Mitos da pornografia que podem estragar as relações reais

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Nem todos admitem que a veem, mas é uma realidade em muitas relações. Segundo um estudo de 2019, as mulheres portuguesas estão, inclusive, cada vez mais a consumir pornografia. Mas existem alguns pormenores que podem mesmo estragar uma relação.

Se existem pelo menos cinco sinais que mostram que a pornografia pode estar a estragar a sua relação, existem outros tantos mitos que também o podem estar a fazer. Se bem que já foram feitos vários esforços para que as pessoas entendessem que a pornografia e o sexo em casal não é, de todo, a mesma coisa.

“No porno, vê-se tudo muito facilitado e sem complicações” começa por defender a sexóloga Irena Valverde à revista feminina S Moda. E existem vários mitos que acabam por se tornar em frustrações nas relações reais.

Atualmente conseguimos aprender sobre sexo nas mais variadas plataformas: livros, redes sociais, canais de Youtube. Mas nem todas as informações estão corretas. Outra ferramenta que desde cedo se mostra como uma de aprendizagem é mesmo a pornografia. O pior é entender que nem tudo se passa exatamente daquela maneira. E acabamos por nos desiludir.

Para além de os filmes pornográficos terem bastante edição e fingimento, acabaram por espalhar alguns mitos sobre o sexo que é importante desmistificar. A S Moda falou com vários especialistas que juntaram uma lista de 8 mitos importantes de falar. Ora veja abaixo quais:

Há sempre orgasmo

Há algo que é comum em todos os filmes porno: o orgasmo chega sempre. Independentemente do roteiro e da história em que acontece, é garantido que tanto o homem como a mulher vão atingir o pináculo do prazer. Mas, na realidade, nem sempre assim o é.

“Nem todas as relações sexuais incluem ou terminam em orgasmo, mas não é por isso que são menos prazerosas”, insiste a sexóloga Lola González. Segundo a especialista, o sexo não tem sempre a finalidade do clímax, quando se está numa relação. Por vezes, é mais importante o contacto, proximidade e intimidade do que propriamente chegar-se ou não ao prazer monumental.

É fácil ter sexo ocasional

Seja o canalizador que vai arranjar algo, a aluna que pratica relações sexuais com o professor ou o senhor que entrega a pizza e acabou por parar lá em casa… a Pornografia criou a ideia de que é fácil ter sexo casual em qualquer tipo de circunstâncias, hora ou lugar.

“Na pornografia, tudo parece muito fácil e descomplicado”, reflete a sexóloga Irene Valverde. “Na realidade, sabemos que podemos sair numa noite e ter sexo casual, sim, mas com um certo cuidado”, principalmente no sexo com estranhos, defende a especialista. O mesmo acontece com fantasias como sexo a três ou orgias, que parecem estar na ordem do dia.

A libido aumenta por magia

Dificilmente acabamos de conhecer alguém e queremos logo fazer sexo com essa pessoa. Existe todo um processo de sedução e de preliminares para que o desejo surja. A estimulação em mais partes do corpo, antes do ato sexual em si, também é importante – e nem sempre aparece nos filmes pornográficos.

“Embora a lubrificação e a excitação frequentemente apareçam juntas, isso não significa que sejam inseparáveis. São, sim, fenómenos independentes. Nós podemos estar excitadas mas não lubrificadas e podemos estar lubrificadas mas não haver excitação”, diz Estela Buendía, também sexóloga. Em suma, há que caminhar em conjunto num caminho que funciona até se chegar ao ato em si.

Ninguém se cansa durante a penetração

Existem alturas em que a relação sexual dura horas e ainda leva repetição, e outras em que o sexo mais rápido satisfaz igualmente. Além do mais, na maioria das vezes, em atos sexuais mais longos, acabamos por intercalar a penetração com sexo oral, por exemplo, porque o ato da penetração acaba não apenas por nos cansar fisicamente como pode acabar por ser incomodativo passado bastante tempo. Na pornografia, isso parece não importar.

