Menopausa com prazer e sexo para lá dos 80

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Um dia somos surpreendidas pelos famosos afrontamentos, uns ataques de calor súbitos, intensos e acompanhados de suor, como se estivéssemos no pico do verão. Acontece que ainda faz frio e estamos numa casa gelada e os calores são tão fugazes que nem sequer substituem o aquecimento, sempre se poupava alguma energia… É a menopausa a manifestar-se, aquele período da vida da mulher em que se dá a última menstruação devido ao encerramento dos ciclos menstruais e ovulatórios.

Os ditos afrontamentos não têm grande graça mas, em geral, também não vem daí mal ao mundo. Com sorte, podem desaparecer num mesito ou dois e há mesmo quem os não sinta. Cada caso é um caso, dizem os especialistas, portanto é esperar que o próprio corpo seja um dos afortunados.

Mais complicada é a comum síndrome urogenital, “um problema funcional com um impacto direto sobre a qualidade de vida da mulher e que pode caracterizar-se por secura vaginal, irritação da mucosa, prurido, ardor no ato sexual, flacidez da mucosa vaginal e incontinência urinária”, descreve a ginecologista Teresa Fraga.

Tal como os afrontamentos, estes sintomas não atingem apenas mulheres na casa dos 50 mas também bastante mais jovens, com menopausas precoces – incluindo as provocadas por alguns tipos de quimioterapia e terapêuticas hormonais usadas no tratamento do cancro da mama.

E se houver um tratamento indolor?
A pele torna-se muito mais seca e sensível, à semelhança do que acontece com outras partes do corpo, há menos lubrificação e o útero fica mais ‘estreitinho’, atrofiado, pelo que é natural sentir a tal comichão, ardor, dor, sensação de queimadura e mesmo sangrar durante as relações sexuais. A secura pode até ser sentida fora do sexo, traduzindo-se numa sensação de desconforto em posições comuns no dia-a-dia, como quando se está sentada à secretária, por exemplo.

Com o laser MonaLisa Touch, desenvolvido por uma marca italiana e disponível há cerca de cinco anos mas que só chegou a Portugal há uns meses, os resultados são muito animadores, garante Teresa Fraga: “Uma doente com menopausa espontânea aos 40 anos teve uma hemorragia brutal na primeira vez que fez sexo com um novo namorado. Após um único tratamento já não sangrou”. Noutros casos, ao fim da primeira sessão “as pacientes referem ter mais hidratação e menos dor durante a relação sexual”.

Esta técnica médica não cirúrgica consiste na introdução de uma sonda com que a ginecologista “dá uns disparos”, sem que a paciente sinta qualquer dor. Demora apenas uns cinco minutos, refaz a vascularização, ou seja a irrigação sanguínea das extremidades e faz com que a mucosa aumente de espessura – ou seja, é como se uma terra seca recebesse água e adubo, recuperando as características perdidas.

O tratamento recomendado é de duas a três sessões, com um mês de intervalo entre elas. Encontra-se disponível apenas em Lisboa, para já no Hospital CUF Descobertas, e em breve no do SAMS (que não é exclusivo dos bancários, como por vezes ainda se pensa), e já há quem venha das ilhas, por exemplo, à procura desta solução.

Contraindicações não são conhecidas, a não ser o preço, de €350 por sessão. O tratamento não é comparticipado pelos seguros de saúde. Espera-se que venha a ser até por ter uso nas menopausas precoces de quem teve cancro da mama, assim como nos casos de incontinência urinária ligeira ou moderada, outro problema que afeta grande parte das mulheres.

Sexo até aos 80 (pelo menos)
“A função faz o órgão”, diz Teresa Fraga, pelo que a ‘manutenção’ deste tratamento (que requer a aplicação de um óvulo por semana) pressupõe alguma prática sexual. E esta frase até soaria estranha não fosse o caso de existirem mulheres com relacionamentos estáveis que não fazem sexo há uma década – sim, dez anos – devido às dores, ardores e afins.

Igualmente estranho é o facto de grande parte das mulheres não ir o ginecologista à procura de uma solução. Pior, algumas vão ao médico para ‘ver se está tudo bem’ mas sem mencionar as dificuldades em termos sexuais, como se fossem uma consequência ‘normal da idade’ e só quando questionadas dão essa informação. E isto acontece também perante ginecologistas do mesmo sexo, com as quais muitas pacientes se sentem, supostamente, mais à-vontade. Embora haja uma abertura cada vez maior para abordar a sexualidade, o preconceito persiste em pleno século XXI.

Fica o alerta: apesar de ser comum pensar que, a partir da menopausa, já não é preciso ir ao ginecologista, sobretudo se não se faz sexo, isso não passa de um mito urbano! As mulheres devem continuar a ser vigiadas, pelo menos de dois em dois anos, ainda que não tenham queixas e quer façam sexo ou não.

Além de ser fundamental manter a vigilância mamária, podem surgir lesões precursoras de cancros, por exemplo da vagina. Igualmente a ter em conta são os efeitos em termos ósseos, embora estes estejam mais relacionados com a genética e com alguns hábitos, designadamente o tabagismo, a falta de exercício físico e a dieta alimentar.

Para lidar com as consequências decorrentes da menopausa, o/a ginecologista é a pessoa certa para sugerir a alternativa mais adequada a cada situação. A terapêutica hormonal de substituição pode ser uma opção, avaliados riscos e benefícios, e existem outras possibilidades como o recurso a derivados de soja (com menor eficácia e risco), além do novo laser MonaLisa Touch.

Importante é ter presente que nada impede as mulheres de desfrutarem uma vida sexual longa: há quem a tenha aos 80 anos, segundo a também longa experiência da ginecologista Teresa Fraga.