Apoio a atletas após licença de parto vai ser proposto no Orçamento do Estado

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[Fotografia: Pexels/Philip Ackermann]

Foi uma das propostas do Grupo de Trabalho para a Igualdade de Género no Desporto avançada em fevereiro deste ano: subvenção a 100% para apoiar as atletas após o fim da licença de maternidade e durante o intervalo de preparação para regressarem ao alto rendimento. Uma recomendação que previa o apoio por um tempo que vai desde os 120 dias de licença de maternidade até ao “período razoável” em que voltem a atingir o seu nível.

Nesta manhã de segunda-feira, 22 de maio, na conferência Bola Branca dedicada ao Talento, Ética e Igualdade, o secretário de Estado da Juventude e do Desporto, João Paulo Correia, avançou que a proposta é “uma das medidas a anunciar em 2023 na altura do Orçamento do Estado”. Porém, o cálculo dos valores em causa e a duração do apoio que estão em cima da mesa não foram até ao momento revelados, estando a Delas.pt a aguardar resposta sobre dados concretos nesta matéria por parte da secretaria de Estado.

Leila Marques, vice-presidente do Comité Paralímpico e coordenadora do Grupo de Trabalho para a Igualdade de Género no Desporto que fez esta e outras recomendações, “tem esperança” que as medidas sobre a maternidade cheguem em breve.

Leila Marques ex-atleta de natação paralímpica e agora presidente da Federação Portuguesa de Desporto com pessoas com deficiência [Fotografia: Arquivo Global Imagens]
“Tem de haver um enquadramento para que as grávidas que não possam competir não fiquem na zona cinzenta”, afirmou na conferência promovida pela Rádio Renascença, pedindo “tranquilidade” e “segurança” durante a gestação, os “120 dias após o parto” e, posteriormente “por tempo razoável para que a atleta que foi mãe volte ao alto rendimento”.

“As necessidades no pós-parto têm de ser revistas, regulamentadas e não têm de ser iguais para o que está feito no desporto masculino”, referiu a diretora da Federação Portuguesa para o futebol feminino, Mónica Jorge, que alertou também para o adiamento da maternidade e que muitas vezes é equacionado pelas atletas.

Mónica Jorge, diretora do Futebol Feminino da Federação Portuguesa de Futebol [Fotografia: Álvaro Isidoro / Global Imagens]

Susana Feitor: “Confrontei-me com o facto de não ser fértil”

Susana Feitor acrescentou, neste ponto, detalhes do seu caso pessoal. A antiga marchadora e recém-nomeada presidente para a Fundação do Desporto referiu, na mesma conferência, o dilema. “Quando era adolescente dizia que queria chegar aos cinco filhos e, afinal de contas, confrontei-me com o facto de não ser fértil e de ter deixado que a marcha atlética interferisse biologicamente em mim. Nunca surgiu a oportunidade no caminho e não sei se me iria confrontar com essa decisão: se iria adiar ou aceitar”.

A atleta de marcha, Susana Feitor [Fotografia: Henriques da Cunha / Global Imagens]
Por isso, fica claro para Feitor que o tema “é muito delicado” para as atletas e que “falta ainda muito caminho por fazer”. “Para muitas das mães atletas, o retorno não é fácil, a ânsia de querer voltar o mais rápido possível por vezes pode provocar impactos a nível corporal. Conhecemos várias delas que, ao fim de algum tempo, voltaram, conseguiram integrar e tiveram que se debater com lesões ósseas e naturais decorrentes de uma gravidez”.

Por isso, Susana Feitor lembrou que “é preciso avançar um pouco nesta temática para que as atletas possam regressar em segurança“. “Há aqui timings que devem ser respeitados, problemas que decorrem de gravidez, gravidezes de risco, e algumas atletas têm de parar. Há nuances que têm de ser ponderadas”, alertou.

Campanha pela liderança feminina no secundário em 2023/24

No próximo ano escolar irá avançar, pelo Instituto Português do Desporto e da Juventude, uma campanha fortíssima para jovens do ensino secundário: Tu podes ser presidente do teu clube!” O secretário de Estado que tutela a pasta revelou que a resposta à igualdade no desporto só chegará quando a pergunta ‘quanto tempo falta para o clube da preferência ser presidido por uma mulher?” for respondida na prática e as mulheres chegarem à gestão institucional, organizacional e federativa.

João Paulo Correia, secretário de Estado da Juventude e do Desporto [Fotografia: Reinaldo Rodrigues/Global Imagens]
“Falta muito tempo para lá chegar, é preciso investir nas novas gerações (…) É preciso induzir esta jovem geração de que pode assumir as grandes lideranças das organizações desportivas e clubes de preferência”, afirmou João Paulo Correia.