A homenagem de Miguel Vieira ao Rock

Chegámos aos bastidores uma hora antes do desfile, nos cabides ainda estava pendurada toda a coleção. Ao preto, que já faz parte da assinatura de Miguel Vieira, juntou-se o azul marinho e o verde militar, mas também, ainda que de forma mais tímida, o bege e o metalizado, este num tecido de fundo prateado com quadrados dourados discretos.

No chão por baixo das roupas, caixas com sapatos, botas pretas com um pouco de salto e detalhes de metal, denunciavam a inspiração roqueira da coleção. “ O tema desta coleção é o Rock, conta a história de uma homem clássico que vai a um concerto de Rock&Roll com uma atitude mais irreverente e por isso desconstrói bastante a forma como utiliza a roupa. Ou seja, tem no guarda-roupa peças clássicas mas usa-as de forma muito desconstruída, desde casaco à cinta, às bolsas que tem de levar.” explicou o designer ao Delas.pt

Casacos, calças e coletes mantiveram-se fiéis ao corte clássico de Miguel Vieira, ainda que os materiais inesperados tenham reinventado por completo os modelos feitos com o rigor da alfaiataria. Das materiais primas destacam-se os tecidos com bolas que surgiram mais modestas em azul e exuberantes em preto, num tecido feito através de ma técnica de estampagem que em fez de tingir sobrepõe tecidos formando padrões o resultado é uma fazenda preta com bolas de pelo espalhadas. Outro material que nos apanhou de surpresa foi o bouclet que “se usava há muitos anos e que era muito usado na roupa de mulher” . Se o exterior desta coleção de outono-inverno 2018-19 é interessante, o interior não lhe fica atrás com forros com imagens do Rock estampadas. Ainda no campo das matérias primas não podemos deixar de notar no resgate da bombazine que surgiu misturada com outros tecidos.

Na boca de cena enquanto os modelos perfilados esperavam – ainda de molas na cabeça para não desmancharem o penteado, pelo último ensaio – percebemos a variedade do casting com modelos de fisionomias vindas dos quatro cantos do mundo. Entre os dezasseis rapazes estavam duas raparigas, é que apesar da coleção apresentada ser de homem, apareceram alguns coordenados femininos, à semelhança do que muitas outras casas de moda já fazem.

Eram 19.30h, quando no número 58 da Via Visconti o primeiro modelo pisou a passerelle vestido o único coordenado bege da coleção. De casaco atado à cintura e bolsa de cabedal pela mesma medida, este primeiro manequim deixou clara a atitude descontraída que iria pautar todo o desfile. Dos acessórios destacam-se os irreverentes peitilhos de cabedal, as bolsas de cabedal e as mochilas.

Outro aspeto importante foram as saias masculinas que trouxeram alguma irreverência ao desfile. “ A primeira exposição que houve sobre os homens de saias foi feita em Madrid, de 2006 a 2011, com vários criadores internacionais e eu fui o convidado português para estar nessa exposição. Por isso esta não é a primeira vez que desenho saias masculinas. Achei que era interessante desenhar esta peça para um homem num concerto de Rock, achei que era uma boa escolha para desconstruir o lado mais formal da coleção” contou o designer que também nos explicou que os modelos de saia não foram criados apenas para desfile, vão chegar às lojas já no próximo inverno.

Esta é a segunda vez que o designer apresenta uma coleção na Milano Moda Uomo, no âmbito do Portugal Fashion. “Iniciar com as semanas de moda masculinas, pelo segundo ano consecutivo, uma nova estação de apresentações nacionais e internacionais é bastante motivador. O caminho que estamos a desenhar no menswear, com a presença em diferentes mercados, com várias ações de promoção e, inclusive, com iniciativas complementares de suporte comercial é recente, mas já repleto de histórias para contar.” afirmou o Presidente da ANJE, Adelino Costa Matos, em comunicado. Uma aposta na moda masculina a que o Portugal Fashion dá continuidade já no próximo dia 17 de janeiro com o desfile de Hugo Costa em Paris.

Miguel Vieira: “A moda internacional aprende todos os dias com os portugueses. “