Militar brasileira premiada pela ONU pede mais mulheres nas operações de paz

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[Fotografia: Shutterstock]

A capitão-tenente brasileira Márcia Andrade Braga pediu esta sexta-feira, no seu discurso de aceitação do prémio atribuído pela Organização das Nações Unidas (ONU), maior empenho dos Estados-membros para enviar mais mulheres para missões de paz.

Márcia Andrade Braga, capacete azul da Missão Multidimensional Integrada das Nações Unidas para a Estabilização na República Centro-Africana (MINUSCA), recebeu hoje o Prémio de Defensora Militar do Género, entregue pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, e considerou que a distinção é um sinal da importância que a ONU dá à igualdade de género.

“Estou profundamente honrada em receber o prémio em nome dos meus colegas da MINUSCA, da República Centro-Africana e pelo meu país, Brasil”, disse hoje a militar brasileira na sala da Assembleia-Geral, onde decorre a Conferência Ministerial sobre Operações de Paz.

“Peço-vos que se empenhem em enviar mais mulheres nas missões de paz, que devem ocupar cargos de primeira linha, ligar-se com a população e reunir-se com mulheres líderes locais”, disse a capitão-tenente, dirigindo-se aos governantes internacionais presentes no evento, ao defender que as funções de negociação e conversação que as mulheres desempenham vão fornecer “informações preciosas” às operações de paz.

Márcia Andrade Braga lamentou que apenas 3,7% do pessoal militar da MINUSCA sejam mulheres e disse que os números de crimes de violência sexual ou discriminação baseada em género continuam demasiado elevados.

Todos os meses na República Centro-Africana são registados mais de mil incidentes relacionados com falta de proteção, principalmente contra mulheres e crianças, e um número “enorme” de crimes de violência sexual perpetrados durante o conflito, segundo a militar.

António Guterres disse, na cerimónia, sentir-se “honrado” por entregar o prémio a Márcia Andrade Braga, em reconhecimento da sua dedicação e esforço para promover os princípios da resolução 1325 do Conselho de Segurança da ONU.

O secretário-geral afirmou que a capitão-tenente “estabeleceu uma rede de conselheiros de género e pontos de representação em sedes setoriais dos batalhões de infantaria” e promoveu a criação de equipas mistas de patrulha, que percebem “necessidades únicas da população”.

As patrulhas e os trabalhos promovidos pela militar brasileira resultaram em projetos comunitários para benefício de comunidades vulneráveis, incluindo a instalação de bombas de água perto de aldeias, a iluminação com energia solar e o desenvolvimento de hortas comunitárias.

O secretário-geral da ONU classificou ainda como “inaceitável” que em 2019 só 4% dos agentes de paz sejam mulheres e anunciou que, no próximo mês, a organização vai apresentar uma estratégia para o recrutamento de mulheres para as missões de paz.

 

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