Menopausa: devemos fazer terapêutica para melhorar o sexo e a pele?

Muitas mulheres chegam à menopausa, por volta dos 50 anos, sem saber exatamente o que lhes está (ou vai) acontecer. Cada caso é um caso, dizem os médicos, e alguns exigem terapêutica hormonal para manter a qualidade de vida. Já para quem tem sintomas ligeiros, a decisão pode não ser fácil…

Maria tinha 49 anos quando a médica de família, com as análises na mão, confirmou: “Está oficialmente na menopausa”. Ficou contente por saber-se livre, de vez, da chatice da menstruação, ofereceu uma caixa de tampões à colega de trabalho e até celebrou com os amigos esta nova fase da vida.

Só os calores súbitos, que a faziam despir rapidamente o casaco para voltar a vesti-lo minutos depois, a incomodavam. Isso e, durante os afrontamentos, sentir-se corar, sobretudo em reuniões de trabalho: quase parecia a reação por ter dito um enorme disparate… e não era, de todo.

De noite, também acordava suada uma vez por outra. No entanto, nunca pensou em tomar medicação, convencida que estava de que a terapêutica hormonal (TH) tinha riscos que não precisava de correr. Afinal, os seus sintomas eram ligeiros quando comparados com os que sentia a amiga Cristina, que passou a ter insónias e acordava encharcada em suor, ao ponto de ter de mudar de lençóis a meio da noite.


Na galeria acima recorde os cuidados que deve ter na menopausa


Dois anos depois, tem menos afrontamentos, mas está tentada a recorrer à terapêutica pois foi ganhando consciência de outros efeitos da menopausa: sente-se pouco disponível para um novo relacionamento sexual, após experiências algo dolorosas e, embora seja pouco vaidosa, custa-lhe a conviver com a flacidez que em poucos meses tomou conta da pele do rosto. Pelos que surgiram na cara, a ideia de ter de usar creme vaginal duas vezes por semana, além de tomar cálcio todos os dias para prevenir a osteoporose, juntaram-se aos motivos para repensar a sua opção.

Sintomas intensos, decisão simples

Para algumas mulheres, recorrer à TH é essencial: “Quando a sintomatologia é intensa” explica Fernanda Águas, presidente da Sociedade Portuguesa de Ginecologia, “perturba muito a qualidade de vida e a terapêutica hormonal, dada às mulheres que acabam de entrar na menopausa e que não têm contraindicações para o tratamento, é a forma mais eficaz de tratar os sintomas. Tem mais benefícios do que riscos”.

Entre os sintomas contam-se “os chamados afrontamentos, que afetam cerca de 80% das mulheres; perturbações do sono como insónias; atrofia vaginal e infeções urinárias de repetição. Também é comum a irritabilidade, há quem fique completamente diferente em termos de humor com as alterações hormonais”. Paralelamente, a TH possui vantagens adicionais pois “protege da doença cardiovascular e previne a perda de massa óssea que acontece a seguir à menopausa”.

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Se em alguns casos específicos a terapêutica tem mesmo de ser feita, noutros é completamente desaconselhada. “Mesmo na mulher sem sintomas, é obrigatória em casos de falência ovárica prematura, a chamada menopausa precoce, antes dos 40 anos. As consequências em termos de saúde, como osteoporose e risco cardiovascular, são tão importantes que há indicação para que façam o tratamento pelo menos até à idade em que deveria acontecer a menopausa, por volta dos 50”.

Proibida está, por exemplo, a TH às mulheres que “tenham sido tratadas de um cancro da mama, tenham tido um acidente tromboembólico – como embolia pulmonar e trombose venosa dos membros inferiores -, que têm problemas cardiovasculares ou uma doença do fígado graves”, explica a mesma especialista.

Todas iguais, todas diferentes

Sendo comum a todas as mulheres, na menopausa cada caso é um caso, faz questão de repetir várias vezes a médica. “O tratamento não pode ser um chavão igual para dar a toda a gente, não podemos extrapolar de uns casos para os outros”.

Por exemplo, nas histerectomizadas (a quem foi retirado o útero) o tratamento é diferente: “Pode fazer só estrogénio e está provado que não tem efeitos negativos na mama, um estudo até revelou que diminuía o risco”. Quando existe útero, há que ter em conta a possibilidade de cancro do endométrio, que reveste a parte interna daquele órgão, portanto “as opções terapêuticas são distintas”.

TH… por quanto tempo?

Também a duração poderá, se o útero foi extraído, ultrapassar cinco anos, período que serve de indicador para a generalidade das mulheres com base no possível aumento do risco de cancro da mama. “Os estudos mostram que, até aos cinco anos de tratamento, quando comparamos uma mulher que faz terapêutica com outra que não faz, os riscos são praticamente idênticos. A partir daí, há um ligeiro aumento mas que pode não ser significativo face aos benefícios. Tem de se fazer uma avaliação ponderada e individual”.

Certo é que a terapêutica deve ser iniciada precocemente, ou seja, “quando há o diagnóstico da menopausa”, refere a especialista. “Com sintomas fortes não se vai adiar o tratamento, e a maior fase acontece no início. Começam logo a ser combatidos e, numa mulher com a parte cardiovascular íntegra, funciona como protetor”.

Maria já vai tarde, já que nos últimos dois anos tem sofrido com afrontamentos, entre outros efeitos da menopausa, mas ainda a tempo de começar o tratamento se for essa a sua opção.

