A homenagem ao Zé Pedro foi bonita mas há mais para contar

O melhor do segundo dia de ModaLisboa, que termina este domingo no Pavilhão Carlos Lopes, foram os vinis de Luís Carvalho, os casacos de Gonçalo Peixoto e a homenagem ao Zé Pedro, mas há muito mais para assinalar.

O sábado da ModaLisboa começou na Estufa Fria com o desfile de Awaytomars que apresentaram uma coleção repleta de cor, sobreposições e assimetrias. Os padrões voltaram a ser um parte fundamental da coleção e elementos como os olhos foram recuperados da coleção de verão. É de notar ainda a parceria da insígnia com a Melissa, marca brasileira de calçado.

O segundo desfile do dia marcou o regresso ao Pavilhão Carlos Lopes, onde decorreram os restantes desfiles. O primeiro a pisar a passerelle principal foi Patrick de Pádua, que começou a sua carreira desenhando apenas vestuário masculino. Apesar de ter feito algumas criações de mulher de forma tímida noutras estações, foi para o outono-inverno 2018/19 que também se assumiu como designer feminino com uma coleção com muitas criações para mulher. Esta foi a grande novidade do criador, apesar dos seus designs masculinos se manterem bastante mais fortes que os femininos. Destaque para os bombers masculinos, todos muito bem confecionados. Esta coleção foi buscar muitos elementos à coleção de outono-inverno 16/17 do criador, cujo tema era a caça. São visíveis as semelhanças no uso das peles, nos rabos de raposa pendurados e nos casacos inspirados nas capas.

Imauve e Gonçalo Peixoto desfilaram juntos, um depois do outro, com duas coleções pequenas e bastante diferentes. A Imauve inspirou-se no verão para criar roupa de inverno, apropriando-se das cores da estação quente. Simples e feminina, esta coleção apostou nas riscas e nos folhos, para dar um twist às silhuetas muito clássicas.

Gonçalo Peixoto estreou-se da melhor forma na ModaLisboa, com uma coleção muito interessante inspirada nas Auroras Boreais. Os metalizados marcaram o desfile, onde os casacos foram os reis, todos de inspiração desportiva mas absolutamente adaptáveis ao dia a dia. O designer criou ainda conjuntos de malha de cores fortes e que assentavam muito bem nas modelos. O outono-inverno 2018/19 marca uma grande mudança em relação ao trabalho desenvolvido anteriormente pelo designer, nas coleções passadas Gonçalo tinha explorado bastante a reinvenção dos clássicos através de linhas depuradas, enquanto nesta coleção aposta em volumes e silhuetas diferentes, mostrando um amadurecimento criativo.

O desfile de Valentim Quaresma começou com um poema de Gilda Nunes Barata. A coleção inspirou-se na passagem do tempo sem nostalgia e nas lembranças sem saudade. Nas criações estes sentimentos expressaram-se através de três momentos diferentes: as peças douradas compostas por pequenos paus, as peças azuis com muitas pedras que lembram cristais e as peças compostas de pedras douradas e cinza.

Ricardo Preto levou um inverno disfarçado de verão para a passerelle, o desfile começou pelo branco e lilás, evoluindo rapidamente para o laranja e azul celeste, só depois as cores mais invernosas tiveram licença para entrar. A coleção fez-se de silhuetas extremamente femininas, com opções para mulheres de todas as idades e o mais variados gostos. Os tecidos escolhidos são leves na sua maioria, o que permitiu ao designer criar roupa com bastante movimento. Destaque para os padrões e para os vestidos compridos.

Luís Carvalho apresentou a coleção mais interessante da noite, com roupa inspirada na arquitetura das grande cidades. Reconhecemos este ponto de partida na linhas direitas e longas da coleção, mas também nas diagonais, criadas por alguns drapeados, e nos padrões geométricos. De destacar nesta coleção é a forma brilhante como o designer misturou os materiais, sobretudo nas peças de cabedal e vinil, e os excelentes acabamentos das peças. Desta vez Luís Carvalho escolheu tecidos mais estruturados do que aqueles a que nos habituou e apostou em materiais diferentes como o jacquard 3D e o vinil. Dignos de nota são também os blazers masculinos com um design muito interessante.

O desfile, que encerrou o dia, começou com os caretos de Trás-os-Montes e acabou com uma homenagem ao Zé Pedro do Xutos & Pontapés. O homem por detrás de tamanho acontecimento só podia ser Nuno Gama. Novamente, mais do que a um desfile assistimos a um espetáculo, brindado com evocações à cultura portuguesa. Nesta coleção o designer reinventou as capas de honra de Miranda do Douro, mas houve ainda espaço para os seus clássicos casacos. Apesar disso, esta é uma coleção mais informal e para o dia-a-dia de um homem que não tem de andar sempre de fato para trabalhar. No desfile surgiram ainda duas t-shirts onde se podia ler #nãoadotoestesilêncio , o hashtag usado na campanha contra as adoções ilegais da IURD, lançada a janeiro deste ano.

 

Aleksandar Protic foi o melhor do primeiro dia de ModaLisboa