Oooommmm… ao encontro do verdadeiro Eu

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Após décadas de investigação é inegável: meditar afeta positivamente o funcionamento do cérebro. Judson A. Brewer, professor de psiquiatria da Universidade de Yale diz mesmo que: “As grandes religiões orientais já o sabiam há 2.500 anos. Mas só recentemente a medicina ocidental começou compreender o impacto que a meditação provoca em todo o organismo. Os resultados são impressionantes!”.

Andrew Newberg, da Universidade da Pensilvânia, rastreou no início dos anos 90 a atividade cerebral de um grupo de budistas em meditação e de um grupo de freiras franciscanas a rezar. Concluiu que ambas as práticas privavam os impulsos elétricos dos neurónios dos lobos parietais, desligando os mecanismos das funções visuais e motoras do meditador ou devoto, que entretanto perdia a noção do “eu” e se sentia maravilhosamente expandido, algo que descreviam como o nirvana.

Mais recentemente, investigadores também americanos começaram a compreender por que, afinal, meditar funciona tão bem e com problemas de saúde distintos. “Através de ressonâncias magnéticas e tomografias percebemos que a meditação altera o funcionamento de algumas áreas do cérebro que influenciam o equilíbrio do organismo como um todo”, explica o psicólogo Michael Posner, da Universidade de Oregon.

Meditação Transcendental

A psicoterapeuta Marta Pinto Gil, com consultório em S. Pedro do Estoril, é perentória: “Quando praticam meditação, os meus pacientes melhoram de forma mais rápida e consistente. Principalmente no que toca a transtornos ligados à ansiedade e depressão”. E refere: “Já há estudos que correlacionam esta prática com a libertação de endorfinas e serotonina, neurotransmissores ligados à sensação de prazer. É por isso que defendo ser possível contornar uma eventual propensão para estados depressivos através da mudança de estilo de vida, incluindo a introdução da meditação”.

Quem não andava de bem com a vida, nos anos 70, era Emanuel Cerveira Pinto, que descobriu na altura a meditação transcendental, desenvolvida pelo indiano Maharishi Mahesh Yogi. Na tentativa de se sentir melhor praticava ioga, quando este era ainda para muitos uma atividade esotérica, mas não conseguia recuperar a antiga boa-disposição e vontade de viver. Até que, ao ver num jornal o anúncio de um curso de meditação, pensou: “Por que não?”. Inscreveu-se, assistiu à palestra introdutória e fez a formação.

“Nos primeiros tempos devia estar mesmo stressado, porque não senti nada ao contrário dos meus companheiros. Só passado um mês compreendi que me trazia uma extraordinária sensação de transcendência”, recorda. Hoje medita duas vezes ao dia por 20 minutos, sentado e de olhos fechados, entoando mentalmente um mantra – palavra/som que é dado pelo instrutor a cada estudante, de acordo com as suas características particulares.

A vibração que os mantras provocam ao nível cerebral tem sido estudada por inúmeros cientistas. Em 2012, pesquisas da Universidade Charles Drew, de Los Angeles, e da Universidade do Havai concluíram que aqueles que praticam meditação transcendental demonstram uma importante redução dos sintomas de depressão, em comparação com os grupos de controlo. Já em 2006 o Centro Médico Cedars-Sinai, em Los Angeles, tinha comprovado que reduz a pressão sanguínea e os níveis de stresse. Não admira que a moda tenha chegado aos famosos. Sting é praticante assumido e outros dos mais mediáticos adeptos é o realizador David Lynch, que defende e tem patrocinado a introdução da meditação transcendental nas escolas.

Aliás, tanto na América Latina como em alguns estados dos EUA as crianças têm aprendido a meditar e os resultados são absolutamente incríveis: a sua capacidade de concentração aumenta, enquanto os níveis de agitação, stresse e situações de violência em escolas problemáticas diminuem drasticamente.

Meditação Taoista

Há técnicas de meditação para todos os gostos e feitios: zen, zazen, budista, tibetana, Osho… Qual é a vantagem de tamanha diversidade? Permite que cada indivíduo escolha aquela com a qual se sente mais confortável. Nuno Ordens Miguel, engenheiro de ambiente, formado em Medicina Tradicional Chinesa, optou pela meditação taoísta. Aprendeu-a num mosteiro em Wudang, a meca do taoismo, na China, onde viveu durante um ano. De regresso a Portugal começou a trabalhar como terapeuta e a organizar retiros para dar a conhecer a técnica que pratica diariamente. “Tornou-me mais consciente das minhas decisões, permitindo ajustá-las ao que realmente sinto ser o mais importante para o meu bem-estar e o das pessoas à minha volta”, diz.

