ModaLisboa: o adeus street style, coleções e desfiles mais curtos e menos manequins

Moda Lisboa LUZ 2017
[Fotografia: Nuno Pinto Fernandes/ Global Imagens]

Agora é que é. Com a ModaLisboa a tornar-se absolutamente digital devido à pandemia provocada pelo novo coronavaírus, as célebres imagens de street style estão mesmo a caminho da rutura? Os modelos mais ousados e originais, os coordenados mais insólitos do que havia no guarda-roupa de quem assistia ao certame maior de moda da capital portuguesa não vão sair, este entre 10 e 14 de março, do armário de casa porque não haverá público presencial.

Com o tema a evocar a ‘Comunidade’, ela agora é integralmente digital e, seguramente, a partir de casa. Vai ser tempo de ‘home style’? “Os designers que vestiam figuras públicas para assistirem aos seus desfiles podem continuar a fazê-lo, mas agora de forma diferente”, conta Luís Pereira, diretor de casting da ModaLisboa. E especifica: “A ideia é levar os coordenados a casa delas e, quando começar o desfile, elas surgem a assistir. Podem mostrar-se a prepararem-se para o momento ou a maquilharem-se, que poderão ser as próprias figuras públicas a fazer.”

Esta não será, porém, a única revolução anunciada numa moda que se veste agora de tendências mais restritivas devido à covid-19. “As coleções deverão ser mais reduzidas e mais focadas porque têm de ser apresentadas em vídeo e não presencialmente”, conta o responsável, admitindo uma redução, em casos limite, na ordem dos 70% nos coordenados apresentados. Se antes eram 20 ou 40 propostas, consoante o designer e o trabalho feminino e masculino, agora esperam-se propostas mais delineadas e concentradas. “Nas redes sociais, o público quer vídeos mais curtos, com propostas diferentes, é preciso ser rápido e eficaz a transmitir a história, o cenário, a música e, claro, as propostas”, alerta Luís Pereira.

ModaLisboa Bastidores
[Fotografia: Nuno Pinto Fernandes/ Global Imagens]

E se os vídeos estão mais curtos, o mais provável é o número de câmaras… aumentar. “Será necessário criar mais planos do desfile para criar mais dinamismo, para mostrar mais detalhes das coleções, que apenas dispõem desta forma para se apresentar”, refere o responsável.

Sem público no cenário e sem apresentações presenciais, o número de modelos escolhidos para uma redução digital está a ser menor e, revela o diretor, deve estar na quebra dos 50%. “Todos têm de ser testados e, com desfiles mais curtos, o número de modelos será menor por dia”, revela, podendo não ser os mesmos de um dia para o outro, mas assegurando mais trabalho num só dia a quem está presente no certame.

A 56.ª edição da ModaLisboa vai ser “exclusivamente digital” e, à semelhança da anterior, não terá estação associada. “Estamos a trabalhar numa semana de Moda com uma identidade indelével, transmitida em multiformato, nas nossas plataformas renovadas: o ‘site’, a ‘app mobile’ e a ‘app’ TV para clientes Meo”, referiu a Associação ModaLisboa em comunicado.

A edição mais recente do certame, em outubro de 2020, já tinha sido adaptada à realidade imposta pela pandemia da covid-19: com uma redução de público na ordem dos 80%, já mais digital, com as atividades a decorrerem todas ao ar livre, no Parque Eduardo VII, e com bastidores mais amplos. Em março do ano passado, aquando da confirmação dos primeiros casos de covid-19 em Portugal, a ModaLisboa tinha sido pensada “com uma carga de protocolo de saúde muito grande em cima”, como disse na altura à agência Lusa a diretora da iniciativa, Eduarda Abbondanza. Nas antigas Oficinas Gerais de Fardamento e Equipamento, no Campo de Santa Clara, a organização criou uma sala de isolamento e foram espalhados pelo recinto vários frascos de ‘álcool gel’.

A primeira edição da ModaLisboa aconteceu em abril de 1991 no Teatro São Luiz. Nessa altura, 13 criadores apresentaram coleções para o inverno de 1991/92.

Ao longo destes 30 anos, o evento realizou-se mos mais variados espaços da capital, do Mercado da Ribeira ao Pátio da Galé, passando pelo Pavilhão Carlos Lopes, a Estufa Fria ou o Museu da Cidade, e chegou a realizar-se em Cascais e, no mesmo concelho, no Estoril.