Mais de 200 testemunhos de mulheres influentes na vida política e social do país, perto de 60 autocarros vindos de todo o território nacional, um mural e muitas causas gerais e específicas e que se evidenciam especialmente sobre o sexo feminino.

Estes são alguns dos detalhes que podem ser antecipados da Manifestação Nacional de Mulheres de que está a ser organizada pelo Movimento Democrático de Mulheres – MDM e que vai ter lugar este domingo, 8 de março, Dia Internacional da Mulher, em Lisboa.

Entre a Praça dos Restauradores e a Ribeira das Naus, a partir das 14.30 horas, vão ser evocadas lutas gerais das mulheres, mas também aquelas que são mais específicas e que são particularmente evidentes consoante a zona de origem do território nacional.

A título de exemplo, Sandra Benfica, da Direção Nacional do MDM, exemplifica isso mesmo destacando um dos protestos que chegará à capital vindo de Portalegre. “Estas mulheres vão trazer as questões relacionadas com a natalidade, sobretudo quando sabemos que o serviço de pediatria esteve fechado”. O apoio à gravidez, os cuidados maternos, a impossibilidade de terem filhos num distrito que está desertificado são temas que vão correr lado a lado com as reivindicações que se ouvem vindas do setor primário. “As agricultoras vão participar, oferecendo sementes das culturas locais para que se perceba da importância da produção nacional e do investimento como garante da sua própria subsistência. Esta é uma matéria que não é valorizada”, acrescenta esta dirigente.

MDM manifestação 8 de março
[Fotografia: MDM/João Cabral]

Num ano em que se assinalam 110 anos da proposta do Dia Internacional da Mulher, esta Manifestação Nacional de Mulheres reveste-se de especial importância “por ser uma data significativa”. “Esta é a quarta manifestação nacional e notamos que a adesão é agora mais fácil, as mulheres de todo o país assumiram a importância que era trazer para o espaço publico aquilo que têm sido as suas exigências na defesa dos Direitos da Mulheres e da Igualdade”, refere Sandra Benfica ao Delas.pt.

Para lá dos núcleos da MDM, esta dirigente antecipa, entre múltiplos participantes nesta manifestação, “a adesão da Associação Profissional da PSP, o envolvimento formal de associações de estudantes de Ensino Superior e Secundário que estão a trabalhar a desigualdade e as violências”.

Salário mínimo de 850 euros

São muitas as reivindicações que as mulheres trarão à baixa lisboeta. Porém, e destacando as mais emergentes, Sandra Benfica sublinha “o aumento geral dos salários e do salário mínimo nacional para os 850 euros”. “Sabemos que as mulheres são a percentagem maior que recebe o salário mínimo nacional e sabemos que não é possível viver em condições com esse valor. Esta é uma reivindicação muito concreta e fundamental para a igualdade. Ela tem de ser materializada, não pode ser só um princípio”, vinca esta dirigente.

Acessos a cuidados de saúde, valorização das carreiras, a desregulação dos horários, o direito ao trabalho, mas sem precariedade e discriminação, ou o direito à maternidade e paternidade sem penalizações são temas que prometem conquistar terreno este domingo, em Lisboa. “Temos boa legislação, continuamos a ter muita dificuldade em trazer para vida aquilo que está na lei. Esta é uma das questões mais referidas numa geração que está em idade reprodutiva e fica condicionada por isso”, sublinha Sandra Benfica.

Protestos que – assegura esta responsável – não vão esquecer as questões das violências contra as mulheres. “No que diz respeito à violência doméstica, o ano passado foi negro e este continua. Sabemos que persiste nas nossas vidas, na família, no trabalho, o assédio moral e sexual. Não basta fazer dias de luto nacional, são necessárias medidas efetivas de prevenção, apoio e proteção às pessoas que estão nesta situação”, dizSandra Benfica.

Porque está a aumentar o número de mulheres assassinadas?

“Há ainda uma linha vermelha importante para nós e distintiva de outras organizações e que tem que ver com a prostituição. É urgente olhar para esta questão quando há mais uma tentativa de regulamentação do proxenetismo como um negócio. De acordo com as convenções internacionais vinculativas a que o Estado português está sujeito, é imperativo que a prostituição seja considerada uma forma violenta contra as mulheres, são necessários programas de saída para todas as pessoas que manifestem vontade de sair do sistema”, pede esta responsável.