A meditação taoísta tem em vista a obtenção e refinamento do que são considerados os três tesouros do ser humano: o Jing (essência), o Chi (respiração e energia) e o Shen (mente e espírito). Existem várias posturas para a sua prática.

Começa-se sentado em posição de lótus, com os olhos fechados, levando a atenção para as várias sensações corpóreas trazidas pelos sentidos da audição, olfato, tato e paladar. Depois a atenção é levada para a respiração através da expansão do abdómen e, aos poucos, chega-se à fase Shen (mente e espírito), na qual se pretende atingir a quietude da mente, o foco e a concentração. “A ideia é que possamos olhar para a nossa vida como se observássemos uma tela, um filme, e no papel de observador, identificarmos os problemas, como ultrapassá-los e seguir em frente, pois condicionam a nossa liberdade de escolha”, explica. “Não podemos ficar reféns das nossas emoções”.

Se a quietude é alcançada através da respiração, o foco e concentração implicam a visualização. “Ao inspirar pensamos em determinadas cores e levamo-las mentalmente a cada um dos nossos órgãos internos para os relaxar e revitalizar, sorrindo-lhes interiormente”, esclarece Nuno Miguel. É que cada um dos órgãos, segundo o taoísmo, está correlacionado com uma emoção – medo, raiva, preocupação, tristeza e euforia – elementos que regem a mais profunda natureza do ser e têm aspetos positivos ou negativos sobre o mesmo, consoante estejam ou não em equilíbrio.

Meditações Osho

Para os espíritos mais inquietos a meditação Osho será provavelmente a mais acessível. Por uma simples razão: utiliza o corpo para ajudar à descontração da mente – e nenhum de nós, no Ocidente, foi habituado desde pequeno a sentar-se em silêncio à espera que os pensamentos se desvanecessem por milagre.

As técnicas propostas por Osho, guru indiano com cerca de 600 best sellers traduzidos em meia centena de línguas utilizam dança, mantras, visualizações, música e movimento, sempre com o mesmo intuito: fazer com que cada um chegue à sua própria essência, aprenda a amar-se tal qual como é, e sinta um inequívoco prazer em viver. Nartan, alemã que nos anos 70 viveu com Osho num ashram (comunidade), atualmente radicada no Alentejo, afirma: “Só me aceitei tal como sou depois dos vinte anos, quando conheci e trabalhei com Osho”. Ao longo de meses ouviu as suas palestras, e, sobretudo, praticou as meditações ativas propostas por este homem que passara a vida a estudar filosofia e psicologia e chegar a uma conclusão: a humanidade anda desconectada do seu coração e mais preocupada com o olhar crítico do outro do que com a sua própria essência.

“As meditações Osho – são várias e compreendem diversas fases – são simples, e passado algum tempo podemos praticá-las sozinhos. Têm uma componente física muito forte, acalmam-me e, no final, tornam mais fácil a observação de mim mesma”, conta Nartan. Na sua opinião, também reorganizam a circulação energética e facilitam a comunicação. Hoje é uma das responsáveis pela organização do Osho Festival que se realiza todos os verões na costa vicentina.

João Silva, técnico de informática, descobriu as meditações Osho há cerca de oito anos. “Fiz como que um mergulho em mim mesmo; por vezes suave e cheio de prazer, noutras vezes intenso e perturbador”. A sua vida mudou radicalmente. Frequentou inúmeros cursos de formação, tendo começado a orientar meditações Osho, deixando para trás o antigo emprego. Deseja passar aos outros a sua experiência pessoal. “Percebi melhor o que sou e o que são os meus condicionamentos; passei a não me identificar com o problema mas sim a observá-lo e ultrapassá-lo”, revela.

Acima de tudo aprendeu a separar o que é a sua essência da personagem que a vida em sociedade o obrigou a adotar. E a conciliá-las e encontrar o caminho, pessoal e intransmissível para ser feliz. „