Menopausa: “Secura vaginal e dores na penetração, muitas vezes o divórcio trata”

secura vaginal

“Muitas vezes, nas mulheres que são mães, a menopausa coincide com a altura em que os filhos ficam mais autónomos e saem de casa, o casal acaba por olhar um para o outro e perceber que já não está apaixonado.” Estas palavras são da sexóloga e psicóloga Joana Almeida, da Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica, que abordou o tema da Menopausa no âmbito da conferência Mulheres sem Pausa.

E se aquele é um dos fatores que mais pode afetar a vida sexual das mulheres no período em que deixam de ser menstruadas, outros há, enumerados pela especialista, que as empurram para uma sexualidade com cada vez menos prazer. Joana Almeida reiterou a ideia de que “às vezes [a secura vaginal] não era bem algo para ser resolvido pela parte médica, mas era pelo facto de que aquele parceiro não excitava a mulher ao ponto de conseguir lubrificar como deveria. Portanto, as vezes há uma redescoberta”, confirmou a sexóloga no mesmo encontro que teve lugar terça-feira, 15 de outubro, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.

A especialista, ainda durante o evento, recordou algumas histórias de pacientes suas que chegam às suas consulta a falar sobre como o divórcio foi libertador para elas. “Muitas separações e muitas mulheres que têm consultas connosco [profissionais] contam histórias que eu acho incríveis e altamente inspiradoras de pós-divórcio como uma fase de libertação“, recordou, acrescentando ainda que “aquilo a que estamos habituados a falar, que na menopausa existe secura vaginal ou dores na penetração, muitas vezes o divórcio trata“.

A solução? Muitas vezes é mesmo o divórcio

Questionada pelo Delas.pt, a psicóloga e sexóloga voltou a reafirmar esta ideia, falando inclusive que a falta de libido – ou de desejo sexual – “até pode ser falta de outras coisas que não tenham a ver com a menopausa. Se calhar a relação não está bem, o casal vê-se sozinho em casa e não tem nada para dizer um ao outro, não está apaixonado e, portanto, não há vontade de ter relações assim”.

O divórcio pode trazer consigo uma nova descoberta do prazer e da própria sexualidade. “Algumas mulheres sentem até vergonha e perguntam mesmo ‘como é que o sexo pode ser isto? Então o que é que eu andei a fazer nos últimos 20 anos?”. Em suma, a sexóloga tenta também explicar que a menopausa não tem de ser só má.

Por vezes e na sequência da ‘síndrome do ninho vazio’ o casal acaba por ficar novamente sozinho e já não sabe o que fazer, já não está apaixonado ou não tem assim tanto em comum. Noutros casos, claro, pode acontecer o oposto: “pode também ser uma nova adolescência ou uma nova paixão e haver uma redescoberta no amor. Como também pode ser uma desilusão”.

O sexo já não é só reprodutivo: é brincadeira e prazer

Joana Almeida falou ainda, como forma de quebrar tabus, que o sexo ainda é muito visto como tendo uma ligação direta com o fator reprodutivo. Essa é a razão pela qual ainda se associa muito o sexo aos jovens. Quando a mulher entra na menopausa, sabe que já não pode ter filhos e, portanto, há uma associação de que, de alguma forma, a função sexual já não está presente.

“A ideia de que temos relações sexuais para nos reproduzirmos ainda está muito presente. Mas a verdade é que tanto nós humanos como os animais gostamos bastante de nos divertir e, portanto, de usarmos a nossa sexualidade para nos divertirmos e para termos prazer. Mas isto ainda é um tabu”, explica a especialista.

A possível solução? Joana Almeida, da Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica, defende que o que se pode pedir do parceiro que tem a seu lado uma mulher que está a passar pela menopausa é “que se apaixone pela idade e pelas mudanças que a idade traz”. Além do mais, esta pode ser uma nova hipótese de redescobrir o prazer e entender que o sexo não tem de ser apenas focado na penetração.

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