Meryl Streep: 70 anos de talento, discrição e de olhos postos no quarto óscar

Quando, este sábado, 22 de junho, Meryl Streep apagar as 70 velas do aniversário, a atriz não estará a comemorar sete décadas de uma vida, mas antes de múltiplas. Um percurso feito sob as luzes de palco, que começou aos 16 anos, e que está para continuar.

Para lá dos mais de 170 prémios que tem amealhado, Meryl Streep, de sorriso doce e estilo discreto, já bateu todos os recordes de nomeações. No geral, já são mais de 350 e, no que diz respeito aos Óscares, Meryl bateu o seu próprio limite ao ser nomeada pela 21ª vez, em 2017, no filme The Post.

Se tudo continuar a ser assim, a atriz pode vir a igualar, no próximo ano, o histórico de Katharine Hepburn: que conquistou quatro estatuetas douradas. Entre as novidades que Streep prepara estão previstos dois lançamentos de peso na sétima arte: Ela surgirá como March no filme Mulherzinhas, adaptado da obra de Louisa May Alcott, e como Ellen Martin em The Laundromat. É sobre este segundo papel no filme de Steven Soderberg, que versa sobre os polémicos e mundiais Panamá Papers, que repousam todas as atenções e o maior volume de apostas. Quem sabe se, em 2020, Meryl não soma nova estatueta vinda através da Netflix e a junta às de Melhor Atriz Secundária por Kramer contra Kramer (1980), por A Escolha de Sofia (1983) e a de Melhor Atriz por A Dama de Ferro (2012).

Percorra a galeria acima e veja alguns dos momentos da vida e da obra da galardoada atriz que há muito tem uma estrela no Passeio da Fama e, desde 2017, uma figura de cera em sua homenagem, no museu Madame Tussauds.

O acaso que a afastou do Direito

Nascida a 22 de junho de 1949, na Nova Jérsia, nos Estados Unidos da América, Mary Louise Streep é filha de uma artista com dotes vocais de ascendência no inglesa e de um farmacêutico que tocava piano, com raízes na Alemanha e na Suíça.

E se as primeiras tentativas no mundo da representação empurram Streep para a Ópera, cedo descobre que era mais por outros caminhos que iria seguir. Ainda tenta integrar a Faculdade de Direito, mas um atraso matinal fê-la perder a entrevista, um passo que évisto como um acaso e que a encaminha para a Yale School of Drama. Antes ainda terá sido cheerleader no liceu e empregada de hotel em Somerville, em Nova Jérsia.

Aos 26 anos, e já decorrente do absoluto perfeccionismo com o qual sempre preparou os seus papéis, dá nas vistas no filme Julia, consegue a primeira nomeação para o Óscar em The Deer Hunter e, no ano seguinte, começa a rodar o filme que lhe traria a primeira estatueta, em Kramer contra Kramer. É nesse ano, em 1978, que se casa com Don Grummer, companheiro com quem teria quatro filhos.

A partir dos fins da década de 70 do século passado, Meryl torna-se imparável. Quem não se deixou levar por ela em África Minha? Quem não se comoveu com As Pontes de Madison County? Quem não sorriu ao lado dela no musical Mamma Mia ou estarreceu com a atriz em Diabo Veste Prada ou na pele da primeira-ministra britânica Margaret Tatcher? Quem não se deixou levar pela versão contemporânea de Ms Dalloway em As Horas?

Lá atrás, quem não suspirou com a vinda dela a Portugal para gravar, em 1993, o filme A Casa dos Espíritos, com Jeremy Irons e Glenn Close? Quem não a aplaude agora na série da HBO Big Little Lies, que, diz-se, aceitou integrar o elenco sem ter lido o papel que lhe foi consignado.

Do violino aos donativos

Meryl substitui Madonna no filme Melodia no Coração, em 1999, e não deixa nada ao acaso. A atriz aprende a tocar violino para a película, treinando mais de seis horas por dia. Abnegada, no mínimo.

Em 2006, doa todo o guarda-roupa de O Diabo Veste Prada para um leilão, revertendo o dinheiro para a caridade. Cinco anos depois, o seu salário em A Dama de Ferro, calculado tendo por base uma percentagem do lucro do filme, inclui um donativo de um milhão de dólares a ser entregue ao Museu Nacional da História das Mulheres.

Em 2016, a atriz envolve-se politicamente, alinha pelos democratas e por Hillary Clinton, discursa na convenção do partido, luta contra a campanha presidencial de Donald Trump. Este acabaria por ser eleito presidente dos Estados Unidos da América e no ano seguinte, não perdoando, atira-se a Streep para dizer que ela era a “mais sobrevalorizada de Hollywood”.
No ano passado, Meryl vê a sua reputação quase cair em desgraça depois da atriz Rose McGowan a ter acusado de permanecer em silêncio no caso de denúncias de violação e assédio sexual por parte do produtor Harvey Weinstein, que desencadeou a onda #MeToo.

Um silêncio que, contudo, não impede a atriz de se juntar às causas de protesto.Um apontar de dedo que leva Streep a dizer que não o fez deliberadamente. “Vivi coisas, sobretudo quando era jovem e bonita. Antigamente, quando todos consumiam cocaína, havia muitos comportamentos indesculpáveis. Mas agora que as pessoas são mais velhas, e estão mais sóbrias, tem de haver perdão e isso é o que penso sobre o assunto”, contou, em 2018, na entrevista ao New York Times a apoiante do movimento feminino Time’s Up.

Hoje, em dia de festa, é tempo de ver e rever uma carreira imaculada e extraordinariamente versátil e contrastante da atriz – que chegou a aventurar-se na produção – que conta com quase perto de uma centena de participações em filmes e produções para plataformas.

Imagem de destaque: Mario Anzuoni/Reuters

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