Memoria: Há uma porta aberta em Campo de Ourique que nos leva até Itália

Renessere, Ricordare, Mangiare. Não, as palavras gravadas a branco na porta 26 da Rua 4 de Infantaria nada têm que ver com o best-seller do New York Times, que levou meio mundo a Comer, Orar e Amar em Itália e no continente asiático. Em comum com o famoso livro de Elizabeth Gilbert, o novo restaurante italiano de Campo de Ourique, Lisboa, talvez só tenha mesmo o Comer/Mangiare.

Já o Renessere e Ricordare, que completam esta espécie de slogan, transportam-nos para outra palavra que dá nome ao restaurante: Memoria. Memória de quê, perguntará a leitora? Dos clássicos das nonne (avós, em italiano) e, sobretudo, dos pratos que passam de geração em geração, por vezes adaptados, recordados e renascidos. Como a verdadeira carbonara, que aqui leva guanciale em vez de bacon, como manda a receita original, e ovo em vez da versão popularizada com natas. Ou o pappardelle al ragú, habitualmente feito com novilho, mas que no Memoria evoluiu para um suculento molho de carne de coelho.

E, embora nenhum dos cinco sócios seja italiano nem descendente, já acumularam muitas viagens ao país da bota, até porque são também os responsáveis pelos dois restaurantes Pasta Non Basta (Alvalade e Avenidas Novas). Talvez tenha sido numa dessas viagens que descobriram a importância de uma boa massa fresca – implementada este ano nos Pasta Non Basta e que agora é também usada nos pratos do Memoria – ou até a diferença que um bom italiano tradicional pode fazer.

Por isso, a carta é manuscrita (e colocada como individual em cada lugar) e começa com uma seleção de produtos italianos, muitos deles DOP, que podem substituir as entradas. Como o presunto San Daniele, o salame de Parma, a mortadela de trufa, o taleggio de Bergamo, o queijo stracciatella ou até Lady Capra, uma espécie de gorgonzola em versão italiana, feita com leite de cabra.

O pátio interior do Memoria

Também nas entradas se misturam clássicos de Itália como burrata com pesto ou focaccia com um melão e presunto, que é um dos favoritos dos portugueses. Nesta lista cabe ainda uma fresca salada de tomates, produzidos na horta de um hectare do grupo Pasta Non Basta, na Malveira, onde também já nascem curgetes, beterrabas, pimentos, beringelas, malaguetas, cenouras e outros legumes e frutas que por enquanto servem para abastecer os restaurantes, mas que no futuro podem ser vendidos como cabazes aos clientes.

Além dos pratos de massa fresca, onde se insere o pappardelle de coelho, mas também os doces ravioli com talleggio e figo da época, o Memoria tem ainda pizas e travessas com porções generosas para dividir a três. “Sendo este um restaurante de bairro e estando num bairro muito familiar não queríamos ter uma série de pratinhos pequeninos. Queríamos o oposto, ter uma alternativa para que se possa partilhar a comida como em casa, numa travessa”, explica Vasco Raposo, um dos sócios. “As pizas são praticamente iguais às do Pasta Non Basta, no entanto temos duas novas, como a Memoria, que é uma espécie de Diavola com pasta de pimento”, acrescenta.

Com uma longa experiência na área de coquetelaria, Vasco é também o responsável pela carta de bebidas, que enaltece o Aperol Spritz. “Reparámos que era uma bebida que estava também na moda e criámos uma carta de seis Spritz diferentes, que podem ser servidos em copo ou em jarros de um litro“, esclarece.

Não que seja preciso beber um copo para sentir a boa onda e o bom gosto italiano deste espaço. Logo à entrada, depois de se atravessar as portas vermelhas, avista-se o forno a lenha, quadros que nos levam a viajar no tempo e uma decoração moderna, com ar confortável. Na sala seguinte, a mesa de mármore oval é uma das mais requisitadas, mas é no pátio que todos querem acabar nas noites quentes de verão. Ali, com um parmesão e focaccia no prato, até parece que a estação dura mais tempo.

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