A atriz polaca é a protagonista do filme ‘Carga’ e representa uma vítima de tráfico

Michalina Olszanska é considerada uma das mais talentosas atrizes da sua geração na Polónia, tendo-se destacado em projetos internacionais como a série 1983 da Netflix e no filme Sobibor, recentemente submetido pela Rússia ao Óscar de Melhor Filme Estrangeiro. A atriz polaca chega agora ao cinema português como protagonista do filme ‘Carga’ (com estreia a 8 de novembro), realizado por Bruno Gascon e sobre o tráfico de seres humanos.

A atriz de 26 anos interpreta duas personagens (Viktoriya e Alanna), mas é na primeira que tem o papel principal. Gerir a forte intensidade emocional destes papéis foi o principal desafio, que encontrou contraponto no ambiente descontraído e de amizade que se criou entre o elenco, durante as rodagens. “Houve um ambiente muito especial durante as gravações. Não fomos apenas colegas a fazer um trabalho, foi mais do que isso, foi como criar um universo em conjunto. Foi muito, muito bom”, diz em entrevista ao Delas.pt. A experiência de trabalhar com um elenco português e a importância de fazer um filme com esta mensagem e características foram outros dos assuntos abordados na conversa com a atriz.

O realizador Bruno Gascon diz que foi muito rápida a aceitar participar no ‘Carga’. O que a fez decidir-se tão rapidamente?
Achei que o guião estava realmente bem escrito. Esse foi o aspeto principal. Depois, a história em si é muito forte, muito importante, na realidade. E acima de tudo, no que toca a papéis e a filmes, eu normalmente sigo os meus instintos, por isso pareceu-me fazer todo o sentido aceitar este convite e estou muito feliz por tê-lo feito.

Interpreta duas personagens diferentes neste filme, Viktoriya e Alanna. Como definiria cada uma delas?
Bom, uma é vítima e a outra é vilã, mas ambas são lutadoras. A Viktoriya é uma rapariga pobre da Europa de Leste, que é raptada por uma rede. Mas ela é muito forte, sabe que tem de sobreviver não importa como. A Alanna não é, propriamente, uma vítima, faz parte do grupo dos maus das fitas, teve de tornar-se parte do bando, e todo esse ambiente que a envolve torna-a ainda mais cruel. Acho que ela odeia as outras raparigas [vítimas] porque sente-se uma delas, mas não se quer sentir dessa maneira.

Michalina é polaca e é uma das atrizes mais promissoras da nova geração [Fotografia: Luís Sustelo]

Rodou este filme em Portugal, com um elenco predominantemente português. O que significou essa experiência para si?
Foi ótima. Esses [quase] três meses foram realmente incríveis. Fiz amigos imediatamente, foi, de facto, muito bom. Adoro Portugal, adoro estas pessoas, vou sentir falta delas. Foi mesmo uma das melhores experiências cinematográficas que tive na vida, o Bruno é incrível, tornou-se num dos meus melhores amigos. Houve um ambiente muito especial durante as gravações. Não fomos apenas colegas a fazer um trabalho, foi mais do que isso, foi como criar um universo em conjunto. Foi muito, muito bom.

Esse ambiente ajudou, de certa forma, a “aliviar” a carga dramática e pesada de um tema tão duro como o deste filme?
Sim, foi muito importante, porque foi bastante desafiante para mim representar aquelas duas personagens, porque havia muitas emoções. Tentei dar o meu melhor, dar tudo nessas interpretações e o apoio que senti nas pessoas que estavam comigo ajudou, de facto, muito. Além disso, todos os atores que compõem este elenco são excelentes e isso é ótimo, porque quando estamos rodeados por grandes atores absorvemos a sua energia.

Quais foram os aspetos mais complexos ou desafiantes, para si, na representação destas personagens? Entre as duas, alguma delas lhe deu especial trabalho?
Não consigo propriamente dizer se foi mais uma do que a outra. O que foi realmente crítico foi integrar dois pontos de vista diferentes, mas foi uma experiência espetacular, porque eu senti realmente que aquilo que somos e onde estamos é circunstancial, que poderia ter sido totalmente diferente. E é um pouco arrepiante sentir isso, mas ao mesmo tempo é muito revigorante, quase que é mais uma questão filosófica do que de representação. O mais difícil na representação foi mudar a intensidade das emoções a toda a hora.

A atriz numa cena com o ator Miguel Borges [Fotografia: Luís Sustelo]
E como é que se preparou para estes papéis? Teve algum contacto com pessoas que tenham passado por experiências semelhantes, que tenham sido vítimas de tráfico ou que conheçam este tipo de redes por exemplo?
Não, para estes papéis fiz o que geralmente faço que é seguir as indicações do realizador, que me contou histórias muito fortes que ouviu sobre esta temática. E eu segui essas histórias.

Como é que acha que o público – de cada vez de mais países – vai receber este filme?
Não faço ideia, nunca crio expectativas sobre isso. É difícil de dizer. Mas espero realmente que o público veja na história aquilo que nós todos vimos quando começámos a trabalhar neste projeto: um filme foi feito com muito amor, amizade e paixão em relação à história, a esta causa. É muito autêntico, não foi feito com propósitos comerciais, ou para show off. É muito real e muito honesto. Acredito que um filme que é honesto vai sempre encontrar o seu público.

 

Design multimédia: Lília Gomes

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