Mon petit foudoir

Não, não é gralha. Um petit foudoir, como boudoir, mas mais evidente para quem fala português. O que é? Um quarto originalmente de uso privado das senhoras, que o Marquês de Sade, no século XVIII, imortalizou como quarto dos prazeres da carne.

Aqui também se pode e deve fumar. Aqui deve-se fazer tudo. Este é o recreio das coisas proibidas que os adultos gostam de fazer às escondidas. E num canto da casa que não serve para nada. Ou é isto ou é para guardar sapatos.

Este artigo é especialmente útil para quem vive em centros históricos barato, onde a traça da época deixava um sem número de recantos inaproveitáveis para a decoração contemporânea. Este esquisso é inspirado numa minha casa de juventude, em Alfama, onde tínhamos um recanto assim. Mas querendo é possível fazê-lo em qualquer bairro ou tipologia. Por quase nada.


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A primeira peça a ter, que ditará todo o microespaço, é um bom, alto e fofo almofadão para dois. Ou para três… Não compre, não há nada assim no mercado para o seu foudoir ideal; tem que ser feito por medida em função do espaço disponível e não custa nada fazê-lo sozinha. Se precisar mesmo de ajuda mande-nos um email.

Seja o topo de um corredor, uma pequena varanda fechada ou o vão de uma escada, como o da ilustração, tente encontrar espaço para uma pequena estante, onde colocar livros e alguma decoração, e para um pequeno cacifo fechado com portas, para esconder os seus brinquedos.

Nas paredes use posters, é a melhor decoração automática para paredes neste layout (lembra-se de quando tinha 15 anos? É igual). Para além de baratos e de uso fácil, sublinham a grosso a temática do seu playground. Se quiser soltar a decoradora que há em si, ponha papel de parede, de padrão enorme e detalhado, como um quadro, o espaço é pequeno e, apesar de parecer um contrassenso, ganhará imenso com paredes pormenorizadas para onde olhar, enquanto fumaça.

Use velas. Além de anularem odores, nada substitui a sua luz subtil e tremeluzente, ideal para o desanuvio. Tanto em castiçais como em lanternas aquecem um espaço pequeno enquanto o diabo esfrega um olho e nós enrolamos um cigarro.

Tem que ter um tapete, o maior possível. Para além de tornar todo o espaço ‘deitável’, a sua simples vista aconchega e conforta. Nada de muito caro, se tudo correr bem, em pouco tempo estará cheio de nódoas de vinho e queimadelas de morrões. Ou alcatifa a metro, há já no mercado coisas bem giras.

Tenha doces bonitos na estante. Seja qual for o pecado cometido, a seguir tem-se sempre fome e apetece açúcar. Macarons numa boleira, pétalas de violeta cristalizadas ou mesmo Oreos, escolha o seu veneno pós-veneno, mas apresente-o como um quadro, belo e bom de comer.


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Feche este pequeno espaço com um reposteiro. Não cortina nem cortinado, um reposteiro mesmo. O meu foudoir definitivo terá um em cabedal forrado de tapeçaria, mas isso só quando tiver palacete a acompanhar. Isola o som, a visão e tudo aquilo que a prazenteira queira ocultar, decorando ao mesmo tempo. Ai-mas-cabedal-é-caro, diz. Não faz mal, para já podemos usar sintético, é mais barato e de mais fácil manutenção.

Mesmo que não use este espaço como recreio de adultos (o que lhe digo já que será um desperdício, volte então a pôr lá os sapatos), servirá como uma espécie de quebra-gelo numa conversa com visitas, enquanto recebe; é quase como um Gabinete de Curiosidades dos vitorianos contemporâneos, que têm muito para dizer mas pouca lata para o fazer.