diminuir muito a probabilidade de ocorrer intolerâncias à máscara.

Quando falamos em máscaras comunitárias, quais os tecidos mais indicados?

Deve escolher máscaras feitas de matérias que causam menos irritação. Estas não serão um problema para a maioria das pessoas. Mas haverá os que vão revelar intolerâncias. Nesse caso, devem testar máscaras de outros materiais até encontrar a máscara ideal. Se surgir vermelhidão, descamação, comichão, feridas, lesões tipo acne, ou outras, deve procurar ajuda junto do dermatologista. Sendo seguro procurar ajuda clínica e esta não deve ser adiada – na CUF organizamos os circuitos e procedimentos para garantir a segurança dos doentes e dos profissionais de saúde nas consultas presenciais, exames, tratamentos e urgências. Caso seja clinicamente viável, opte por marcar uma vídeoconsulta com o seu dermatologista.

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