Medo de sair de casa: o receio de milhares pelo mundo

iStock-1214358066(1)

Foi a 19 de março que o país entrou em Estado de Emergência devido à pandemia da Covid-19. Depois de quatro renovações, cada qual com a duração de 15 dias, o Estado de Emergência acabou dia 2 de maio. Aos poucos, o país começa a voltar à normalidade, sendo várias as pessoas que começaram a sair de casa para ir trabalhar – com as devidas restrições e regras. Mas há um medo comum que se instala: o medo de sair de casa.

Não afeta todos de forma igual, mas já tem um nome: Síndrome da cabana. Se inicialmente a vontade de sair de casa era muita, a verdade é que várias são as pessoas que, na aproximação da necessidade de voltar efetivamente às ruas, criou ansiedade e angústia perante essa possibilidade. Algo que poderia parecer tão comum, como sair de casa para ir às compras, trabalhar ou até passear torna-se agora numa realidade totalmente adversa daquela que estávamos habituados.

Se se identifica com este cenário, saiba que não é a única. E vários são os especialistas que já têm feito desta reação um paralelismo com o Síndromo de Estocolmo, vulgarmente conhecido como o medo de sair de casa após um sequestro. Ao medo de sair de casa face ao covid-19, os especialistas estão a chamar de Síndrome da cabana.

Segundo o psicólogo Rafael San Román, entrevistado pela revista espanhola S Moda, é não só tentador falar deste tipo de síndromes como também bastante útil. “É importante fala, mas sempre em modo de paralelismo, ou de metáfora, não de uma maneira completamente transversal, uma vez que isso seria uma aventura neste momento”. Mas mais do que tentar etiquetar um comportamento, é entender que ele é real.

Isto deve-se não apenas à incerteza lógica que se vive neste momento, do medo do desconhecido e de algo que não é visível, aos nervos de andar de máscara e de ser capaz de cumprir com todos os protocolos exigidos, ao receito de trazer algo para casa, vários são os motivos que levam as pessoas a sentir este tipo de angústia.

“Aqueles que sentem mesmo medo sentirão uma aversão ao facto de sair, não sentindo o impulso de o fazer ou, se tiverem mesmo que o fazer, sentirão que o seu corpo se ativa no sentido de fugir dessa situação“, afirma o mesmo especialista. Mas é importante entender que este medo não está associado a uma patologia: “sempre que se trata de algo que não é incapacitante ou bloqueante, é normal sentirmos medo quando estamos há tantas semanas a assumir que há uma ameaça invisível por todo o lado e que nos devemos proteger dela”.

A chave está em arranjar mecanismos que nos permitem superar este receio. Ainda que, por enquanto, alguns ainda possam atrasar a sua saída à rua e às suas rotinas profissionais, a verdade é que todos, a certo ponto, o teremos de fazer. Veja abaixo algumas conselhos do especialista para conseguir sair à rua de uma forma menos ansiosa.

Avaliar a situação com sensatez

Ainda que a situação de pandemia seja algo desconhecido pela maioria, e que com ela tenham vindo associados vários sentimos como a ansiedade e depressão, é importante focarmo-nos no presente e na realidade atual. Não nos devemos focar em todo o contexto, mas sim em dar pequenos passos. “Não se trata de preparar um excursão ao Evereste, sem primeiro passear um pouco pelo bairro. Sair de casa pode parecer algo muito maior, devido às circunstancias que o rodeiam, mas não passa disso. E convém recordá-lo”, insiste o especialista.

Sentir-se cómoda e segura com a decisão

Antes saíamos à rua sem grandes preocupações. Agora, temos de pensar na roupa, nos sapatos, na máscara. Raquel Gargallo, psicólogo entrevistada pelo mesmo meio, informa que é preciso sair de casa mas sentir-se confortável. “Escolha uma roupa cómoda, que seja fácil de chegar a casa e tirar para lavar. Ate o cabelo e, antes de colocar a máscara, faça uns quantos exercícios de respiração”, aconselha.

Não pensar que é uma obrigação sair de casa

Ainda que seja possível sair de casa e passear, com as devidas precauções, não veja nisso uma obrigação. Se se sentir mais segura, pode sempre optar por ficar em casa. No entanto, convém ter a noção que, mais tarde ou mais cedo, isso irá acontecer. Se tiver essa hipótese, opte por sair apenas quando se sentir mais segura para o fazer – ou com mais vontade.

Começar aos poucos

Sabemos que, para muitas pessoas que ficaram mais de um mês em casa, voltar a sair pode ser uma sensação de oito a 80. O que pode tornar-se avassalador. Portanto, pode sempre optar por dar um pequeno passeio à volta de casa, sem sair muito da sua área da conforto. Aos poucos, vá começando a tomar a sua rotina normal.

Opte por uma hora que a deixa mais descontraída

Procure sair e voltar a casa a horas que a deixem mais confortável, precisamente por serem momentos em que tem menos probabilidade de encontrar tanta gente. Assim, evita momentos de mais stress e ansiedade e sentir-se-á muito mais segura.

Pensar menos, para pensar melhor

Tendemos a acreditar que, se pensarmos muito numa coisa, vamos mais facilmente encontrar uma solução melhor e mais eficaz para a resolver. Mas, na maioria das vezes, pensar demasiado acaba mesmo por ser prejudicial para si. No que diz respeito ao medo, é importante pensar menos, para pensar melhor.