Alerta, prevenção e alternativas

Uma amiga de Maria usou produtos naturais para combater os sintomas e deu-se bem mas a opção é fortemente desaconselhada por Fernanda Águas: “Aquilo que foge ao controlo das entidades reguladoras, nomeadamente dos controlos de medicamentos, não merece confiança como um fármaco que é testado e do qual conhecemos os efeitos ao pormenor. Os preparados hormonais que prescrevemos começaram a ser usados nos anos 60 do século passado e já foram utilizados por milhões de mulheres. Conhecemo-los muito bem, os efeitos positivos e negativos, sabemos a quem prescrever ou não. Esses outros produtos não têm segurança comprovada”.

Entretanto, por recomendação médica, Maria passou a tomar cálcio todos os dias para prevenir a perda de massa óssea, mais um “ritual” decorrente da menopausa que a chateia – e que, na verdade, talvez pudesse ter evitado. “Em relação à osteoporose, o que as mulheres devem fazer é ter uma boa alimentação e praticar exercício físico. Aquelas que, apesar disso, acabam por sofrer da doença devem tratá-la para evitar o risco de fratura”. Para quem faz TH é um dos benefícios adicionais pois “o tratamento é muito benéfico para o osso”.

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O facto de Maria ser fumadora não ajuda mesmo, nada mas não constitui impedimento para recorrer à terapêutica. “Quem fuma deveria deixar de o fazer, já se sabe. Fumar aumenta o risco tromboembólico e os estrogénios também”. Neste caso, haverá vantagem em optar por uma forma de administração menos conhecida, a “via transdérmica”, ou seja, adesivos com o fármaco que devem ser colocados na pele. Outra opção será um spray a aplicar diariamente após o banho, que deverá chegar ao mercado nacional este ano, informa a médica.

Alternativas não faltam, portanto, mas o critério de prescrição da TH é um só: se a menopausa não afeta “a qualidade de vida, se a mulher consegue lidar bem com os sintomas, não precisa de fazer a terapêutica”.

Gordura, pelos, pele e (mau) sexo

A questão é definir o que significa “lidar bem”. Maria está cada vez mais desgostosa com as consequências da menopausa no seu corpo: a cintura alargou, por exemplo. “Efetivamente, há uma alteração da distribuição da gordura corporal”, confirma a médica, pelo que é necessário ter cuidados em termos de alimentação e fazer exercício. Aqui, a TH também pode ajudar embora, por vezes, com alguns tratamentos, aconteça um aumento de peso e retenção de líquidos. Mais uma vez, cada caso é um caso.

Da mesma forma, ao longo dos últimos dois anos, a pele de Maria mudou: foi perdendo firmeza, sobretudo no contorno do rosto. Trata-se de outra consequência da menopausa e que melhoraria bastante com a TH: “É um dos seus efeitos benéficos, mas não a fazemos especificamente para isso”, reforça Fernanda Águas. Há que hidratar e recorrer a produtos de cosmética “que hoje em dia já são muito elaborados e podem ajudar” ou à medicina estética

Tratamento hormonal na menopausa protege o cérebro

Medidas de aplicação direta são igualmente a solução para a chatice que constituem os viçosos pelos que vão surgindo no queixo, tal como uma espécie de penugem que se vai instalando nas áreas laterais da face.

O pior de tudo, no entanto, é o sexo. Com a diminuição da lubrificação e o facto de o útero ir ficando mais ‘estreitinho’, atrofiado, o prazer foi dando lugar ao desconforto e, por vezes, à dor. Por recomendação da sua ginecologista, Maria começou a aplicar um creme, duas vezes por semana, antes de se deitar, mas rapidamente desistiu, por esquecimento e alguma preguiça. No entretanto, um par de más experiências fizeram-na ficar pouquíssimo recetiva a novos parceiros, pelo que praticamente eliminou o sexo da sua vida, aos 51 anos.

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“A parte sexual é muito complexa pois envolve a componente física e a psicológica”, explica Fernanda Águas. E, para quem não faz TH, a alternativa, efetivamente, são os tais cremes, óvulos ou comprimidos vaginais. “Hoje em dia, há uma outra solução: o laser. Mas, sendo muito recente, ainda não houve o tempo, nem os estudos suficientes para poder ser recomendada”.

A ginecologista e obstetra Teresa Fraga usa-o em Portugal há um par de anos como o Delas.pt revelou. O tratamento recomendado é de duas a três sessões, com um mês de intervalo entre elas, e requer manutenção. “A duração da eficácia do tratamento é variável. Habitualmente basta uma sessão de manutenção ao fim de 12, 20 meses, depende muito de a paciente manter uma vida sexual ativa e ter hábitos saudáveis de vida”, esclarece a médica.

Fraga reclama ter conseguido bons resultados e “já vai havendo trabalhos que comprovam a eficácia do método. Continua a existir contestação, mas é inevitável em técnicas novas. É de enfatizar que é um método inócuo, praticamente indolor e sem complicações imediatas ou tardias”.

Há, no entanto, um grande senão: cada sessão custa 350€ e a comparticipação dos seguros, ou mesmo da ADSE, é ainda “irregular”. Algumas pacientes obtêm-na, outras não.

Fazer ou não fazer TH, eis a questão

A todas aquelas sequelas junta-se o incómodo significativo e a sensação de se ter envelhecido uma década em apenas um par de anos. Fará sentido fazer a terapêutica por isso?

“Em termos de saúde, não” conclui Fernanda Águas. “Não é indicação para se iniciar ou continuar uma terapêutica hormonal. Mas aceito que, para algumas mulheres, haja questões que no meu ponto de vista podem não ser importantes num plano geral, e para elas são”.

Fundamental é ter “consciência de que fazer a terapêutica hormonal pode aumentar riscos, e também não estamos a falar em aumentos drásticos. A mulher deve ser devidamente esclarecida e nestes assuntos, mais para ter qualidade de vida do que para tratar uma doença grave, é a própria que sabe o que ‘qualidade’ representa para si”.

Teresa Frederico

Imagem de destaque: Shutterstock

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