Médicos de família vão ter formação para tratarem da obesidade

“É preciso abrir canais de comunicação entre hospitais e as suas equipas multidisciplinares no tratamento da obesidade e os médicos de família. Muitos dos obesos já chegam atualmente ao médico de família, mas estes depois não sabem o que fazer, para onde os direcionar”.

É com base nestas constatações que Carlos Oliveira, presidente da Associação de Obesos e Ex-Obesos de Portugal (ADEXO), revela ao Delas.pt que vêm aí ações de formação para os clínicos em torno desta doença. Importante sublinhar que a obesidade é já considerada uma epidemia global e que tem especial incidência nas mulheres.

Já estão marcados dois grandes cursos para este ano: um no Congresso de Associação de Medicina Geral e Familiar (marcado para setembro) e outro no Encontro que será promovido pela Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade (novembro). Para o ano, estamos a prever marcar mais seis. Serão nos três congressos das entidades e os restantes em zonas do interior do país”, afirma o mesmo responsável. “Por vezes, são os próprios médicos que ligam para as associações a perguntar o que pode ser feito, eles não sabem. Não pode ser assim”, acrescenta.

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A iniciativa, revela Carlos Oliveira, não tem qualquer apoio do governo até ao momento, mas vai ter de ter. “Nem que me tenha de descabelar todo”, avisa, sublinhando que a iniciativa – que partiu da associação a par do Conselho Europeu de Pacientes – será formalmente apresentada este sábado, 19 de maio, aquando da evocação do Dia Nacional e Europeu de Luta contra a Obesidade. “A tutela já sabe destas propostas e, por isso, temos de negociar meios”, avisa Oliveira.

Quanto dinheiro e o que vai poder ser feito?

“São precisos meios para que as análises necessárias estejam disponíveis para que os médicos de família possam intervencionar os doentes, classificá-los e enviá-los para sítios certos como hospitais e centros de saúde”, pede o presidente da ADEXO. E justifica: “Há já alguns com nutrição, exercício físico e psicologia instalados. É evidente que não existem em todos, mas temos de arranjar centros para onde esses doentes possam ir.” Para já, lembra Carlos Oliveira, “o dinheiro que os médicos vão ter para fazer isto é o mesmo que têm neste momento”, diz o presidente.

A formação, explica ainda o mesmo responsável, vai passar por “informar sobre os medicamentos que existem, como devem ser utilizados, como pode ser feito o acompanhamento após a cirurgia, o conhecimento do que está a ser produzido na área da investigação, em todo o mundo”, antecipa ao Delas.pt.

“Tenho muitas dúvidas sobre as farmácias”

Confrontado com o facto de, na maioria dos casos e ainda antes do médico de família, as pessoas procurarem ajuda diretamente nas farmácias, o presidente da ADEXO deixa bem claras as suas suspeitas. “Tenho muitas dúvidas sobre essa ajuda”, começa por justificar Carlos Oliveira aos jornalistas, em declarações fornecidas esta quarta-feira de manhã, 16 de maio.

“Quando entro numa farmácia, vejo tantos produtos para emagrecer, muitos podem não ser os mais indicados para cada caso e estão a ser vendidos a doentes que não foram avaliados”, argumenta o responsável da associação. Por isso, prossegue, “enquanto as farmácias funcionarem assim, não vão ser eficazes. Se calhar, primeiro vai estar o negócio”, suspira.

Mulheres são quem mais procura a associação

“Na maioria, são as mulheres quem mais nos procura, mas também temos muitos homens”, explica o responsável, acrescentando que a maior parte contacta a ADEXO a perguntar “como os podemos ajudar”.

Explicamos que não podemos pagar cirurgias, não somos uma IPSS (Instituições Particulares de Solidariedade Social), antes apoiamos, dizemos onde a pessoa pode ir e fornecemos apoio jurídico, se necessário”, desfia Oliveira.

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