“Devemos lembrar-nos que, como em qualquer outro filme, as cenas são cortadas no porno. Ou seja, se um plano não convence bem o diretor ou se os atores e atrizes simplesmente se cansam, a cena é cortada e depois na montagem parece que esse corte não aconteceu”, diz Irene Valverde. Não vamos tentar imitar algo que nunca foi real, frisa ainda.

Mais tamanho, mais prazer

Nos filmes pornográficos até podemos encontrar bastante variedade quer a nível de idade, etnia ou aparência física. No entanto, há algo que parece nunca mudar: a questão do tamanho do pénis dos homens. E parece que quanto maior, maior também o prazer da protagonista.

Na vida real, se perguntarmos às mulheres sobre esta questão, poucas dirão o mesmo. “Com um tamanho e/ou profundidade de penetração maior, às vezes o que conseguimos é um maior desconforto ou dor”, diz Lola González, sexóloga. “A vagina só tem sensibilidade no primeiro terço, por isso é irrelevante que a penetração realizada seja mais ou menos profunda e o pénis mais ou menos largo. Na verdade, no caso de pénis muito grandes, as mulheres podem sentir o “latejar” na pélvis, mas isso não significa que seja satisfatório “.

A violência excita

Há quem, de facto, gosto de atos sexuais mais violentos, mas isso não quer dizer que seja uma realidade para todas as pessoas. A pornografia vulgarizou muito que o ato sexual e a violência deveriam andar de mãos dadas, especialmente nos homens sob as mulheres. “Dentro do nosso imaginário de fantasias eróticas, pode ser agradável pensar num encontro onde o sexo é violento, como ser puxada pelos cabelos ou jogada na cama. Agora, fazer é outra questão”, reflete Irene Valverde.

Ou seja, uma coisa é fantasia e outra é realidade, defende a especialista. Seja como for, qualquer jogo sexual deve ser discutido e consensual, para que seja realmente um bom momento para ambos. “Se pararmos para pensar, é bastante lógico que não façamos algo com outra pessoa sem o seu consentimento, e o mesmo acontece no sexo.” Portanto, antes de usar chicotes ou outros brinquedos idênticos, fale com o seu parceiro ou parceira.

Todas as mulheres gritam no sexo

A maioria das pessoas, homens e mulheres, tende a gostar de dar ou ouvir gemidos do seu parceiro. Mas dos gemidos aos gritos vai um grande passo. Os gritos nos filmes pornográficos tornaram-se quase como um clichê – não falham. Nas relações reais, em todos os orgasmos são autênticos tsunamis de prazer: alguns são mais suaves e tranquilos, não deixando de ser prazerosos por isso. Portanto, desengane-se quem pensa que o sexo é sempre um ato de gritos e orgasmos alucinantes a todo o tempo.

O sexo anal não precisa de preparação

Ora outro mito bastante comum e que se infiltrou no imaginário de muitas pessoas. Aliás, a pornografia é uma das grandes responsáveis pelo fetiche ou imaginação constante do sexo anal. Porém, na vida real não acontece como os filmes nos mostram.

“O anus não é como a vagina – não se adapta como ela e precisa de ser não só dilatado como também lubrificado (não lubrifica sozinho). Se o sexo assim for selvagem e não houver preparação, podemos mesmo por acabar a ficar com feridas”, alerta Irene Valverde.

Portanto, “o ideal é erotizar o processo anterior à penetração anal”, primeiro estimulando com o dedo, utilizando um lubrificante especial para a região, experimentando um brinquedo para expandir e garantindo a todo momento que ambos estejamos confortáveis ​​antes de dar um passo em falso. “As atrizes porno fazem o mesmo: litros de lubrificante e preparação prévia. O que acontece é que isso não é visto na câmera”, avisa.