Estes modelos masculinos foram vítimas de assédio sexual

O jornal The New York Times recolheu testemunhos de modelos que dizem ter sofrido abuso de poder e assédio sexual por parte de dois fotógrafos de moda.

Os fotógrafos Mario Testino e Bruce Weber, referências na indústria da moda, são acusados de assédio sexual por vários modelos e ex-modelos que relataram as suas experiências ao jornal The New York Times.

Num artigo publicado este sábado, o jornal refere que “15 atuais e ex-modelos masculinos que trabalharam com Bruce Weber (…) descreveram um padrão do que dizem ser nudez desnecessária e comportamento sexual coercivo, muitas vezes durante sessões fotográficas”. Os homens, escreve o jornal, “recordaram, com uma consistência notável, sessões privadas com Bruce Weber, nas quais ele lhes pediu que se despissem e os conduziu em exercícios de respiração e ‘energia'”.

No início de dezembro, Bruce Weber já tinha sido processado por agressão sexual pelo modelo Jason Boyce. Em relação a Mario Testino, o The New York Times reuniu 13 testemunhos, de modelos mas também de assistentes do fotógrafo. Dois manequins queixaram-se do comportamento de Mario Testino nas sessões fotográficas de campanhas da Gucci, na década de 1990.

“Se querias trabalhar com o Mario [Testino], precisavas de fazer uma sessão nu no Chateau Marmon [hotel em Los Angeles, nos Estados Unidos]. Todos os agentes sabiam que isto era o que decidia o fim ou avanço da tua carreira”, contou Jason Fedele.

Antigos assistentes de Mario Testino contaram ao jornal que o fotógrafo “tinha um padrão de contratar homens jovens, geralmente heterossexuais, e de sujeitá-los a avanços mais agressivos. Representantes dos dois fotógrafos disseram-se “surpreendidos e consternados” com as acusações.

“Estou completamente chocado e triste com as acusações indignas feitas contra mim, que nego em absoluto”, afirmou o fotógrafo, citado num comunicado do seu advogado.

O escritório de advogados que representa Mario Testino “contestou o carácter e a credibilidade dos queixosos”, referindo que falou com vários “ex-funcionários que se mostraram chocados com as acusações e que não as confirmam”.

Em novembro, a ‘top model’ portuguesa Sara Sampaio instou os modelos a denunciarem situações de abuso, salientando o poder que as redes sociais deram a estes profissionais e assumindo ter passado por situações desconfortáveis.

Na altura, no âmbito de uma conferência na Web Summit, em Lisboa, defendeu a necessidade de “responsabilizar as pessoas pelas suas ações e não fingir que não aconteceu”, fazendo referência ao caso do fotógrafo norte-americano Terry Richardson.

“Toda a gente sabe que acontece e ninguém faz nada, toda a gente sabia do Terry Richardson e ninguém fez nada e agora usam-no como bode expiatório, é uma grande hipocrisia”, acusou.

Ao longo dos anos tem havido rumores sobre o comportamento de Terry Richardson em sessões fotográficas, tendo recentemente algumas publicações e empresas de moda anunciado que iriam deixar de trabalhar com ele, pouco tempo depois de várias atrizes terem denunciado terem sido abusadas sexualmente pelo produtor norte-americano Harvey Weinstein.

Além de caber aos manequins denunciar os abusos, Sara Sampaio considera que há mais envolvidos que podem ajudar a parar as situações, caso das agências de modelos, “que não deviam enviar modelos para sessões com um fotógrafo que se sabe que é abusador”, e as revistas, “que não deviam trabalhar com ele”.

Condé Nast com medidas anti-assédio

O maior grupo editorial no mundo da moda, a Condé Nast Internacional, detentora de títulos como a Vogue e a Vanity Fair já se manifestou publicamente. Num comunicado conjunto da diretora da publicação e do CEO do grupo, Bob Sauerberg, pode ler-se:

“Estamos profundamente perturbados por estas acusações e levamo-las muito a sério. À luz destas alegações, não vamos encomendar mais nenhum trabalho a Bruce Weber e a Mario Testino no futuro próximo.”

O grupo Conde Nast já anunciou novas regras para proteger os manequins do assédio sexual. As novas regras incluem não contratar manequins com menos de 18 anos, proibir alcool nas sessões fotográficas e não autorizar que os modelos estejam sozinhos com os fotógrafos, relata o New York Times.

 

CM com Lusa